De origem humilde, baixa escolaridade e com o sonho da casa própria, dezenas de pessoas caíram no golpe de uma quadrilha que vendia terrenos que pertencem à Prefeitura de Belo Horizonte (PBH) no bairro Jardim Vitória, região Nordeste da capital. Nesta terça-feira (12), a Polícia Civil cumpriu mandados de busca e apreensão nas residências de três investigados, entre eles um subtenente da Polícia Militar que, a princípio, seria um dos mentores dos golpes.
"Em meados no ano passado, a Prefeitura de Belo Horizonte nos procurou com uma demanda urgente noticiando que diversos terrenos em uma região específica do bairro Jardim Vitória estavam sendo invadidos. Terrenos esses que seriam do município. Começamos uma investigação com o trabalho de inteligência e utilização de drones e conseguimos mapear a atuação de uma suposta quadrilha", explicou o delegado Eduardo Vieira, do Departamento Estadual de Investigação de Crimes Contra o Meio Ambiente (Dema).
O esquema funcionava da seguinte forma: o grupo invadia terrenos da prefeitura, loteava e vendia as áreas. O valor variava de R$ 15 mil a R$ 20 mil. No entanto, caso o comprador não tivesse a quantia toda, os golpistas aceitavam valores menores e até mesmo veículos para conclusão da transação.
"Ainda no ano passado deflagramos a operação Tellus e conseguimos levantar informações de um homem que ali exercia a função de 'linha de frente', que fazia as invasões e realizava as vendas. Ele foi preso preventivamente. Nesta terça-feira cumprimos mandados de busca e apreensão em Belo Horizonte e Santa Luzia, onde arrecadamos documentos, como contratos de compra e venda de terrenos, celulares e mídias digitais que serão periciados", detalhou o policial.
Quadrilha
Ao menos quatro pessoas participaram do esquema. Além do linha de frente e do militar, um topógrafo e um homem que faz parte de uma associação de bairro são investigados.
"Nós averiguamos que ele se utilizava de ser membro de associação de bairro para ganhar a confiança das pessoas. A gente não consegue dizer o valor do lucro da quadrilha, mas a gente pode dizer que são dezenas de pessoas ludibriadas. São valores grandes e, com toda certeza, serão objetos de investigação", afirmou.
Dos quatro, apenas o linha de frente admitiu participação no esquema. Os nomes dos suspeitos não foram divulgados.
Minientrevista
Delegado Eduardo Vieira
Qual o perfil dessas pessoas que compravam os terrenos?
São pessoas humildes, de baixíssima escolaridade. Inclusive, as investigações demonstram que essas características que facilitaram o engano perpetrado. São pessoas que nunca tiveram casas.
Os investigados podem responder por quais crimes?
Podem responder pelos crimes contra a administração pública, estelionato e associação criminosa.
Como fica a situação desses compradores?
Em paralelo à investigação existe um procedimento administrativo da prefeitura para lidar com essas pessoas que compraram os terrenos.
Posicionamento da Polícia Militar
A corregedoria da Polícia Militar acompanhou a ação da Polícia Civil nesta terça-feira. Por meio de nota, a assessoria de imprensa da corporação informou que providências administrativas já estão sendo tomadas.
Veja o comunicado na íntegra:
"A Polícia Militar de Minas Gerais (PMMG) esclarece tratar-se de um militar reconduzido à ativa, que atua na área administrativa da instituição. A PMMG esclarece ainda que todas as providências legais e administrativas estão sendo adotadas pela Corregedoria da instituição, que acompanha as apurações realizadas pela Polícia Civil".
Prefeitura
Em nota, a PBH informou que o local é uma área de preservação permanente localizada no bairro Jardim Vitória, na região Nordeste. Ao constatar tentativas de ocupação e de venda ilegal de terrenos, o Executivo disse que acionou o Departamento Ambiental da Polícia Civil para as investigações devidas.
"Desde 2018, a Prefeitura vem atuando para evitar novas ocupações na área e realizando as ações de desocupação, com a demolição de obras iniciadas. A PBH salienta que o local continuará em permanente monitoramento para impedir novas tentativas de ocupação e de parcelamento clandestino", completa a nota.
Atualizada às 19h36.