Em edição marcada pelo número recorde de abstenções (51,5%), termina, neste domingo (24), o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) 2020 para os candidatos optantes pela versão impressa da prova. Na PUC Coração Eucarístico, na Região Noroeste de Belo Horizonte, o sol forte não desanimou os aspirantes a uma vaga no ensino superior. Os portões se abriram às 11h30, trinta minutos antes do previsto no edital, mas o movimento começou cerca de uma hora antes. Ao menos duas pessoas perderam o segundo dia do teste, porque chegaram atrasadas.
Em todo país, eram aguardados, no mínimo 2.680.697 pessoas, no último do Enem versão impressa. Esse foi o número de presentes no domingo anterior, de um total de 5.687.397 inscritos. Mesmo quem faltou ao primeiro dia, aos testes de Redação, Linguagens, Códigos e suas tecnologias e Ciências humanas e suas tecnologias, poderia ir ao segundo dia, responder às questões de Ciências da natureza e suas tecnologias e Matemática e suas tecnologias.
A comerciante Maria José Almeida, 60, vinha sentar-se nos bancos da PUC para realizar um sonho: o de cursar Psicologia ou Ciências Contábeis. “Desde criança, queria estudar, formar-me, mas precisei trabalhar, meus pais não tinham condições. Veio meu filho, a casa, o trabalho. Agora, estou aqui, correndo atrás e vou conseguir”, garante, com determinação.
Na companhia do filho Arnaldo Gazani Júnior, 22, ambos relataram as dificuldades de se preparar para o exame durante a pandemia. “No meio do ano, parei de estudar. Não tinha cabeça, não rendia e eu achei que o Enem ia ser cancelado. Agora no fim do ano, retomei e revisei o conteúdo”, conta o filho, concorrente a uma vaga em Engenharia de Manutenção ou Psicologia.
Por causa da pandemia, o Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep) adotou um conjunto de medidas de biossegurança nos 14.447 locais de prova espalhados por todo o território nacional. Em Minas, são 1.383 pontos, com 21.067 salas. Ainda assim, em pelo menos 11 unidades, houve candidatos que não puderam fazer a prova porque os recintos onde responderiam as questões estavam lotados.
Medidas de biossegurança
Em 2020, segundo o Inep, foram investidos R$ 64 milhões em iniciativas ligadas ao gerenciamento do risco e garantia de condições de higiene para aplicação das provas do Enem na versão escrita. Compra de equipamentos de proteção, álcool em gel e mais locais de aplicação, para redução do número de participantes por recinto estão entre as providências divulgadas pelo Ministério da Educação (MEC).
A estudante Júlia Mendonça, 19, sentiu-se segura no último domingo e percebeu, de fato, boa parte das promessas em relação às normas de limpeza e controle de transmissão da COVID-19 sendo cumpridas. Com relação à pandemia, sua principal reclamação diz respeito à preparação para o exame em casa. “Mais difícil de concentrar, de ter acesso ao professor. A proximidade da sala de aula fez muita falta”, reclama.
Abismo do EAD
O Ensino à Distância também foi desafio para as colegas da rede estadual de ensino Gabrielly da Cruz e Larissa Evangelista, ambas de 18. Elas cursaram o 3º ano do Ensino Médio na Escola Estadual Padre João de Matos Almeida e reclamam do formato da educação on-line ofertada.
“Tínhamos aula pela internet apenas uma vez por semana e na sala virtual entravam todos os alunos do 3º Ano da escola, ou seja, ficava lotado. Essa aula era de apenas uma hora”, lembra Gabrielly, pretendente a uma vaga na Escola de Direito da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).
A colega completa: “era impossível tirar as dúvidas e apenas dois professores se dispuseram a dar essa aula. A gente tinha que aprender com as mensagens ou no Google Classroom, mas é muito diferente receber um arquivo para ler do que uma pessoa que já sabe sobre algum assunto te explicar”, diferencia Larissa, que deseja conquistar uma vaga nos bancos da PUC Coração Eucarístico no curso de História, por ser apaixonada pelo Museu de História Natural.
Em nota, a Secretaria de Estado de Educação (SEE) afirmou que desde que foi implementado o Regime de Estudo não Presencial como medida de enfrentamento à Covid-19, sempre houve atenção especial com os alunos que iam fazer o Enem.
Segundo a SEE, todas as sextas-feiras, a programação das teleaulas do Se Liga na Educação, exibidas pela Rede Minas e reapresentadas pela TV Assembleia, é dedicada aos conteúdos exigidos na prova. "Os estudantes, além da explicação dos professores, ainda podiam tirar dúvidas, ao vivo, no momento do Tira Dúvidas do Se Liga", explica a nota.
Ainda segundo a SEE, ao todo, foram cerca de 370 aulas e mais de 123 horas apenas dedicadas aos alunos do 3º ano do ensino médio e aos conteúdos que eles precisam saber para fazer uma boa prova do Enem. Foram mais de 30 Tira-Dúvidas, com aproximadamente 30 horas.
"Uma parceria com o Sesi também permitiu ofertar aos alunos o Enem Conectado e o Enem Conectado Power. As iniciativas, únicas no país, ofereceram aulas on-line inteiramente voltadas ao exame, gratuitas, para os estudantes do 3º ano do ensino médio da rede estadual", diz a nota.
A SEE informou, ainda, que desenvolveu os Planos de Estudo Tutorados (PETs), que trazem simulados trabalhados com os alunos ao longo do ano, com apostilas que podiam ser acessadas de forma online e, para aqueles sem acesso à internet, no formato impresso.
"Todo o material, envolvendo as teleaulas do Se Liga na Educação e os simulados podem ser acompanhados pelos estudantes em uma aba inteiramente dedicada ao Enem, disponível online.
Resultado
Gabaritos e cadernos de questões serão liberados no portal do Inep e no aplicativo do Enem em 27 de janeiro e, ainda conforme a assessoria do Inep, os resultados do concurso vão ser divulgados em 29 de março.