Itabirito

Justiça dá 15 dias para prefeitura se posicionar sobre mineradora

Moradores de povoado temem contaminação das águas de nascentes, fonte de renda para muitos

Por Lucas Morais
Publicado em 16 de junho de 2020 | 03:00
 
 
 
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O pequeno povoado de Ribeirão do Eixo, em Itabirito, na região Central, volta mais uma vez suas atenções para a instalação, na vizinhança, de uma unidade de tratamento de minério da Aston Martin Participações. A queda de braço entre a prefeitura da cidade e a mineradora responsável pelo empreendimento já dura quase um ano e teve novo capítulo. No último dia 2, o juiz Antônio Francisco Gonçalves, de Itabirito, deu parecer favorável a liminar impetrada pela empresa e obrigou o município a conceder a certidão de conformidade para o projeto, documento exigido pelo licenciamento ambiental.

Segundo a decisão, por conta de mudanças no projeto minerário, que teve a conformidade atestada pela prefeitura em 2014 e 2016, foi solicitada nova documentação, que aguarda parecer da Secretaria Municipal de Meio Ambiente há um ano. O magistrado determinou que, 15 dias após ser notificada, a prefeitura dê parecer sobre a conformidade ou não do empreendimento, sob pena de multa diária de R$ 500.

A comunidade local é enfática sobre os danos que serão causados pela unidade. Pelo fato de se localizar em área de 62 nascentes do córrego do Eixo, que abastece quase 200 famílias, o projeto pode contaminar o curso d’água, que abastece o rio Itabirito, afluente do Velhas. "Caso essa mineração seja instalada, toda a água vai virar barro, e não conseguiremos mais usá-la. Não somos contra a mineração, mas eles querem instalar essa unidade em área de nascentes, o que vai atrapalhar todo mundo”, comenta uma líder comunitária que pediu para ter o nome preservado. “Vamos arrumar um advogado”, acrescenta.

O manancial é utilizado pela agricultura familiar e criatórios de peixes, fonte de renda para muitos. Para a moradora, a proximidade do empreendimento com a comunidade ainda pode gerar poeira e barulho.

Outro lado
Com as atividades paradas pela falta de documentação, a Aston alega, no processo, que o município tem assumido responsabilidades do licenciamento exclusivas do Estado. Advogada da empresa, Bruna Aguiar de Paula disse ontem a O TEMPO que não houve receptividade nas tentativas de diálogo com a comunidade e que a unidade de tratamento de minério é “importante para o Estado”, porque vai tratar rejeitos retirados das barragens. 

 

Nascentes são especiais

Coordenador do Projeto Manuelzão, Marcos Vinícius Polignano afirmou que a água das nascentes do córrego tem Classe Especial – pode ser consumida sem tratamento convencional. “O empreendimento não vai gerar riqueza para a comunidade, somente danos”, critica. Já a defesa da empresa alega que a água não é própria para o consumo humano sem tratamento.


O biólogo Francisco Mourão disse que pode haver consequências graves se o empreendimento for mal conduzido: “Inúmeras espécies de fauna e flora só vivem nessas áreas”. 
 

 

Local pode ser unidade de conservação

Secretário de Meio Ambiente de Itabirito, Frederico Leite informou ontem que a prefeitura não tinha sido notificada da decisão e que a expectativa é que o órgão recorra. “Estamos estudando como proceder. Sabemos do clamor da comunidade e dos direitos da empresa”, explicou. Segundo ele, como “o caráter de preservação é notório”, devido à área das nascentes, a secretaria elabora estudo para tornar a região uma unidade de conservação ambiental. 

“A declaração (de conformidade) é um documento necessário dentro do licenciamento ambiental, que é de responsabilidade do Estado. Porém, cabe ao município determinar as leis de uso e ocupação do solo e avaliar o melhor uso para a área”, detalhou. 

O projeto da unidade é analisado também pela Superintendência Regional de Regularização Ambiental, do Estado.  


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