Tanatopraxia

Emprego: Preparar mortos exige técnica e paga salário de R$ 2.800 em Minas

Reportagem acompanhou alunos em curso de tanatopraxia com alta procura na Santa Casa da capital

Por Carolina Caetano
Publicado em 07 de julho de 2019 | 03:00
 
 
 
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Aprender a passar batom e fazer as unhas das mulheres, pintar o cabelo e aparar a barba dos homens. Essas são as habilidades mais demandadas de certos profissionais que têm aumentado em Belo Horizonte. Mas há um detalhe: seus clientes são cadáveres.

A tanatopraxia, profissão de quem prepara cadáveres para velórios, tem tido uma procura crescente, e há cursos que ensinam a prática, com investimento de mais de R$ 2.000, que lotam salas de aula em plena sexta-feira à noite, como constatou a reportagem. Somente nos seis primeiros meses deste ano, mais de 60 pessoas se inscreveram nas aulas oferecidas pela Santa Casa BH Ensino e Pesquisa.

Na sala de aula onde esteve a repórter de O TEMPO, na última turma da Funerária Santa Casa, havia 18 alunos – em sua maioria, mulheres –, que almejam uma oportunidade de emprego. Segundo o supervisor e professor da funerária, Alexandre Alberto Ferreira, o mercado é promissor e só cresce: “Hoje estamos com 41 funcionários no setor. Muitos alunos também conseguem oportunidade no interior. As vagas sempre aparecem”.

A gerente de restaurante Tauana Marques de Carvalho, 27, também estava entre os alunos. Ela resolveu tentar a profissão após a morte do avô, há seis meses. “Eu sempre tive uma certa curiosidade, mas me faltava coragem. Após a morte do meu avô, resolvi começar a atuar na área”, disse.

Estética

O profissional habilitado geralmente começa como ornamentador, preparando as rosas para o caixão, vestindo o cadáver e fazendo a necromaquiagem, ou maquiagem no morto.

É importante diferenciar o trabalho feito pelas funerárias do realizado no Instituto Médico-Legal: “No IML, o serviço é de caráter investigativo, para descobrir a causa da morte. Já no serviço funerário, o objetivo é a conservação e estética do falecido”, disse Ferreira.

Quando um corpo chega à funerária, primeiro tem de passar por um tratamento para o retardamento da decomposição. Em seguida, segundo Ferreira, ele vai para outro ambiente, onde é feita a reparação facial, de acordo com o gosto do familiar.

Interesse por mortos aos 7 anos

O agente funerário Luiz Cláudio Santos, 38, saiu de Itapecerica, na região Centro-Oeste de Minas, para fazer o curso na capital. Desde criança, ele já tinha interesse em saber como ocorria a preparação dos corpos. “Morava ao lado de uma funerária e, aos 7 anos, já ia para a porta, mas não me deixavam ver. Quando fiquei mais velho, pude aprender como o trabalho era realizado. Há quatro anos trabalho como agente funerário e resolvi fazer o curso para aprender mais”.

Pelo fato de Itapecerica ser uma cidade pequena, com apenas duas funerárias, os funcionários de lá fazem de tudo. Além da arrumar o cadáver, vendem urnas, buscam os corpos, limpam o salão e até mesmo preparam o cafezinho servido no velório.

Muitas vezes, Santos precisou cuidar da preparação de pessoas que conhecia. “No fim de semana eu fico em casa e, se morre alguém, eles me ligam, eu troco de roupa e vou trabalhar. Tem que gostar do que faz. É muito gratificante encontrar parentes de uma pessoa que você preparou e a família agradecer. Eu fico arrepiado com isso. É reconhecimento”, finalizou o agente.

Saiba mais

Exigências

Para realizar o curso de tanatopraxia na Santa Casa, é preciso ter mais de 18 anos e ensino médio completo. As aulas acontecem de dois em dois meses.

Opções

Além da Santa Casa, a UFMG também oferece o curso. As inscrições para o segundo semestre estão abertas. Também há o curso na Escola Técnica Conhecer.

Preço

O valor do curso é de R$ 1.569 (Escola Técnica Conhecer), R$ 2.290 (UFMG) e R$ 2.422 (Funerária Santa Casa BH).

 

Texto atualizado no dia 8.7.2019

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