O processo de liquefação dos rejeitos causou o rompimento da barragem I do Córrego do Feijão, em Brumadinho, na região metropolitana de Belo Horizonte, acontecido no começo da tarde de 25 de janeiro. Esta conclusão é parte de um estudo encomendado a especialistas em engenharia geotécnica pela Vale e por sua assessoria jurídica externa. O laudo da empresa Skadden, dos Estados Unidos, originalmente escrito em inglês, contém 88 páginas e só foi divulgado à imprensa na manhã desta quinta-feira (12).
Sob linhas gerais, liquefação é o nome dado quando materiais sólidos se comportam como fluidos. De acordo com a análise técnica, a falta de recursos de drenagem significativos na estrutura da mina Córrego do Feijão e a presença de camadas de rejeitos finos dentro da própria barragem acabaram aumentando o nível de água no interior da estrutura. Isso provocou, então, o rompimento da estrutura. Cálculos apontam que cerca de 9,7 milhões de metros cúbicos de lama escorreram para a área externa da barragem em menos de cinco minutos e soterraram tudo que havia à frente da estrutura.
Os especialistas investigaram imagens de drone feitas na área da barragem nos dias que antecederam a tragédia e ainda outro registro que mostra o instante exato em que a estrutura se rompeu. "Com base nestas observações, fica claro que o rompimento foi resultado da liquefação estática dos materiais da barragem", apresentam os técnicos ainda nas primeiras páginas do laudo.
Descartadas outras hipóteses
Aliás, de acordo com os especialistas, imagens áreas registradas sete dias antes do rompimento apontam que não havia quaisquer sinais de instabilidade na estrutura. "A barragem foi monitorada extensivamente (...). Nenhum desses métodos detectou deformações ou alterações significativas antes do rompimento", aponta o laudo.
Não apenas, análises de imagens de satélite pós-rompimento indicaram aos especialistas deformações lentas mas que, segundo o laudo, são "compatíveis com recalque lento e de longo prazo da barragem e não seriam, sozinhas, um indicativo de um precursor do rompimento".
Abalos sísmicos, naturalmente causados ou provocados por detonações – que, segundo depoimento de um funcionário da Vale, aconteceram momentos antes da ruptura da barragem –, não foram gatilhos para o rompimento, conforme defendem os especialistas contratados pela minerado. "Embora tenham ocorrido detonações nas minas a céu aberto na área, não houve detonação registrada pelo sismógrafo mais próximo da barragem I no dia 25 de janeiro de 2019, antes do rompimento".
Hipótese já havia sido levantada
Um dos relatórios traçados pela consultoria alemã TÜV SÜD e que atestou a estabilidade da barragem que se rompeu já havia revelado que a estrutura operava com uma margem de segurança muito baixa para a liquefação dos rejeitos. Assim, nos primeiros meses após a tragédia, o fenômeno já era apontado como provável causa do colapso.
Não apenas, um estudo feito por um funcionário da Vale, em 2010, a respeito da estrutura, já apontava a possibilidade de liquefação na barragem I da mina Córrego do Feijão.
Liquefação também em Mariana
O processo de liquefação de rejeitos também foi a causa do rompimento da barragem de Fundão em Mariana, na região Central de Minas Gerais, segundo um inquérito da Polícia Civil apresentado em 2016. Esta tragédia deixou 17 pessoas mortas, os rejeitos contaminaram o Rio Doce e destruíram cerca de 40 povoados.
Tragédia em Brumadinho: quase um ano
Um mês e treze dias é o tempo que resta para que a tragédia em Brumadinho complete um ano exato. Ao longo dos últimos dez meses, militares do Corpo de Bombeiros buscam nos rejeitos os corpos de todas as pessoas que morreram em decorrência do rompimento da barragem. Duzentas e cinquenta e sete pessoas, soterradas, já foram encontradas e identificadas após trabalhos de perícia técnica. Outras 13 ainda estão desaparecidas sob a lama.