A Agência Nacional de Vigilância Sanitária autorizou o registro de oito testes no Brasil para detectar coronavírus. Quatro, das seis empresas com autorização para disponibilizar os exames, são mineiras e indicam que, em um primeiro momento, devem direcionar aproximadamente 140 mil testes ao Estado. 

Uma delas é a Biocon Diagnósticos, sediada no bairro Carlos Prates, em Belo Horizonte. Segundo Marcelo Genelhu, gerente técnico da empresa, a princípio devem ser adquiridos 200 mil testes da chinesa Guangzhou Wondfo Biotech, uma das fornecedoras da testagem na China, o epicentro inicial da pandemia. 

“O prazo para esses 200 mil testes estarem disponíveis no mercado é em torno de três semanas. Acreditamos que o pico de casos será de três a quatro semanas, então o nosso material vai chegar em cima dele”, diz Giuliano Araújo, diretor executivo da Biocon. 

Segundo ele, 70% dos testes de coronavírus importados devem ser disponibilizados a Minas Gerais. A empresa despendeu cerca de R$ 2 milhões na compra dos produtos e acredita que o consumidor final vá pagar cerca de R$ 90 a R$ 100 reais pela aplicação. 

Outra mineira que deve disponibilizar testes nas próximas semanas é a Eco Diagnóstica, com sede no Vale do Sereno, em Nova Lima. Ao contrário da Biocon, a produção dos testes é nacional e realizada a partir de tecnologia importada da Coreia do Sul. Os testes serão produzidos em Corinto, município no centro do Estado, conforme detalha Vinícius Pereira, responsável técnico e um dos sócios da empresa. 

“Temos capacidade para fazer 40 mil testes por dia e vamos começar a primeira parte na semana que vem. Eles vão para o Brasil inteiro, a maioria para São Paulo. Em Minas, acredito que sejam uns 4 mil testes, a princípio”, diz Pereira, lembrando que São Paulo é, hoje, o Estado com mais casos no país. A esttimativa é que o consumidor final desembolse entre R$ 200 e R$ 300 reais pelo exame.

De acordo com o Vinícius, o Ministério da Saúde entrou em contato com a empresa para que o órgão verifique a eficácia dos testes e possa adquiri-los. O ministério não confirma, mas informa que abrirá um chamamento público para empresas que forneçam matéria prima para produção de testes de Covid-19. 

A pasta também diz ter encomendado novos testes à Fiocruz, e que a previsão é de entrega de mais 40 mil kits para análise laboratorial do vírus, além de 30 mil unidades disponibilizadas inicialmente pela Bio-Manguinhos.

Outra empresa mineira que ganhou autorização para importar testes é a Celer Biotecnologia, liderada por Denilson Rodrigues. De acordo com ele, a empresa tem capacidade de importar 1 milhão de testes da China, e 500 mil já foram encomendados.

Nenhum distribuidor em Minas Gerais fez pedidos ainda, mas a empresa tem encomendas nas regiões Centro-Oeste, Nordeste e Sul do país, além do Rio de Janeiro. A expectativa de Rodrigues é que o Ministério da Saúde também adquira exames com a empresa. Ele diz que é cedo para afirmar com certeza, mas que o paciente deve ter que pagar por volta de R$ 230 pelo teste de coronavírus. 

Rodrigues teme, ainda, que a logística de importação, em meio à alta demanda global e às mudanças de fronteira pelo mundo impeçam que os kits cheguem rapidamente. Ele estima que possa demorar 20 dias. 

A importadora QR Consulting, com sede no bairro Vila da Serra, em Nova Lima, vai importar testes dos Estados Unidos, mas a equipe informa que não há previsão de demanda no mercado brasileiro. 

Testes de coronavírus são diferentes entre si

As opções apresentadas pelas empresas com registro na Anvisa têm diferenças entre si. A tecnologia chinesa oferecida pela Biocon, por exemplo, é um teste sorológico (que utiliza amostra de sangue do paciente). Ele detecta a presença de anticorpos contra o vírus no organismo e, explica Marcelo Genelhu, gerente técnico da empresa, tem um resultado em 15 minutos. Um resultado rápido, declara a empresa, oferece uma forma de triagem dos pacientes.  

Já os testes da Eco Diagnóstica detectam a presença do próprio vírus no corpo a partir de sangue, plasma ou soro, em uma versão, e com amostras de material de nariz e da garganta, em outra.

O responsável técnico pela iniciativa, Vinícius Pereira, afirma que os resultados ficam prontos em 30 minutos — mas recomenda que seja verificado em um teste molecular, o mais comumente aplicado para a doença hoje. Os testes moleculares, também conhecidos como RT-PCR, detectam material genético do vírus nas amostras, e o resultado pode demorar alguns dias. 

Como O TEMPO adiantou nos últimos dias, a tendência é que cada vez menos testes sejam realizados, em uma avaliação inicial de André Rezende, gerente da Rede Complementar de Belo Horizonte. Mas outra estratégia é seguir os passos da Coreia do Sul, que testou, pelo menos 222 pessoas (em um universo de cerca de 51 milhões de habitantes).

“Do ponto de vista de profissional da saúde, acho que a testagem tem que ser do maior de número pessoas possível, mas dentro do grupo de risco e de pessoas com sintoma”, afirma Pereira, da Eco Diagnóstica.