Em Minas Gerais

Déficit de fisioterapeutas nos leitos de UTI pode chegar a 1.500, diz Crefito

Considerados essenciais para o tratamento de casos graves de coronavírus, Conselho Regional de Fisioterapia afirma não haver oferta suficiente de vagas para os profissionais da área atuarem em hospitais de campanha e novos leitos criados nas redes pública e privada

Por Lucas Morais
Publicado em 06 de maio de 2020 | 19:09
 
 
 
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Entre os tantos leitos de UTI que salvam vidas diariamente de pacientes com coronavírus, a presença de um profissional se torna peça-chave na eficácia dos tratamentos, principalmente dos casos mais graves: os fisiotereutas. E muitas pessoas podem não saber, mas eles garantem o correto volume de oxigênio, pressão e condições de conforto para que utiliza os respiradores mecânicos para sobreviver. 

E diante dessa pandemia que tem obrigado o poder público e as redes privadas a abrirem hospitais de campanha e reativerem leitos, faltam fisioterapeutas entre as equipes de saúde. De acordo com o Conselho Regional de Fisioterapia e Terapia Ocupacional da 4ª Região (Crefito), a estimativa é que o déficit pode chegar a 1.500 trabalhadores no Estado.

O presidente da entidade, Anderson Luís Coelho, lembra que já foram realizados alguns chamamentos públicos que ajudaram a aumentar o número de profissionais na Fundação Hospitalar do Estado de Minas Gerais (Fhemig). "Eles conseguiram contemplar bastante, mas o problema é que ainda não vimos essa iniciativa para estruturar os hospitais de campanha e os novos leitos abertos", enfatiza.

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Conforme o especialista, a cobertura assistencial mínima de fisioterapeutas é de 18 horas por dia nas UTIs, mas em condições normais é essencial a manutenção desses profissionais 24 horas por dia. "Em um estudo sobre as mortes que aconteceram no mundo de pacientes em ventilação mecânica, uma grande parte nem tinha fisioterapeuta presente no leito. Ele é o profissional que tem a expertise de acompanhar a evolução e ajudar a provocar menos prejuízos e sequelas aos pulmões", conta.

E nas cidades do interior, onde há menos profissionais qualificados, o conselho tem ajudado com a capacitação presencial dos fisioterapeutas para atuarem na linha de frente de combate ao coronavírus. "Geralmente são pacientes muito críticos que necessitam de cuidados de alta complexidade. E muitos fisioterapeutas estão sendo remanejados de outras áreas, como da atenção básica, e precisam serem treinados para assumirem os postos", acrescenta.

O presidente também ressalta a importância da profissão para o fortalecimento da rede pública de saúde. "Infelizmente, ainda é pouco difundido entre a sociedade o papel essencial do fisioterapeuta nas UTIs. Neste momento, se expõem ao risco de contaminação, muitas vezes sem os equipamentos de proteção individual adequados, com sobrecarga de trabalho", conclui.

'Trabalho intenso'

Contratada em abril para atuar no Hospital Eduardo de Menezes, na região do Barreiro – a entidade é referência em Belo Horizonte para tratamento do coronavírus – após um chamamento público, a fisiterapeuta Luiza Vasconcelos Campolina, de 34 anos, conta que a rotina é intensa por conta da pandemia. "A demanda aumentou muito, há sempre paciente chegando, fora os que já estão no hospital, mas trabalhamos com o número suficiente de profissionais", afirma.

E diante de tantos casos graves, ela conta que há ainda o abalo emocional. "Acabamos vendo a fragilidade das pessoas e sempre há uma histórica por traz de cada uma delas. Isso gera envolvimento e as vezes nos abalamos um pouco, mas é a nossa profissão. A parte boa é que quando o paciente melhora, é uma alegria muito grande", diz. 

Sem resposta

Questionada sobre o déficit de profissionais nos leitos de UTI na rede e da contratação nos chamamentos públicos, a Secretaria de Estado de Saúde não se pronunciou. 

 

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