Quem está com sintomas similares aos da contaminação por coronavírus e desconfia que contraiu a doença pode não conseguir fazer um exame para confirmar a situação. Isso porque, hoje, a Secretaria Municipal de Saúde de Belo Horizonte realiza o exame apenas para pessoas que se enquadram nas diretrizes do Ministério da Saúde (pessoas com febre e sintomas respiratórias que viajaram ao exterior, tiveram contato com quem viajou ou com pessoas comprovadamente contaminada).

Pacientes com sintomas e que retornaram dos Estados da Bahia, do Rio de Janeiro e de São Paulo, onde há transmissão comunitária do vírus, também podem ser testados.

De acordo com André Rezende, gerente da Rede Complementar da capital, a tendência é realizar cada vez menos testes, especialmente se BH começar a ter casos de transmissão comunitária. Nesse cenário e com a chegada da temporada de gripes, todos os pacientes com sintomas similares ao do coronavírus tendem a ter recomendação de se isolar. “Vamos fazer isolamento social até de pacientes com gripe comum e não fazer exames”, afirma Rezende.

Na perspectiva da infectologista e professora da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), Raquel Stucchi, não realizar exames para todos os casos com sintomas que lembram o Covid-19 leva a uma imprecisão dos dados. “Haverá subnotificações, uma vez que não faremos exames dos casos leves mesmo que sejam considerados suspeitos. No mundo ideal, deveria colher de todo mundo? Deveria, mas não posso criticar o que está sendo feito, porque a gente sabe que não há teste para todo mundo. Se eu fizer para quem tem sintomas leves, não vou ter para o que está mais grave, quando precisar”.

O infectologista Estevão Urbano, membro do recém-criado Comitê de Enfrentamento à Epidemia do Covid-19 de Belo Horizonte, concorda que o cenário perfeito incluiria mais testes. “Isso acontece com a maioria das epidemias. Não é ideal com o coronavírus, porque não entendemos a dinâmica dele e, quando mais dados reais, melhor”. 

Em entrevista, o secretário de Vigilância em Saúde, Wanderson Oliveira, reconheceu que, pelo menos na rede privada, não há insumos o bastante para realização de exames para todos os pacientes com sintomas. Ontem, a Organização Mundial da Saúde (OMS) recomendou que todos os países façam o máximo possível de testes, medida que já é adotada por países como a Coreia do Sul (até a última semana, haviam sido mais de 220 mil testes). 

No Rio de Janeiro e em São Paulo, cidades onde a transmissão comunitário é realidade, apenas os casos graves são monitorados agora.