Ruim para todos

Coronavírus em BH: mais de 80% dos comerciantes já sofrem prejuízos grandes

Levantamento da CDL mostra que setor pode perder R$ 2,09 bilhões só em março com medidas de restrição impostas para controlar o avanço da doença

Por Lucas Morais
Publicado em 24 de março de 2020 | 16:47
 
 
 
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Devido às medidas de restrição da circulação de pessoas e fechamento da maior parte do comércio para conter o avanço do coronavírus, mais de 80% dos empresários do setor na capital mineira já sofrem prejuízos. É o que constatou uma pesquisa divulgada hoje pela Câmara dos Dirigentes Lojistas de Belo Horizonte (CDL/BH). 

Segundo o levantamento, a expectativa é de uma perda de R$ 2,09 bilhões em receita só no mês de março. "A maioria dos estabelecimentos é de micro e pequenas empresas, então há essa preocupação muito grande com a perda de faturamento e como será retomada lá na frente",  explica o presidente da entidade, Marcelo de Souza e Silva.

Entre os segmentos mais impactos, estão bares e restaurantes (81,6% do total), vestuário e calçados (76,5%), além das papelarias (63,8%), lojas de eletrodomésticos (60,9%) e produtos alimentícios (55,3%). “O percentual médio de prejuízo nas vendas pode chegar a 65%”, acrescenta o dirigente. Entre os empresários, 99% prevêem impactos financeiros, que variam entre muito alto (63,4%) e baixo (4,4%).

Temor de demissões

Para o presidente da Associação Brasileira de Bares e Restaurantes (Abrasel) em Minas Gerais, Ricardo Rodrigues, caso nenhuma medida não seja tomada pelo governo federal, mais de 50 mil pessoas só na região metropolitana de Belo Horizonte correm o risco de perder o emprego – o índice representa 40% de todos os trabalhadores do setor.

"Se não tiver um auxílio com relação aos salários, vamos ter um desemprego em massa. O nosso segmento não tem estrutura de grandes empresas que conseguem ficar 30 dias sem faturamento. Trabalhos com capital de giro que depende muito do movimento constante para se sustentar", lembra.

O presidente da CDL/BH afirma que já há demissões em outros setores do comércio e serviços devido ao coronavírus. "Ainda não temos esse montante, mas as empresas estão preocupadas em como vão manter os demais funcionários por não ter caixa que suporta despesas contínuas durante 15 dias", alerta.
 
Prejuízo diário

Os dados mostram ainda que, em média, o setor em Belo Horizonte fatura R$ 6.950,62 por dia. Devido à pandemia, a previsão é de um prejuízo diário de R$ 4.585,59. Sócio administrador do bar Redentor, Daniel Ribeiro disse que já trabalha com um novo planejamento financeiro para os próximos três meses. "Estamos fechados desde a sexta-feira. Pensamos em trabalhar com delivery, mas como não estamos acostumados a esse tipo de trabalho, preferimos não fazer. Por isso, colocamos todos os funcionários em férias coletivas por 15 dias. Se não gera faturamento, não tem como pagar as despesas", reclama.

De acordo com o presidente da Abrasel, Ricardo Rodrigues, muitos estabelecimentos não conseguiram adotar o sistema de entrega para amenizar o prejuízo. "Quem já tinha o delivery consegue algum faturamento, outros tentaram implementar e não conseguiram", conta.  Rodrigues afirma ainda que se não houver um programa de recuperação econômica pelo poder público, o impacto na economia pode ser muito maior.

Já o presidente do Sindicato e Associação Mineira da Indústria de Panificação (Amipão) no Estado, Vinícius Dantas, revela que só nesta semana a redução das vendas nas padarias da região chegou a 40%. "As pessoas passaram a comprar só o necessário, que é o pão francês e o leite. O que dava o melhor resultado, agora é pouco vendido", explica.

Apesar do setor não ser afetado pelas medidas de restrição, a preocupação também é grande. "Todos se perguntam como vai ficar o recolhimento de impostos, pagamento de aluguel e a questão salarial. Há também uma dificuldade com os próprios fornecedores em razão dos prazos", finaliza.

Redução do faturamento é o que mais preocupa

Entre as principais temores dos empresários, estão a queda no volume de vendas para (79,4% dos entrevistados), redução no faturamento (68,8%), redução do fluxo de clientes (67,3%) e falta de funcionário (24,7%). Para Marcelo Souza e Silva, todos os segmentos devem sofrer retração econômica nos próximos seis meses.

"Estamos orientando todos a renegociarem dívidas, principalmente as mais pesadas. Um exemplo é tentar renegociar o aluguel do mês e parcelar o valor. Em relação aos fornecedores, é importante diluir o prazo de pagamento em um período mais longo. Sobre os funcionários, conversar e mostrar a situação", aconselha.

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