A Justiça Mineira marcou para às 17h desta terça-feira o depoimento do delegado Rafael Horácio, acusado de matar o motorista de guincho Anderson Cândido de Melo após uma discussão no trânsito, em Belo Horizonte. O caso aconteceu no dia 26 de julho deste ano. Quatro dias depois, Rafael foi preso e permanece detido até então.
O delegado será ouvido pela juíza Bárbara Heliodora Quaresma Bomfim. No último dia 21, a magistrada já havia negado mais um pedido de revogação da prisão preventiva do policial. A defesa dele alegou excesso de prazo para finalizar a instrução criminal, argumentando que o delegado está preso a mais de 100 dias e que todas as testemunhas foram ouvidas.
O Ministério Público se posicionou contra o pedido de liberdade provisória. Segundo o MP, foi a própria defesa do delegado que solicitou que o policial fosse interrogado pela Justiça após a reconstituição do crime, que já foi realizada.
A juíza Bárbara Heliodora entendeu que, após a instrução parcial do processo, não existem fatos novos “capazes de alterar as razões que embasaram a decretação da prisão preventiva do acusado e permitissem a revogação de sua segregação cautelar”. Por isso, a magistrada indeferiu o pedido de revogação da prisão preventiva.
Relembre
O desentendimento ocorreu no Viaduto Oeste, no Complexo da Lagoinha. Informações levantadas por O TEMPO com fontes no local do disparo indicam que o delegado estava em uma viatura descaracterizada quando foi fechado pelo caminhão, o que deu início a uma discussão. Após algum tempo, o policial teria fechado o reboque da vítima e efetuado o disparo, que atingiu o pescoço do homem. Ao perceber que tinha acertado o motorista, o próprio autor do tiro acionou a Polícia Civil e a perícia técnica compareceu ao local, fazendo os levantamentos iniciais na cena do crime.
Quando o veículo da vítima seria removido do local, familiares e amigos do homem baleado protestaram, momento em que um delegado explicou em voz alta que a primeira perícia já tinha sido feita e que uma nova perícia aconteceria em um segundo lugar, não especificado pelo policial.
Foi então que a filha dele ( da vítima) pediu para entrar no caminhão apenas para pegar o telefone do homem, que estava em um compartimento embaixo do banco do passageiro, A moça pegou ainda uma blusa de frio. Nenhuma arma foi encontrada no caminhão, conforme constatado pela reportagem que acompanhou a situação.
Quem é a vítima
Vizinhos de Anderson, ouvidos pela reportagem, contam que o reboqueiro era um trabalhador que se dedicava à família e à igreja. "Nunca teve nada errado com ele, ele era um homem evangélico que só vivia de luta", contou uma amiga, que preferiu o anonimato.
Pai de quatro filhos (um menino e três meninas) e amoroso com todos eles, Melo era querido na vizinhança e também na comunidade da igreja. "Foi um choque (a morte) para todos, a pastora e o pastor foram na casa dele. Todos os filhos moravam com ele, a mulher dele estava inconsolável", revelou a vizinha. Um amigo dele, que também pediu anonimato, desabafou que nunca havia visto tamanha "covardia".
"Saracura (como era conhecido Anderson) era um ótimo mecânico, um excelente profissional no ramo de reboque e um amigo sem igual. Ninguém nunca viu Saracura numa mesa de jogo, ou numa mesa de bar. Era serviço e igreja", detalhou.