A secretária de Desenvolvimento Social de Brumadinho, Sirlei de Brito Ribeiro, uma das vítimas do rompimento da barragem da Vale, recebe homenagens na Câmara Municipal na tarde desta quarta-feira (30). O local recebeu centenas de familiares, amigos e alunos de Sirlei, que também era coordenadora do curso de Direito da Faculdade Asa. O corpo da professora não será velado e vai ser levado em cortejo para o sepultamento no cemitério municipal.
Sirlei é lembrada por todos pela solidariedade e pela luta contra a atuação das mineradoras. “O sentimento que a gente tem hoje, não só a família, mas a cidade como um todo, porque ela sempre foi muito ativista, é de tristeza e uma revolta muito grande. Ela sempre lutou contra os abusos que as mineradoras praticam aqui na cidade, principalmente na comunidade de Córrego de Feijão, onde ela morava, e acabou sendo levada por aquilo contra o que ela lutou por tanto tempo”, lamentou a sobrinha de Sirlei, Eliana Cristina de Brito. Segundo ela, a tia era vista pelas mineradoras como um obstáculo. “Ela estava sempre levantando questionamentos em reuniões públicas, com a comunidade, não só em relação à questão do dano ambiental que a mineradora traz para a região, mas também a riscos de rompimento de barragem. A gente espera que as autoridades tenham uma atitude contundente, porque isso vai acontecer de novo, e a Sirlei gostaria muito que a luta dela tivesse continuidade”, disse.
Sirlei estava em casa na hora da tragédia. Ela morava a cerca de 500 metros da mina da Vale. De acordo com o sobrinho da vítima, Vinicius Eduardo de Brito, de 25 anos, o caseiro e a empregada estavam com ela no momento do rompimento da barragem, mas conseguiram correr.
“A gente espera que a Vale pague por tudo o que cometeu. A gente espera que eles não saiam impunes, não façam como fizeram em Mariana e deem atenção para as famílias. Minha tia lutava porque sabia que um dia iria acontecer um acidente desse”, afirmou.
Na Câmara Municipal, Sirlei recebeu homenagens com faixas, músicas e orações. Os livros que ela escreveu também foram expostos. “Era uma pessoa maravilhosa, amiga, exemplar, com um coração em que todo mundo cabia dentro, fazia muita caridade. Aprendi demais com ela”, disse o estudante de direito Maxwell Rosa, de 22 anos, aluno da vítima por um ano.
Sirlei ainda fazia trabalhos sociais. Ela criou um grupo chamado "Solidariedade" e mantinha uma casa de acolhimento para crianças carentes em Brumadinho. “Ela fazia festa de aniversário para as crianças, doava o tempo dela aos fins de semana para estar junto com elas, quem ela pôde ajudar ela ajudou. Era uma pessoa extraordinária mesmo”, contou o colega de grupo Ademir Cândido, de 49 anos.
O prefeito de Brumadinho, Avimar de Melo, mais conhecido como Neném da Asa (PV), participou da despedida da professora. Ele não quis dar entrevista, mas disse que considerava Sirlei como uma irmã.