Com a baixa na demanda da rede hoteleira de Belo Horizonte após a pandemia de coronavírus, movimentos e entidades propõem utilizar os quartos vagos para abrigar idosos de aglomerados, que dispõem de pouca estrutura para a realização do isolamento social. A proposta surgiu há cerca de uma semana, e o objetivo dos idealizadores é que o poder público abrace a ideia.
“Obviamente a classe média está resguardada de todo um aparato econômico, em suas casas, tem possibilidade de estocar alimentos durante o isolamento. Agora a população carente das periferias, favelas, aglomerados em geral não tem a mesma condição. Ficam em cômodos superconfinados. Normalmente em um cômodo dormem quatro pessoas ou mais. Então, fazendo uma projeção dos médicos e especialistas, a gente prevê um quadro muito crítico nas periferias de Belo Horizonte”, explica o vice-presidente do Instituto de Arquitetos do Brasil em Minas Gerais (IAB-MG), Alexandre Nagazawa.
Além do IAB-MG, a proposta é idealizada pelo movimento Nossa BH, pelo Instituto Pólis e pelo Movimento Mineiro de Habitação. Segundo o o Cadastro Único (CadÚnico) do governo federal, cerca de 67,5 mil idosos com mais de 60 anos residem em aglomerados de Belo Horizonte. O número representa cerca de 15% da população dos aglomerados da capital mineira. Os idealizadores pontuam que levar os idosos para os hotéis é importante porque visa resgatá-los e evitar que se exponham ao risco da doença.
“É uma forma de prevenir utilizando as vagas ociosas. A rede hoteleira tem hoje cerca de menos de 10% de ocupação. É uma estrutura pronta, com cama, alimentação que deveria abrigar esses idosos”, disse Nagazawa.
Aglomerados
Apesar de ser uma proposta recente, já é bem vista entre moradores de aglomerados em Belo Horizonte. Líder comunitária do aglomerado da Serra, Floricena Carneiro compartilha dessa opinião, entretanto acredita que é preciso formular a proposta de forma que não se torne uma obrigação para os idosos.
“Tem ser de uma forma muito humanizada. A primeira coisa é convidar as pessoas a irem, não criar uma obrigação. Se a pessoa tem uma família, uma rede de proteção, não tem por que ela ir. Agora, aquela pessoa que está mais desprotegida e quer ir, é excelente”, disse.
Uma das preocupações da líder comunitária é que os idosos são muito apegados à casa e aos bens. “A plantinha, o bichinho de estimação. Então, se você tira eles de uma vez e coloca em um quarto, isso pode inclusive abaixar a imunidade deles. Se alguém puder ir com eles, também é uma coisa boa, ter uma companhia”, pontua.
Hotéis
Entre os hotéis o cenário não é animador. Segundo o Sindicato dos Hotéis, Restaurantes, Bares e Similares de Belo Horizonte e Região Metropolitana (Sindhorb-BH), 95% dos quartos em hotéis da capital estão desocupados. E a previsão é que até a primeira quinzena de abril 10 mil funcionários da rede hoteleira, além de bares e restaurantes, sejam demitidos.
Apesar das estatísticas nada favoráveis ao setor, o presidente do Sindhorb-BH, Paulo César Pedrosa, afirma que a inciativa de abrigar os idosos de aglomerados seria uma boa ideia, desde que os hotéis tivessem contrapartidas por parte do poder público.
“Não seria pagar a hospedagem do idoso, mas ajudar no custo que o hotel tem mensalmente para poder continuar aberto. Sem ter lucro mesmo. A ideia é boa, claro. Eu acho que precisa ser discutida. Eu acho que toda medida para combater o coronavírus é válida”, defendeu.
A proposta ainda vai ser discutida em detalhes com a Prefeitura de Belo Horizonte.