Com cada vez menos passageiros, os quase 40 mil motoristas de aplicativo de mobilidade, como Uber e 99, vivem um drama sem precedentes na região metropolitana de Belo Horizonte. Os fechamentos de comércios e bares, além de empresas que adotaram o home office para conter o avanço da epidemia de coronavírus no país, já fizeram a movimentação cair até 80% em toda a capital e em cidades do entorno. 

De acordo com o Sindicato dos Condutores de Veículos que Utilizam Aplicativos do Estado de Minas Gerais (Sicovapp-MG), muitos profissionais que alugam carros precisaram devolver os automóveis por falta de dinheiro. "Há muitas pessoas que estão entregando os veículos e preferem aguardar para alugar novamente. A situação é de grande dificuldade para boa parte dos motoristas", conta a presidente da entidade, Gyanny Macedo.

Motorista das plataformas há dois anos, Leonardo Dias, de 34 anos, afirma que agora leva uma semana para ter o mesmo faturamento de um dia normal, antes da crise provocada pelo coronavírus. E com a despesa de aluguel superior a R$ 1.600 por mês, a única saída é devolver o veículo para a locadora. "Fica difícil, se não tem passageiro, não dá para pagar. Além disso, tem as dívidas e outras contas pessoais, fica muito pesado", diz.

Desde a última semana, quando foram iniciadas as medidas de isolamento social na região metropolitana de BH, a espera por um passageiro tem superado duas horas. "Eu levo a pessoa até o destino e depois fico esperando mais duas horas. Com o carro alugado, só vou acumulando mais dívidas. Inclusive tem muitas pessoas que já devolveram porque a situação só piora", reclama.

Locadoras confirmam alta nas devoluções

Procurada, a Lokamig confirmou o número maior de devoluções de veículos nas unidades da região metropolitana por conta do coronavírus. "Como as pessoas estão se deslocando o mínimo possível de suas casas e pelo que algumas pesquisas mostram sobre a grande queda de demanda nos aplicativo de mobilidade urbana, nós já esperávamos que pudesse resultar em algumas devoluções por parte dos clientes que têm toda ou parte da renda proveniente do trabalho nesses aplicativos", comenta o presidente da locadora, Saulo Tomaz Froes, em nota.

Segundo a empresa, há uma modalidade de locação em que o motorista que fecha um contrato mensal tem valor mais atrativo na diária. Já a Localiza enfatizou que vai iniciar na próxima semana, entre os dias 30 de março e 5 de abril, uma campanha de aluguel semanal de R$ 9,90 para os motoristas de aplicativo na capital. "Essa medida foi pensada para reforçar a importância desse público para o transporte seguro de passageiros e serviços de delivery, em um cenário de isolamento social", resume a companhia.

Doações de cestas básicas

Sem renda, o Sicovapp-MG admitiu que muitas famílias de motoristas estão com dificuldades até para comprar comida. Por isso, a entidade iniciou ontem uma campanha para receber doações de cestas básicas. "Pedimos ainda que seja liberada uma verba assistencial para esses motoristas e que o trabalho não seja incentivado. Estamos muito expostos, não sabemos quem entra no carro e acabamos levando o vírus para dentro de casa", argumenta a presidente do sindicato, Gyanny Macedo.

Os interessados em fazer as doações podem entrar em contato pelo WhatsApp da entidade, no (31) 97112-4731.