Após seis meses sem atividades em função do isolamento social imposto pela pandemia, a tradicional Feira Hippie voltou o ocupar a avenida Afonso Pena na manhã deste domingo (27). O retorno, de 8h às 14h nessa primeira experiência, foi marcado pela ausência das barracas do setor de alimentação. Por não concordarem com o novo layout da Feira proposto pela Prefeitura de Belo Horizonte, que agora os coloca nas ruas Espírito Santo e Goiás e na avenida Álvares Cabral, expositores se reuniram em um protesto reivindicando a volta à Afonso Pena. Segundo integrantes do movimento, 137 barracas deixaram de funcionar neste domingo - apenas quatro venderam seus produtos normalmente, mas na rua Espírito Santo.
"Nós nos sentimos excluídos. Esse povo guerreiro é que construiu a feira, que acorda às 3h faça sol ou faça chuva. A feira voltou a toque de caixa e não nos sentimos representados. Queremos diálogo e renegociação com a Prefeitura. Estamos indignados", relata Robson da Costa, que cuida da barraca que a mãe possui na feira há 30 anos. Durante a semana, Costa diz que o movimento irá avaliar a repercussão do protesto. Segundo ele, os expositores querem e precisam voltar a trabalhar, mas entendem que ficar fora da Afonso Pena é prejudicial para a classe.
Em nota, a PBH afirmou que, para autorizar a volta da feira, priorizou os protocolos para garantir a segurança sanitária tanto dos expositores quanto dos frequentadores e que o atual formato deve ser adotado enquanto durar a pandemia: “Foi necessário segregar o setor de alimentação, uma vez que pessoas precisam retirar a máscara para o consumo de comida e bebida, aumentando o risco de contaminação. A PBH salienta ainda que alterou a localização atendendo a indicação escolhida pelo próprio grupo de expositores e enquanto durar a pandemia, essa condição deverá vigorar”.
A Guarda Municipal, fiscais da PBH e a Vigilância Sanitária , alem da Polícia Militar, fiscalizaram a reabertura. As pessoas respeitaram o uso de máscaras e não houve aglomerações. O movimento, segundo os expositores, foi satisfatório.
Há três décadas na feira, Mônica de Souza voltou a expor suas peças de decoração. Ela diz que, depois de tanta espera, o domingo foi de alívio pelo retorno às atividades: "Estava precisando, né? É o nosso trabalho, muitos feirantes sobrevivem da feira. Para esse primeiro domingo, o movimento está ótimo, sem aglomerações e confusão. Sou só elogios".
Para o expositor e artesão Carlos Alberto dos Santos, que está há 42 anos na Feira Hippie, as vendas deixaram a desejar, mas, mesmo assim, o retorno representa uma esperança e a chance de crescimento da renda mensal. "Mesmo não vendendo bem estou feliz com a volta da feira. As pessoas ainda vão se acostumar e vão voltar nos próximos domingos. Isso aqui é a praia de BH, a feira é um patrimônio da cidade", afirma Santos.
Expositores da Feira Hippie se reuniram em um protesto nesse domingo (27) reivindicando a volta à Afonso Pena. Veja o vídeo. pic.twitter.com/r38atIDSwC
— O Tempo (@otempo) September 27, 2020
Patrimônio do qual José Ronaldo Vieira da Silva e Dalva Pereira da Silva estavam com saudades. O casal, que há mais de dez anos frequenta a Feira Hippie quase todos os fins de semana, comemora a volta dessa opção de lazer aos domingos. "Eu estava sentindo muita falta, morrendo de saudades de ver o movimento, as novidades. Adoro comprar roupas aqui", comenta Dalva.
Seguindo todas as medidas de segurança, Silva diz que eles pretendem voltar também nos próximos domingos: "Hoje só está ruim a falta da praca de alimentação".
Volta ao trabalho com protocolo
A Feira de Arte, Artesanato e Produtores de Variedades da Avenida Afonso Pena, tradicionalmente conhecida como Feira Hippie, voltou a ocupar o local neste domingo após 180 dias. Sem apresentações musicais, teatrais ou de dança, proibidas para evitar aglomerações, e com um novo e ampliado desenho (agora, as barracas estão organizadas no trecho que vai da rua dos Guajajaras à Praça Sete, no Centro de BH), os expositores puderam retornar ao trabalho cumprindo uma série de medidas adotadas pela Prefeitura de BH.
Além do uso obrigatório de máscara por feirantes e frequentadores, os trabalhadores da feira são responsáveis por manter o distanciamento de dois metros com os clientes, cobrir com plástico a máquina de cartão para facilitar a limpeza e higienizar as mãos dos visitantes sempre que eles pegarem alguma mercadoria.