Trinta minutos. Este seria o tempo que pelo menos 295 moradores de Santa Rita Durão, distrito de Mariana, na região Central de Minas Gerais, teriam para deixar suas casas caso uma das pilhas de estéreis da mina da Vale se rompa e atinja uma barragem da mineradora. Nesta segunda-feira (13 de novembro), a Agência Nacional de Mineração (ANM) determinou a interdição da Mina de Fábrica Nova devido ao "risco iminente" de rompimento após uma instabilidade na estrutura ser constatada.
A informação de que a onda de lama chegaria em meia-hora até parte da comunidade foi repassada pelo coronel Carlos Frederico Otoni Garcia, coordenador estadual da Defesa Civil de Minas Gerais, durante reunião virtual ocorrida na última sexta-feira (10). Ao todo, 295 pessoas poderão ser evacuadas no distrito.
"A equipe da Defesa Civil pondera que é necessário ir ao local para verificar os equipamentos de autoproteção, as rotas e sinalizações e informa que há 123 residentes na atual mancha com tempo de chegada de onda pouco superior a 30 minutos, cabendo colocar a barragem em nível de emergência, o que será melhor avaliado na vistoria conjunta", detalhou durante o encontro.
Em outro documento obtido por O TEMPO, um despacho assinado na última semana pelo superintendente de Segurança de Barragens de Mineração da ANM, Luiz Paniago Neves. Apesar de confirmar que a barragem em si está segura, ele destaca que o reservatório está cercado pelos taludes de três Pilhas de Estéreis (PDE's). Ele também ponderou que, apesar do risco, moradores vizinhos à estrutura e a Defesa Civil não foram avisados pela empresa.
"Desta forma, mesmo que a pilha esteja representando um elevado grau de risco de ruptura, com alta probabilidade de causar falha por galgamento no dique situado imediatamente à jusante em caso de sinistro, tanto a população situada na Zona de Autossalvamento (ZAS) quanto os organismos de defesa civil e demais órgãos competentes não foram alertados do potencial risco causado pela pilha PDE Permanente I", completou o superintendente do documento.
Vistoria
A mineradora Vale foi procurada por O TEMPO e confirmou, por nota, a interdição da estrutura "preventivamente". Além disso, a empresa divulgou que acompanharia uma vistoria que será feita pela ANM e Defesa Civil de Minas Gerais nesta segunda-feira.
Ainda conforme a Vale, o objetivo é trazer os esclarecimentos necessários sobre as "condições de regularidade das estruturas". "Importante reforçar que as estruturas geotécnicas da companhia são vistoriadas frequentemente pela agência reguladora e monitoradas permanentemente por equipe técnica especializada", completou a mineradora.
Resposta da Vale
Procurada pela reportagem, a Vale garantiu que "não há risco iminente atrelado às pilhas de estéril da mina de Fábrica Nova, em Mariana (MG), assim como não há a necessidade da remoção de famílias". A mineradora também alegou que "a pilha de estéril é uma estrutura de aterro constituída de material compactado, diferente de uma barragem e não sujeita à liquefação".
A mineradora também afirmou que o "dique" que seria ameaçado por eventual queda das pilhas de estéril é de "pequeno porte" e "tem declaração de condição de estabilidade positiva". "A Vale reitera que a segurança é um valor inegociável e que cumpre todas as obrigações legais. A Vale continuará colaborando com as autoridades e fornecendo todas as informações solicitadas", completa.