O sócio de uma lanchonete localizada no bairro São Marcos, região Nordeste de Belo Horizonte, afirma ter sido agredido e ameaçado de morte por um policial militar na noite dessa terça-feira (5) em seu estabelecimento.
Segundo o advogado da vítima, Flávio Amaral dos Santos, há alguns dias seu cliente e a esposa tiveram um desentendimento, e a Polícia Militar (PM) foi acionada. "Foi feito um boletim de ocorrência na lei Maria da Penha. Como eles são sócios no estabelecimento, ela preferiu não solicitar a medida protetiva, pois eles não podiam deixar o negócio parado", disse.
"Quando foi ontem (4), os policiais chegaram lá questionando o porquê dela não ter pedido a medida protetiva. O militar viu que W* estava na cozinha, entrou e já chegou ameaçando ele, que começou a gravar um vídeo com o celular", concluiu. Veja:
Segundo testemunhas que estavam no local mas não quiseram se identificar, a suposta vítima foi ameaçada tanto na lanchonete quanto na companhia da PM. "O policial tentava coagir ele, apagar as imagens. Conduziram ele por desacato à autoridade. Na companhia onde foi feito o boletim de ocorrência, disseram que iriam acabar com a vida dele", disseram.
"Eram três policiais. Um deles fez com que ele fosse até um espaço reservado e disse para ele que era para escolher entre a razão e a felicidade. Se publicasse o vídeo, ele estaria abrindo mão da felicidade", relataram.
De acordo com o advogado do dono do estabelecimento, W.* foi levado para a Central de Flagrantes (Ceflan) 1 da Polícia Civil. Mas lá, após os policiais assistirem as imagens, o liberaram após assinar um Termo Circunstanciado de Ocorrência (TCO).
O magistrado afirmou que nesta quinta-feira (6), ele e seu cliente vão até a Corregedoria da Polícia Militar denunciar a situação.
Versão
No boletim de ocorrência feito pelos policiais militares que participaram da ocorrência, eles contaram que foram ao local para fazer uma visita tranquilizadora à esposa e sócia do homem, pois ela era vítima de agressão doméstica.
Quando chegaram à lanchonte, depararam com o suspeito no mesmo lugar, fato que foi questionado à mulher. O proprietário, então, teria dito que ninguém chamou a polícia lá, e que quem manda no casamento dele é ele, além de desacatá-los, dizendo: "Guardinha nenhum tem que se meter! Polícia de merda!"
Nesse momento, foi dada voz de prisão a ele, porém, desobedeceu a ordem e entrou na cozinha para pegar uma faca, quando, na verdade, pegou o celular e começou a gravar a cena, o que teria gerado a ira do militar.
Segundo a PM, o homem tem quatro passagens pela polícia por violência doméstica e uma por porte ilegal de arma.
A PCMG confirmou a informação de que os envolvidos foram ouvidos pela ocorrência de desacato, e W. foi liberado após assinar o TCO.
A reportagem de O TEMPO solicitou um posicionamento da PM sobre a conduta do policial. Leia:
Os policiais realizavam uma visita protocolar e prevista ao estabelecimento comercial, haja vista que seu proprietário é prontuariado pelo cometimento de crimes como porte ilegal de arma de fogo e agressão, inclusive, contra sua companheira, que é sócia do local.
No momento em que os militares chegaram ao estabelecimento, foram desacatados pelo autor, conforme se abstrai do Boletim de Ocorrência, diante do que foi dada voz de prisão ao cidadão.
No entanto, o mesmo desobedeceu a ordem emanada, tendo em vista que se voltou para o interior do estabelecimento, em direção à cozinha, dando a entender que iria pegar algum objeto ou arma. Assim os policiais, adentraram o estabelecimento para fazer cumprir a ordem e para resguardar sua integridade física e a de terceiros. Dentro da cozinha, porém, o autor localizou um celular e começou a filmar a ação policial.
O cidadão foi conduzido por ter desacatado os militares e desobedecido a ordem de prisão. As filmagens da abordagem bem como as alegações do proprietário estão sendo analisadas para a devida apuração.
* Suposta vítima preferiu não se identificar, com medo de represálias.