Pirâmide

Estelionatário enganou mais de 6 mil e, para fugir, chegou a morar em ilha

Mineiro de Montes Claros se apropriou das economias de milhares pessoas, diz polícia; Esquema de fraude financeira pode ter movimentado, em quatro anos, R$ 1 bi

Por Clarisse Souza
Publicado em 20 de agosto de 2019 | 03:00
 
 
 
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Movimentando uma conta bancária que pode ter chegado à cifra de R$ 1 bilhão, Marcel Mafra Bicalho, 34, ostentava uma vida luxuosa – em nível cinematográfico. Tanto que, quando quis fugir dos holofotes, alugou uma ilha exclusiva para si. Depois, passou a viver em um resort, fechado apenas para ele. Tudo isso, segundo a Polícia Civil, à custa das economias de pelo menos 6.000 pessoas.

Espécie de guru em investimentos, o mineiro de Montes Claros, na região Norte de Minas, é apontado pelas autoridades como líder de um esquema fraudulento de pirâmide financeira.

Ao longo de quatro anos, Bicalho ludibriou suas vítimas com a promessa de enriquecimento rápido. Ele se apresentava como Marcello Mattos, dizia estar à frente da Mattos Invest e vendia a ideia de que era possível obter rentabilidade que variava entre 30% e 500% com investimento inicial de, no mínimo, R$ 1.500. 

Para alimentar as ilusões das vítimas, o suposto golpista conferia a elas, no início, algum lucro. Ele também chegou a criar um canal no YouTube, em que dava dicas de investimentos. Com o esquema, ele pode ter lucrado ao menos R$ 500 milhões. 

Desmascarado. A máquina de fazer dinheiro começou a ruir há seis meses, quando o golpe foi exposto por um grupo que se autointitula como combatente de pirâmides. Para desmascarar Bicalho, eles publicaram, na internet, uma sabatina em que o mineiro demonstra não ser grande conhecedor do mercado financeiro. Logo, suas vítimas começaram a requisitar o saque de seus investimentos – que, de início, chegaram a ser feitos. 

Ao perceber que estava sendo desmascarado, no entanto, ele deixou a cidade de Montes Claros e fugiu para a Bahia, comprando uma casa em Porto Seguro. O endereço foi descoberto, e a saída do golpista foi alugar uma ilha, segundo o delegado Gustavo Barletta, do Departamento Estadual de Crimes contra o Patrimônio. 

“Ele alugou essa ilha por três meses, no valor de R$ 120 mil, pagos à vista. Depois, ele resolveu ir para um lugar com estrutura melhor, que foi uma pousada-resort em Arraial D’Ajuda (distrito da cidade)”, contou o policial.

Bicalho desembolsava mensalmente R$ 30 mil para usar o espaço com exclusividade. Na garagem, tinha carros avaliados em até R$ 500 mil. Ele mantinha um circuito de câmeras de vigilância e segurança particular. 

Investigação mira mais dez suspeitos

Além de Marcel Bicalho, a polícia prendeu Leonardo Oliveira Silva, 32, apontado como laranja do esquema. Com R$ 1.500 de salário mensal, o suspeito passou a ter patrimônio avaliado em quase R$ 3 milhões. 

Segundo a Polícia Civil, ele já estava se desfazendo dos bens – e, por isso, autoridades trabalham para que esses negócios sejam bloqueados. As investigações continuam para identificar pelo menos dez captadores da pirâmide financeira.

Bicalho vai responder pelos crimes de estelionato e organização criminosa. A corporação também tenta enquadrá-lo no crime de evasão de divisas, pois parte do dinheiro pode ter sido enviado a paraísos fiscais.

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