Por quase quatro décadas, Maria Aparecida trabalhou com carteira assinada. Aos 52 anos, buscou se qualificar e entrou na faculdade. Mas, em vez de as portas se abrirem após o investimento na carreira, elas se fecharam. “Pensei que conseguiria estabilidade com a graduação de recursos humanos, pois sempre convivi com demissões, mas acabei não sendo mais aceita”, diz. Diante do desemprego e da necessidade de complementar renda, ela resolveu empreender.
Em 2016, Maria Aparecida se uniu a três amigas e ingressou na Feira da Economia Solidária em BH. “Sempre que ficava desempregada, fazia faxinas, salgados e, diante da exclusão que sofri pelo mercado de trabalho, resolvi investir no artesanato”, conta. Vendo vídeos na internet, ela aperfeiçoou as técnicas de produção de bijuterias e criou o Meninas Arteiras.
Segundo a diretora do Programa de Economia Solidária da Prefeitura de Belo Horizonte (PBH), Águeda Bafile, o projeto é uma política pública que é uma “forma de geração de trabalho, renda e inclusão social”. “A economia solidária trabalha com grupos de pessoas, e não o indivíduo. Para ingressar, é preciso que haja, no mínimo, três integrantes e que sejam do mesmo segmento”, explica.
As feiras nas ruas são um exemplo de empreendedorismo social como saída para pessoas que buscam alternativas de sobrevivência, como lembra o analista do Serviço de Apoio às Micro e Pequenas Empresas de Minas Gerais (Sebrae Minas) Evandro Carmo. “Temos também casos de brechós formados com a mesma lógica de empreendedores que se unem em um espaço para dividir custos. Temos barbearias montadas por mais profissionais que atuam juntos, e essa união é uma tendência em vários segmentos”, explica.
Em BH, a Subsecretaria de Trabalho e Emprego (Sute), por meio da Diretoria de Economia Solidária, é responsável pela gestão do projeto e do Centro Público de Economia Solidária (Cepes). No espaço, há mais de 260 grupos e 780 integrantes cadastrados. Em geral, eles comercializam itens de vestuário, artesanato, cosméticos, além de alimentos variados.
Qualidade de vida
O convite para ingressar aconteceu quando Castro resolveu abrir mão do antigo serviço, no qual ficou por mais de 15 anos. “Vivia com dores provocadas pelo reumatismo, tive problema de úlcera e não tinha vida social e familiar. Comprei um pula-pula e fui para uma praça. Cobrava R$ 2 por 15 minutos. Recebi o chamado para ingressar na feira e cá estou. A economia solidária nos proporciona crescer na vida. É dela que vem o sustento da minha família. Nem as dores sinto mais”, conta Castro, que emprega seis pessoas no negócio.
Em Contagem, 800 pessoas participam do programa. “O poder público tem o papel de organizar os grupos para que eles tenham mais oportunidades de comercialização, orientação a acesso a crédito e os apoiar em atividades e eventos”, diz a subsecretária de Trabalho e Geração de Renda da prefeitura, Mara de Castro.
A união é o ponto central destacado por Giovana Murça, 58, que comercializa bolos e conservas de legumes. “Se eu pudesse definir a feira em uma palavra é solidariedade. É um empreendimento para dar lugar e vez a todos. O projeto está crescendo, e todos saem ganhando”, diz.
Comércio aposta na economia colaborativa na capital
Ele explica que a integração acontece de diferentes formas: com o compartilhamento do espaço para uso também da mesma internet, da mesma luz e água; com a criação de páginas de vendas online conjuntas; com o intercâmbio de produtos e serviços; e com união para busca de crédito juntos.
A Horta da Cidade, em Belo Horizonte, é um exemplo dessa prática. O local é um espaço onde associados pagam uma mensalidade para colher produtos orgânicos e levar materiais para a compostagem. “Somos uma empresa de impacto social que faz diferença para a saúde das pessoas e para o meio ambiente”, conta uma das cooperadas, Carolina Fernandes.
Segundo o proprietário do negócio, George Lucas Fernandes, eles têm 80 associados e ainda estendem as mãos para mais de dez produtores da região, deixando a produção deles disponível para a venda no local. São oferecidos produtos como mel, cogumelos e quiabo.
“É uma economia circular. Nós apoiamos produtores, eles nos ajudam, e os cooperados fecham o ciclo”, diz a cooperada Carolina Fernandes.