Uma manifestação realizada em frente à prefeitura de Belo Horizonte, no centro da capital, reuniu grupo de donos e funcionários de bares e restaurantes na tarde desta quarta-feira (9). Exibindo cartazes, eles questionavam a decisão do prefeito Alexandre Kalil (PSD) que proibiu a venda e consumo de bebida alcoólica em bares e restaurantes da cidade, que é conhecida como a capital dos bares.
O decreto que implementou a proibição entrou em vigor na segunda-feira (7), sob o argumento de que visa diminuir a circulação de pessoas, ampliar o distanciamento social e conter comportamentos que têm ampliado o risco de contágio. A prefeitura alega que vários bares foram flagrados com cenas de aglomeração e desrespeitos às normas sanitárias vigentes.
A determinação municipal, no entanto, foi bastante rechaçada por uma parte dos empresários do setor. Cláudio Henrique Matos é um deles. Proprietário do Tudo na Brasa, no bairro Castelo, ele esteve na manifestação e reconhece que houve estabelecimentos que descumpriram regras sanitárias de forma exagerada. “Mas a prefeitura deveria ter tomado alguma medida mais severa (em vez de fechar). Por que não aumentou a fiscalização? Foi uma decisão precipitada”, defende.
Ele revela que teve conhecimento sobre donos de bares que decidiram fechar as portas até janeiro, alegando que não vale a pena funcionar com esse impedimento. “No meu bar as vendas já caíram 90%. Isso gera desemprego, pois a bebida acaba fomentando o negócio, principalmente à noite. É desesperador”, reclama.
Igualmente aflita, Andressa Aparecida também fez questão de comparecer ao protesto para tentar reverter a decisão da prefeitura. Gerente do Meu Bhar, no bairro Santa Mônica, ela se diz incomodada e diz que o bar onde trabalha cumpriu todas os protocolos de distanciamento social previstos no regulamento municipal. A proibição da venda de álcool causou queda instantânea no fluxo de clientes. “Ontem, em pleno feriado, não tinha uma mesa ocupada”, diz.
A manifestação de hoje não contou com a presença da Associação Brasileira de Bares e Restaurantes em Minas Gerais (Abrasel-MG). A entidade teve reunião com a prefeitura na segunda-feira (7) sobre o tema, e aguarda resposta da administração municipal, o que deve acontecer ainda nesta quarta (9). Assim que o decreto foi publicado, no entanto, a entidade se manifestou, dizendo que a decisão inviabilizaria o funcionamento de muitos bares da cidade, que se mantém principalmente graças à venda de bebidas alcoólicas.
O protesto de hoje seguiu pacificamente e nenhum dos manifestantes foi recebido pela prefeitura até o momento.
A reportagem consultou a prefeitura sobre o assunto. O Executivo informou que não há nenhum recuo sobre a decisão, e que o decreto continua vigente. "Em vista dos indicadores da semana, a Prefeitura vai manter a restrição. O RT da semana está em 1,06, o que indica expansão da Covid, e há também o aumento da demanda por leitos na Saúde", disse o comunicado.
Ainda segundo a administração municipal, não há nenhuma evolução nos indicadores da Covid-19 que permita novas flexibilizações. A prefeitura relembra que a restrição ao consumo de bebidas alcoólicas aplica-se também às feiras públicas ou licenciadas.
Reconhecida recentemente como Cidade Criativa da Gastronomia, título dado pela Unesco, Belo Horizonte tem registrado preocupante aumento na ocupação de leitos Covid nos últimos dias, tanto na rede privada quanto no SUS. Conforme boletim epidemiológico de hoje, já são 1.703 mortes registradas em decorrência do contágio por Covid-19.