O pequeno Davi Ventura, 5, participa há meses dos encontros de evangelização infantil do Grupo Espírita Maria Francisca Rocha, que funciona no bairro Sagrada Família, na região Leste de Belo Horizonte. Ele faz questão de se arrumar para o estudo, hábito que permanece mesmo com as reuniões acontecendo a distância, pela internet. “É muito legal, eu tomo banho, penteio o cabelo e encontro meus amigos. A gente fala sobre Jesus”, conta Davi.
Desde o início da pandemia do coronavírus, instituições religiosas de todos os tipos tiveram que se reinventar para garantir a continuidade da evangelização das crianças, sobretudo neste momento de incertezas provocadas pela Covd-19, em que a fé se torna uma aliada ainda mais poderosa.
“Necessitamos nos isolar fisicamente, por proteção e questões de saúde, mas isso não significa o distanciamento dos nossos corações. Esses encontros são importantíssimos para a saúde mental, física e espiritual do jovem”, afirma a coordenadora da área da infância e juventude da União Espírita de Minas Gerais, Zuluziani Moraes. Para ela, mesmo quando a pandemia passar e a vida se normalizar, os meios virtuais vão continuar a fazer parte da rotina de evangelização.
No Grupo Espírita Maria Francisca Rocha, os encontros reúnem crianças de 2 a 12 anos, separadas em turmas de acordo com a faixa etária. Nas reuniões, que aconteciam duas vezes por semana, os pequenos estudavam o evangelho de Jesus, à luz da doutrina espírita, e os princípios básicos do espiritismo, como a reencarnação. Desde março, com a necessidade de isolamento social, o aprendizado e o diálogo permanecem, por meio de uma ferramenta de videoconferência. Em algumas dessas salas online, participam até 20 crianças por vez.
“Nós percebemos que o mundo infantil é cheio de preocupações. As crianças também precisam receber consolo, principalmente porque, para elas, é mais difícil entender a necessidade de isolamento, de não poder abraçar os coleguinhas e os familiares, e de ficar em casa. Agora, mais do que nunca, é preciso consolar esses coraçõezinhos. É superimportante que elas se sintam amparadas”, afirma Michelle Santos Costa, que integra a coordenação da evangelização infantil da entidade.
A mãe de Davi, a enfermeira Joanna D’Arc, 35, diz que os filhos já esperam o dia das reuniões online. “Faz muito bem para eles, é um momento de reflexão. Eles gostam de trazer o que foi discutido nos encontros para a família”, conta. Cadu Ventura, 9, sente prazer em participar. “A evangelização, para mim, é um lugar de paz e amor”, diz.
Cristãos no Brasil
Uma pesquisa do instituto Datafolha realizada neste ano mostrou que 50% dos brasileiros são católicos, seguidos por 31% de evangélicos, 3% de espíritas, além de 2% das religiões afro-brasileiras e menos de 1% de judeus. Outros 10% disseram não seguir nenhuma instituição religiosa, e 1% dos entrevistados se declararam ateus.
Atividades também envolvem adolescentes, jovens e adultos
A evangelização de adolescentes, jovens e adultos também segue em tempos de pandemia. Na capital, os crismandos da Igreja Católica que se preparam para receber o sacramento podem continuar a formação por meio de uma série de 12 vídeos produzidos pela Arquidiocese de BH, com temas como morte e ressurreição de Jesus e a ação de Cristo na vida humana. O material é divulgado semanalmente, desde maio, na rádio América, na TV Horizonte e no YouTube.
“É uma forma de a pessoa perceber que ela continua fazendo parte de uma comunidade, que a Igreja está presente com ela neste momento e que ela não está sozinha”, diz Lucimara Trevisan, integrante do Secretariado Arquidiocesano Bíblico Catequético. Além dos vídeos produzidos pela Arquidiocese, os próprios catequistas têm utilizado plataformas virtuais para conversar com os jovens.
Na Paróquia Santo Antônio Vila Belém, no bairro São Salvador, na região Noroeste da capital, os encontros online entre catequistas e crismandos ocorrem a cada 15 dias, por meio de uma ferramenta de videoconferência. As reuniões têm música, oração bíblica e reflexão. “Falamos também sobre como está sendo este momento de isolamento social”, explica o catequista e coordenador da crisma da paróquia, Tiago Honorato.
O professor de inglês Daniel Caetano da Conceição Filho, 34, não perde uma reunião. “Esses encontros passam esperança e fé neste período que estamos vivendo. Mesmo online, é o momento em que me sinto mais próximo de Deus”, comenta.
Conteúdos virtuais garantem estudos
Na Igreja Batista da Lagoinha, as crianças frequentam uma escola bíblica. Os estudos são destinados aos pequenos de 0 a 12 anos, também divididos em turmas conforme a idade. Apenas na sede, localizada no bairro São Cristóvão, na região Noroeste de Belo Horizonte, essas atividades reuniam cerca de 700 crianças por semana.
Desde o início da pandemia, a Lagoinha passou a preparar devocionais e materiais escritos com os mais diversos conteúdos, todos disponibilizados na internet. “Nas primeiras semanas, tivemos pouco retorno, mas, agora, os pais já nos cobram, querem continuar com o devocional mesmo quando tudo passar. Isso contribuiu muito para a aproximação com as crianças, eles mandam fotos do que elas fazem e das atividades em família”, conta Marina Ferraz Lacerda, uma das líderes do Ministério Kids da Lagoinha.