Um professor de português do Instituto Federal de Barbacena (IF Sudeste MG), no Campo das Vertentes, foi preso em flagrante na última quarta-feira (14 de junho), depois de ser denunciado por vários alunos por supostamente incentivá-los a cometer suicídio. Durante a aula, ele teria dito que os estudantes, entre adultos e adolescentes, "não dariam em nada" e que, por isso, seria melhor eles "fazerem como a escrivã da Polícia Civil", que, dias antes, tirou a própria vida após denúncias de assédio na instituição policial.

A Polícia Militar (PM) foi acionada pela própria coordenação da instituição educacional, após alunos procurarem a direção para relatar que estavam fragilizados por conta do comentário feito pelo professor. Entre os alunos da turma, duas garotas teriam, inclusive, chegado a ter crises de ansiedade depois da fala do profissional induzindo os estudantes ao suicídio.

A reportagem de O TEMPO conversou com uma das testemunhas que presenciaram o caso, uma jovem de 18 anos que preferiu não ser identificada. Ela conta que o professor é cadeirante e já responde a diversos outros processos administrativos, porém, até hoje, ele nunca teria sido afastado.

"A gente teve um teste de física e, quando voltamos e estávamos conversando sobre, ele (professor) perguntou para uma das alunas se ela tinha feito o teste por querer aprender ou por obrigação. Quando ela disse que precisava da nota, ele começou a falar que se todos os alunos estudassem assim, não iriam conseguir nada, que não seríamos profissionais qualificados. Foi então que ele começou a falar várias coisas, como que era melhor 'nos casarmos com um trouxa para sustentar', e, também, que, se fosse pra estudar dessa forma, era melhor fazermos igual a escrivã, que se matou", detalhou a testemunha.

Segundo ela, a fala do professor foi chocante, principalmente pelo fato de a escrivã Rafaela Drumond, de 32 anos, ter tirado a própria vida na cidade de Antônio Carlos e trabalhar em Carandaí, ambos municípios da mesma região de Barbacena.

"Facilmente poderia ter algum parente dela na sala de aula. Temos alunos de Carandaí na turma, então poderiam ser conhecidos. O fato dele não ter se sensibilizado com o que estava acontecendo com ela (escrivã), com o assédio que ela sofreu, me chocou. O que ele estava fazendo, não deixava de ser isso (assédio) também", reclamou a jovem.

Ainda no mesmo dia, conforme o registro policial, o docente ainda teria feito um comentário sexual, tendo falado que uma das alunas estudava "igual a uma mulher na relação sexual", que "finge gozar para acabar rápido".

Outros assédios

Logo depois do comentário que motivou o acionamento da polícia, o professor teria então pedido que os alunos pegassem um livro e, por se tratar de uma sala especial, adaptada para a deficiência do professor, alguns estudantes se levantaram para buscar o material solicitado. Entre eles, uma aluna que estava sofrendo a crise de ansiedade também se preparou para sair da sala quando, neste momento, o professor fez outro comentário que a abalou.

"Ele sabe que essa colega quer fazer veterinária. Então, perguntou se, caso um bezerro estivesse nascendo, precisasse de ajuda e ela esquecesse a maleta, se deixaria o bezerro lá 'para morrer' enquanto ela buscava a maleta", lembrou a estudante.

Durante a entrevista, a estudante também relatou que o professor também já teria feito outros comentários inadequados e sexuais, inclusive com estudantes menores de idade. "Não lembro quais as palavras que ele usou exatamente, mas ela disse que queria fazer zootecnia e ele disse que ela não serviria para ficar no 'meio da bosta dos animais', que isso era só fogo de palha. Foi então que ele disse que, se fosse assim, quando ela perdesse a virgindade ia querer virar puta", lembra a estudante.

Professor teria sido solto após depoimento

O caso foi registrado pela PM que prendeu o professor em flagrante por  "indução ao suicídio". Porém, por o crime ter ocorrido em uma instituição federal, o suspeito precisou ser encaminhado para a Delegacia da Polícia Federal (PF) de Juiz de Fora, na Zona da Mata. De acordo com as testemunhas, após prestar depoimento, o professor teria sido solto. O TEMPO procurou a corporação, que confirmou que o professor foi ouvido e liberado.

No registro da PM, o suspeito informou que "em momento algum teve intenção de induzir os alunos ao suicídio", e que é "contra todo e qualquer ato que fomente ações dessa natureza". O professor disse ainda que na aula houve um "desencontro de opiniões" e que a situação poderia ter sido resolvida "no âmbito educacional".

A reportagem também entrou em contato com a assessoria de imprensa do Instituto Federal Sudeste (IF Sudeste MG). Em nota foi informado que a instituição "condena todo tipo de ofensa à dignidade de qualquer pessoa". 

"Os setores competentes da instituição já estão se mobilizando para oferecer apoio aos estudantes, familiares e servidores envolvidos. Em âmbito criminal, a instituição está acompanhando as investigações e permanece à disposição para contribuir com as autoridades", diz trecho do comunicado que pode ser lida na íntegra abaixo. 

Nota do IF Sudeste MG

"Diante da denúncia de que estudantes do Campus Barbacena do IF Sudeste MG teriam sofrido incitações ao suicídio e ofensas verbais de um professor em sala de aula ontem, 14 de junho de 2023, a instituição vem se manifestar a respeito.

O Instituto condena todo tipo de ofensa à dignidade de qualquer pessoa, membro de nossa comunidade ou não, e ratifica a missão de oferecer educação pública, gratuita, de qualidade e inclusiva, e, portanto, defende uma educação libertadora e que incentiva o desenvolvimento humano e social.

Até o fechamento desta nota, a instituição trabalhava no encaminhamento da denúncia em questão para a Corregedoria do IF Sudeste MG, setor responsável pela apuração de ilícitos administrativos cometidos por servidores, assegurando o contraditório e a ampla defesa, conforme legislação vigente. Se confirmada a conduta ilícita, a instituição imediatamente aplicará as sanções previstas.

Os setores competentes da instituição já estão se mobilizando para oferecer apoio aos estudantes, familiares e servidores envolvidos.

Em âmbito criminal, a instituição está acompanhando as investigações e permanece à disposição para contribuir com as autoridades".