Com um aumento de 1.800% no número de casos confirmados de coronavírus nos últimos sete dias, os hospitais públicos de Minas Gerais enfrentam dificuldades para conseguir insumos básicos. Entre os principais em falta estão Equipamentos de Proteção Individual (EPIs), como máscaras, luvas e aventais, além de álcool em gel.
No Hospital Sofia Feldman, no bairro Tupi, região Norte de Belo Horizonte, o consumo dos materiais teve um aumento médio de 23%. "O estoque está muito baixo, e a previsão é que acabe em no máximo sete dias. Não consigo comprar mais, os que estavam no mercado foram recolhidos pelo Estado. Com a máscara, a situação é mais séria ainda", conta o diretor financeiro Ramon Duarte.
Principal maternidade pública mineira, a instituição abriga gestantes e recém-nascidos, que fazem parte do grupo de risco em relação ao coronavírus. "O governo pediu para mandar uma planilha com os principais itens em falta e a estimativa de uso para os próximos dias, o que difícil, já que podemos ter um surto ainda maior", teme.
Responsável por atender mais de 50 municípios no entorno de Divinópolis, na região Centro-Oeste de Minas, o Hospital São João de Deus passou a produzir artesanalmente máscaras básicas e aventais para utilização dos médicos, técnicos e enfermeiros. "O que muda é apenas a aparência, mas a segurança é a mesma. Também conseguimos produzir álcool 70º, que supre o produto em gel. Agora há equipamentos como máscaras filtrantes e luvas que não conseguimos fabricar, o que deixa o problema mais complicado", explica o diretor administrativo do hospital, André Waller.
A cidade, que ainda não registra transmissão comunitária, foi a primeira no Estado a confirmar um caso de coronavírus – o morador contraiu a doença no exterior. "Atendemos nesta semana pelo menos 70 casos suspeitos, com nenhum confirmado, e outros oito seguem sendo investigados", resume.
Preços nas alturas
De acordo com um levantamento da Federação das Santas Casas e Hospitais Filantrópicos de Minas Gerais (Federassantas), desde o início do surto de coronavírus no Brasil, os preços dos insumos de proteção para médicos e outros profissionais tiveram um aumento de até 2.650% entre fornecedores.
Com sérias dificuldades financeiras desde 2018, o dirigente do Sofia Feldman revela que os gastos extras da entidade somam R$ 40 mil. "Há muita dificuldade em conseguir fornecedores. Tentamos um do Rio de Janeiro, que pediu pagamento adiantado, mas há um temor de que o Estado faça também a requisição desses materiais, assim como ocorreu em Minas", argumenta Ramon Duarte.
Já André Waller lembra que a caixa de máscara, que antes era comprada pelo Hospital São João de Deus a R$ 7,90, hoje é adquirida por no mínimo R$ 140. "Isso quando encontramos. Ainda tivemos problemas com medicamentos como antibióticos, que dobraram de preço. Se continuar assim, muitos hospitais não terão mais estoque na próxima semana", alega.
Em Teófilo Otoni, no Vale do Mucuri, o Hospital Nossa Senhora das Graças precisou recorrer às doações para não ficar sem estoque. A instituição iniciou uma campanha nas redes sociais para que empresas e pessoas físicas encaminhem máscaras de proteção.
A Federassantas afirma que a falta de insumos básicos de proteção se repete em toda a rede de hospitais filantrópicos do Estado, presentes em mais de 200 cidades mineiras e responsáveis por gerir 70% dos leitos de UTI no SUS.
Medidas preventivas
Procurada, a Secretaria de Estado de Saúde afirmou que "está tomando medidas preventivas para que não haja qualquer desvirtuamento de tais materiais, inclusive com a possibilidade legal de requisitar, se for o caso, determinado equipamento ou produto para que os trabalhos de prevenção e contenção continuem".
A pasta não informou como vai ocorrer a distribuição dos insumos recolhidos.