Dois jovens, de 23 e 21 anos, foram presos na manhã desta quinta-feira (19), no bairro Confisco, na região da Pampulha, suspeitos de serem os executores de sequestros da modalidade “sapatinho”, em que funcionários e parentes de funcionários de bancos são feitos reféns e se exigem grandes quantias em dinheiro como resgate. O crime específico pelo o qual eles foram presos aconteceu no fim de novembro em Abaeté, na região metropolitana, e, segundo a Polícia Civil, foi orquestrado por dois líderes de dentro da penitenciária Nelson Hungria. Ao todo, cerca de R$ 400 mil foram levados da agência bancária.
No dia 21 de novembro, o gerente do banco Sicoob da cidade, a esposa dele e o casal de sogros, na faixa etária de 60 anos, foram feitos reféns dentro da própria casa pelos dois criminosos. Em seguida, os sogros do gerente foram levados para um cativeiro no bairro Nacional, em Belo Horizonte, e só foram libertados na manhã seguinte, quando o gerente foi obrigado a sacar R$ 400 mil e entregar aos bandidos. De acordo com a polícia, o mesmo cativeiro foi utilizado para fazer reféns os quatro integrantes da família de um gerente de Manhumirim, na Zona da Mata mineira, no início deste mês, o que denuncia a prática recorrente da quadrilha, especializada nesse tipo de crime.
“A modalidade sapatinho é justamente porque não há a violência flagrante, não há a ligação para parentes de vítima nem nada. O parente participa do enredo criminoso juntamente com os autores”, explicou o delegado Giuseppe Schettini.
“Entendemos que eles são realmente os líderes da organização criminosa. Um dos executores, que está para ser identificado, atuou tanto em Abaeté como em Manhumirim. Então há uma ligação entre esses sequestros. Também apreendemos um veículo e no cativeiro tinham diversos objetos que ligavam os crimes. A mesma organização atuou em Abaeté e, onze dias depois, em Manhumirim”, completou o delegado.
As ordens para os sequestros, de acordo com a Polícia Civil, foram dadas por dois homens que estão presos, de 42 e 33 anos. O mais jovem, conhecido como “Saci”, seria membro da famosa gangue do Chacal, que atuou por anos em sequestros no Estado. Segundo a polícia, após o líder ter sido levado para um presídio federal, Saci, que está na penitenciária Nelson Hungria desde 2018, se tornou o principal mandante. Dois mandados de prisão temporária foram cumpridos contra os dois mandantes, que já estavam detidos por crimes como extorsão, roubo e tráfico.
Os outros dois mandados são contra dois homens, de 21 e 23 anos, os executores das ordens dos detentos. Um terceiro suspeito também teria participado da ação e ainda não foi encontrado.
De acordo com o delegado Giuseppe Schettini, o crime só foi possível porque foi orquestrado de dentro da cadeia. “É incrível falar isso, mas é um crime que só da certo porque tem uma pessoa reclusa, que passa toda a instrução do crime para os demais. Durante a execução do crime, em Abaeté, eles não atuaram sozinhos. Tinha uma pessoa por trás, no telefone, da cadeia, dando instruções. O autor intelectual está preso”, disse.
Segundo a Polícia Civil, no caso do crime de Abaeté, foram recuperadas algumas joias levadas das vítimas. O dinheiro, contudo, foi gasto com motocicletas, celulares e, por alguns membros, em festas, onde gastaram cerca de R$ 30 mil por noite.