Investimento em pesquisa

Especialistas defendem desenvolvimento de vacina brasileira contra a Covid-19

Em debate virtual promovido pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), professores detalharam candidatos vacinais em estudo

Por Rafaela Mansur
Publicado em 29 de julho de 2020 | 17:49
 
 
 
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A importância do desenvolvimento de uma vacina brasileira contra a Covid-19 foi destacada por especialistas em um debate virtual realizado pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) nesta quarta-feira (29). Atualmente, o país participa de estudos de candidatos vacinais de laboratórios estrangeiros, em fases mais avançadas, mas também conta com iniciativas próprias para a criação de uma imunização eficaz contra o coronavírus.

"Nós estamos falando de uma vacina de demanda global, em que certamente haverá formação de filas de países e populações. Vivemos situação semelhante em relação às testagens. O Brasil custou um pouco a acelerar a testagem porque todos os insumos necessários são importados, e vimos o preço que se paga quando se depende de importação tecnológica. Muitas vezes ficamos sem insumos para testagem. O Brasil não pode simplesmente depender eternamente da importação de tecnologia", afirma o professor da UFMG Flávio da Fonseca, integrante do CT Vacinas, centro de pesquisa em biotecnologia instalado no Parque Tecnológico de Belo Horizonte.

Segundo ele, certamente as vacinas desenvolvidas por laboratórios estrangeiros, testadas ou não no Brasil, serão concluídas antes de uma vacina brasileira, o que não deve ser motivo para o Brasil "desistir" de uma imunização própria. Em parceria com a Fiocruz, a UFMG está trabalhando no desenvolvimento de um modelo bivalente de vacina, focado na modificação genética do vírus Influenza, causador da gripe, para que ele carregue antígenos do SARS-CoV-2.    

"O resultado dessa engenharia genética é um vírus quimérico que tem tanto proteínas do vírus da gripe quanto proteínas do coronavírus, e o resultado é uma vacina bivalente contra esse dois vírus", explica Fonseca. Segundo ele, os estudos estão em fase de testes pré-clínicos, em camundongos, e a previsão é que os testes humanos sejam alcançados ao final de 2021 ou início de 2022.

A vacina em estágio mais avançado com participação do Brasil é a desenvolvida pelo laboratório AstraZeneca em parceria com a Universidade de Oxford, que já se mostrou segura e capaz de desenvolver anticorpos contra o coronavírus nas fases 1 e 2. A Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) conduz, no Brasil, os testes da fase 3, realizada em 5.000 voluntários no país. Os testes foram iniciados em 23 de junho e, de acordo com a reitora da Unifesp e professora do Departamento de Farmacologia da Escola Paulista de Medicina, Soraya Soubhi Smaili, alguns dados já estão sendo enviados para Oxford.

"Esta vacina é a que está em estágio mais avançado, nós estamos muito orgulhosos de poder dar essa contribuição para o nosso país, nossa pesquisa, para nossa população e para o Sistema Único de Saúde (SUS). Uma vacina que vier será certamente será usada pelo SUS para atender o máximo da população", diz Soraya, ressaltando que a Unifesp também participa de estudos de uma vacina brasileira, em fase pré-clínica, em parceria com a Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP). "Temos que ter vacinas brasileiras, e temos condição e competência para fazer isso".

Outra vacina em fase 3 de estudos é do Instituto Butantan, em parceria com a farmacêutica chinesa Sinovac Biotech. Os testes serão realizados em 9.000 voluntários, inclusive em Minas Gerais, com apoio da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), onde as aplicações devem começar ainda nesta semana. Todos os voluntários são profissionais de saúde que atuam diretamente no atendimento e tratamento de casos de Covid-19.

O ensaio é duplo-cego, isto é, os voluntários e as pessoas que administram o candidato vacinal não sabem, de fato, quem está recebendo vacina ou placebo. A escolha é feita ao acaso. "A vacina em si é o ponto mais simples do estudo, o difícil é o acompanhamento. O seguimento a longo prazo é a grande dificuldade e a parte mais importante do estudo, e por isso a pessoa tem que concordar em fazer visitas locais, domiciliares, no posto de saúde, atendimento eletrônico", explica o professor e coordenador do Centro de Pesquisa e Desenvolvimento de Fármacos (CPDF) do Instituto de Ciências Biológicas da UFMG, Mauro Teixeira.

De acordo com ele, a previsão é que o estudo tenha 16 meses de duração, mas, conforme alguns parâmetros intermediários sejam alcançados, o "cegamento" pode ser quebrado para uma anáslise interina dos dados.

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