A manhã desta Sexta-feira da Paixão (10) começou com pouca movimentação nas principais praças de Belo Horizonte. A praça da Assembleia, na região Centro-Sul, amanheceu completamente cercada, como anunciado pelo prefeito Alexandre Kalil (PSD) na última segunda-feira (6).
No entanto, algumas pessoas ainda corriam ou caminhavam pelas ruas do entorno da praça. É o caso do ex-deputado federal Edson Moreira, 68. Ele fazia caminhada na praça da Assembleia e disse que está seguindo as orientações do ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta.
“O ministro falou que é para sair e melhorar seu condicionamento pulmonar. Você não pode se agrupar. Então, eu não vou ficar nessa neura. Melhorando minha capacidade pulmonar, tenho muito mais condições de enfrentar qualquer coisa que eu vier a ter”, afirmou.
Ele disse ainda que ficou 15 dias em casa respeitando as recomendações de isolamento social e que começou a sentir dores. “Começou a doer tudo, as articulações, a respiração ficou diferente, então eu voltei a caminhar, e o corpo e a coluna já melhoraram”, relatou.
Ainda segundo Moreira, ele tem realizado caminhadas diárias de aproximadamente seis quilômetros, mesmo quando fica em São Paulo.
Posteriormente, após publicação da reportagem, Moreira encaminhou outra explicação ao ocorrido.
“Estou seguindo as orientações do Ministério da Saúde, as prescrições da OMS, as orientações de especialistas, que determinam 20 m (vinte metros) de distância entre uma pessoa e outra que estiverem fazendo caminhada ou exercícios físicos. Faço a caminhada pela manhã cedo, não há pessoas ao redor, não formo grupos, cumpro rigorosamente o distanciamento social. Por isso, vejo como injusta a manchete dada pelo respeitado veículo de comunicação na coluna ‘Até tu?’. Distanciamento social não significa prisão domiciliar, não requer exclusão social e enclausuramento”, afirmou o ex-deputado federal em nota.
Já o comerciante Ronaldo Lopes, 58, disse que também diariamente na praça da Assembleia e reclamou da medida da prefeitura de cercar o espaço. “O risco existe, mas estou tomando todas as precauções”, afirmou. Agentes da Guarda Municipal fazem rondas no local.
Já na praça da Liberdade, também na região Centro-Sul da capital, o movimento era bem menor. Apenas duas pessoas corriam no entorno da praça por volta de 8h. O local está cercado desde o último dia 4 por determinação da prefeitura e tem sido monitorado pela Guarda Municipal.
Não é bem assim
Mesmo sem aglomeração, os infectologistas alertam para os riscos da prática de atividade física ao ar livre. Integrante do comitê municipal para o enfrentamento da pandemia do novo coronavírus criado pela Prefeitura de BH, o infectologista Carlos Starling explica que estudos recentes feitos no exterior provam que correr ou pedalar, mesmo que mantendo uma distância de 2 metros entre as pessoas, não evita o contágio do novo coronavírus.
“O que nós estamos vendo aí é uma pressão das pessoas querendo usar as praças e os espaços públicos para correr ou pedalar, mas tem trabalho científico já sobre isto mostrando que pessoas correndo ou pedalando, mesmo se elas ficam a uma distância de 2 m entre si, não é seguro, não é suficiente”, disse o infectologista.
“Quem estiver na frente vai oferecer risco para quem vem atrás. Esse estudo mostrou que, para não respirar o que a outra está respirando, ela tem que ficar de 10 m a 20 m para trás. Isso é impossível em qualquer praça, em qualquer espaço urbano de Belo Horizonte”, alerta Starling.
Ele reforçou ainda a necessidade de que a população não relaxe ou desrespeite a orientação de se manter dentro de casa sempre que possível, pois Belo Horizonte ainda está com a epidemia em andamento. “Um dia de relaxamento que seja será catastrófico”, enfatiza Starling.
Direito de resposta na íntegra
"Eu, Edson Moreira da Silva, cidadão belo-horizontino, leitor contumaz desse valoroso e combativo periódico, vem requerer, com o devido respeito e ato democrático, o direito de resposta a fim de justificar e explicar a notícia veiculada na coluna “Até tu?” de 10/04/2020, cuja manchete estampada em destaque expressa: “Delegado Edson Moreira é um dos que furam o bloqueio da PBH em praças” – “Ex-deputado federal disse que está seguindo as orientações do ministro da Saúde”.
É dever de todos os cidadãos não expor a riscos a saúde dos demais concidadãos, conduta rigorosamente por mim seguida cotidianamente e necessária neste momento de pandemia provocada pelo Covid-19 e que está a sobressaltar toda a população mundial. Todos são responsáveis pelo bem-estar de todos, devendo ter consciência que somente coletivamente se conseguirá a superação desse flagelo social.
Sou povo, sofro como o povo e sigo os deveres impostos ao povo, por isso me solidarizo com esse mesmo povo e, sinceramente, não vejo em minha caminhada solitária (a foto estampada na manchete é prova disso) o descumprimento do “distanciamento social”.
“Distanciamento social” não é prisão domiciliar, não requer exclusão social, não impõe sedentarismo, pressupõe não formação de grupos de pessoas, manutenção de distância mínima entre as pessoas para salvaguarda dos perigos de contaminação, portando respeito e cautela para a contensão de obstruir a expansão do Coronavírus, que não pode e não deve servir de esmagamento de direitos individuais, é imperativa, porém não pode ser conduzida pelo pavor, pela paranoia, sob risco de causar malefícios irreparáveis à saúde mental da população já imensamente angustiada.
Por morar em um pequeno apartamento, não tenho como fazer caminhadas em seu interior, em razão dessa condição fática, busco realizá-la pela manhã, em logradouros ermos, mantendo a distância mínima determinada pelo Ministério da Saúde (2m entre pessoa ou 20m, correndo), logo após me recolhe em meu apartamento e dele não saio; portanto, ajo e vivo no mais extremado rigor, por isso lamento e acredito ser injusta a notícia publicada, contudo ela dá a prova de minha completa solidão".
Atualizado às 11h28