Alerta

Estelionatários investem no golpe da falsa doação

Abrigo Cão Viver foi alvo da prática, mas percebeu ação de criminosos a tempo

Por Luciene Câmara
Publicado em 02 de agosto de 2016 | 03:00
 
 
 
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Quem vive de resgatar animais do abandono sabe que o trabalho é infinito e que toda colaboração é bem-vinda. Mas, em vez de apoio, o abrigo Cão Viver, em Contagem, na região metropolitana da capital, por pouco não caiu em um golpe. Estelionatários simularam um depósito na conta da associação e depois solicitaram devolução de parte do dinheiro, alegando um equívoco na hora de fazer a transação. O objetivo era fazer mais um alvo do “falso depósito”, modalidade que tem se repetido até cinco vezes por semana, segundo agentes de banco.

Embora não tenha dados, a Polícia Civil também conhece a prática e informou que a população deve ficar alerta. O caso da Cão Viver ocorreu na sexta-feira passada, quando um homem ligou para a associação dizendo que queria doar R$ 2.000, mas que o financeiro de sua empresa tinha feito o depósito errado, de R$ 9.800, que era para um fornecedor. O suposto doador conseguiu ainda o celular da presidente da entidade, Mariza Catelli, e ligou para ela de um número com DDD 65, do Mato Grosso (MT).

“Ele disse que seu filho morava em Belo Horizonte, gostava de animais e pediu para ajudar a Cão Viver. Perguntei o nome do filho dele, mas ele desconversou”, contou Mariza. Segundo ela, o homem era cordial e errava muito o português.

Mariza conferiu o extrato e viu que havia realmente um depósito de R$ 9.800 na conta da associação, no Bradesco, ainda a ser confirmado. O gerente alertou que ela esperasse o dinheiro ser liberado antes de devolvê-lo. Nesse meio tempo, entretanto, a presidente da entidade recebeu vários e-mails dos golpistas cobrando a quantia. “Ele chegou a passar uma conta do Itaú para depósito e dizia que precisava do dinheiro para liberar um caminhão de material perecível em sua empresa. Pedia a devolução de ao menos R$ 2.000”, relatou.

Logo se confirmou que o envelope do depósito estava vazio. “O gerente do banco comentou que esse golpe está acontecendo pelo menos cinco vezes por semana e que várias pessoas estão sendo prejudicadas”, completou Mariza. Ela mandou e-mail para várias ONGs e associações sem fins lucrativos alertando sobre o golpe. “A gente custa a se manter financeiramente, aí vem gente tentando tirar o pouco que temos”, concluiu Mariza.

Informações do abrigo Cão Viver em www.caoviver.com.br

Atenção

Sinais. Os golpes de falsos depósitos costumam ocorrer às sextas-feiras, já que a pessoa não terá como comprovar a operação bancária no fim de semana. Desconfie de erros de português em mensagens.

Respostas

Bancos. O Bradesco informou que adota uma rigorosa política de segurança e que o comprovante de depósito feito nas máquinas alerta que o valor entregue está sujeito a conferência. Para depósitos em cheques, aparece no extrato do cliente que o “valor está vinculado”. O Itaú não respondeu.

Febraban. A Federação Brasileira de Bancos (Febraban) informou que cada instituição financeira tem sua própria política de ressarcimento e orientou que as pessoas sempre desconfiem de vantagens financeiras, não recebam créditos de desconhecidos e confiram seus extratos.

Delegado

População não deve ‘aceitar’ facilidades

Falso sequestro, falso depósito, falso seguro de vida e por aí vai. O que não falta é golpe e nome para cada modalidade, tamanha é a criatividade dos estelionatários. O chefe do Departamento de Operações Especiais da Polícia Civil (Deoesp), Ramon Sandoli, disse que há dificuldade em investigar esse tipo de caso, já que a maioria das ligações parte de outros Estados.

Além disso, não há uma delegacia especializada para o crime de estelionato nem dados específicos para os golpes aplicados por telefone. De janeiro a maio deste ano, foram registradas 2.848 ocorrências de estelionato na capital e 11.665 em Minas, média de 77 por dia no Estado.

“As pessoas têm que parar de querer vantagens, acreditar em facilidades e prêmios”, afirmou Sandoli. Segundo ele, o crime, muitas vezes, é praticado por presidiário e parte de várias regiões do país. “Não façam nenhum depósito sem antes checar muito bem as informações”, alertou o delegado. (LC)

 

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