Duzentos e cinquenta anos de história, fé e oração narram a presença da imagem de Nossa Senhora da Piedade na igreja que leva o nome da padroeira, em Caeté, na região Metropolitana de Belo Horizonte. A obra do século XVIII, atribuída a Aleijadinho, retornou nesta quinta-feira (2 de março) ao local de oração, após 60 dias afastada do altar. O motivo do afastamento foi uma processo de manutenção da imagem, depois que responsáveis pelo local desconfiaram da presença de insetos na arte barroca.
"Havia excrementos de cupins nos pés da imagem e no entorno. Apesar de não ter sido constatada a atividade desses insetos no interior da escultura, por precaução, ela foi submetida a uma técnica de manutenção", detalha uma das responsáveis pela intervenção na imagem, a museóloga da Arquidiocese Metropolitana de Belo Horizonte Rayane Rosário. "A imagem foi posta em uma bolha plástica, com válvulas e totalmente vedada, para retirada do oxigênio e introdução de nitrogênio. Essa técnica elimina os seres vivos presentes na peça", conta.
Na época em que a imagem foi levada à Serra da Piedade, atribuiu-se sua autoria ao mestre do barroco mineiro, Antônio Francisco Lisboa, o Aleijadinho. Apesar de não ter documentos oficiais que comprovem o fato, os aspectos artísticos, como técnicas de pintura e características dos olhos das imagens de Maria e de Jesus, endossam a assinatura do artista na peça.
Símbolo de Fé e Espiritualidade
Para além da parte histórica e cultural, a imagem da Nossa Senhora da Piedade também representa a confiança da comunidade católica nas coisas de Deus. Para o reitor da Serra, padre Wagner Calegario, as pessoas que vão ao local estão em busca de esperança, e, na imagem da mãe com o filho que morreu para que houvesse o perdão de todos os pecados, esse sinal fica exposto no altar.
“Nós vivemos o tempo presente, que é marcado por dores e alegrias. O que de verdade conta é o que nutri e motiva nossos corações a continuar a caminhar, que é a esperança. No caso, a imagem de Nossa Senhora da Piedade remete à esperança que ela carrega no colo: a imagem de Cristo, quem ela apresenta, e não retém. E essa obra voltar ao altar é dar às pessoas a oportunidade de verem isso, além de marcar o cuidado que temos com algo que é tão cheio de história, de vida e de traços”, conta.
A imagem também simboliza possivelmente o primeiro milagre na região, além de representar a aparição de Nossa Senhora à uma jovem, há centenas de anos, que, ao ver a Mãe de Deus, foi curada de suas deficiências.
“Conta-se que uma moça surda e muda, caminhando por essas regiões, se deparou com uma senhora que lhe apresentou um rapaz morto no colo. Mais tarde, entende-se que imagem é a imagem de Nossa Senhora da Piedade. Essa moça volta, falando e ouvindo, sobre o que viu”, relata o religioso.
Mesmo séculos depois, já nos dias de hoje, ainda quem vê a imagem no altar da igreja, confia que graças podem ser alcançadas, como a artesã Rosiane Medina.
“Nós nunca viemos aqui antes, sempre acontecia algo que nos impedia de vir, mas hoje, viemos trazer meu sogro e minha sogra, que moram no Rio de Janeiro, e, ao chegarmos, nos deparamos com a imagem de volta, com a história do padre e foi maravilhoso, uma benção de Deus, sem dúvidas”, afirma.