2014

Legado da Copa do Mundo em BH: 'gol contra' na hotelaria e placar 'sem emoção'

Oito anos após a capital mineira sediar o evento futebolístico, setor de hotéis fala em diminuição do valor das diárias por grande aumento da oferta; segmento de eventos vê que havia mais potencial a ser explorado

Por Juliana Siqueira
Publicado em 17 de julho de 2022 | 03:00
 
 
 
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Mesmo oito anos após a Copa do Mundo realizada no Brasil, dois números ainda trazem pesadelos para milhares de fãs de futebol: 7x1. O placar, que definiu a vitória da Alemanha sobre a seleção canarinho na semifinal do evento, no estádio Mineirão, em Belo Horizonte, definitivamente não deixou muitas saudades daquele dia. 

No entanto, para entrevistados pelo jornal O TEMPO, essa não foi a única derrota da época: apesar da expectativa da torcida da capital mineira por "gols" nas áreas de eventos, hotelaria, trânsito, entre outras, a "rede" pode não ter balançado como se esperava. E ainda há muitos gritos de vitórias presos na garganta. 

Responsável pela pesquisa “A Copa do Mundo de 2014 e a Cidade: Impacto dos Megaeventos na Política Urbana”, Mariana Belinotte destaca que os investimentos na Copa do Mundo no Brasil e em Belo Horizonte foram uma “tentativa válida” de conseguir bons resultados, no entanto, muitos efeitos não foram os que se esperavam.

Mariana ressalta que houve, sim, benefícios com a realização do evento no país e em Minas Gerais, como a modernização de aeroportos e de estádios. Porém, ela lembra que há outros pontos a se pensar sobre o assunto. Esses pontos incluem licitações aceleradas, que muitas vezes não primaram pelos melhores modelos, além da questão financeira. Para ela, em um país cheio de conflitos econômicos, talvez outras escolhas fossem mais importantes naquele momento, embora não especifique quais.

“É aquela expressão do ‘cobertor curto’. Como não há dinheiro sobrando, talvez esses tipos de investimentos não devessem ser levados como de primeira necessidade”, afirma ela.

Se a metáfora do ‘cobertor curto’, por um lado, pode ilustrar bem o legado da Copa na opinião de Mariana Belinotte, por outro, o que se teve foi um "cobertor longo" demais em alguns casos. O setor de hotelaria, por exemplo, viu essa situação de perto, conforme entrevistados por O TEMPO.

De acordo com dados da Associação Brasileira da Indústria de Hotéis (ABIH-MG), a Prefeitura de Belo Horizonte concedeu 73 alvarás que autorizavam a construção de novos hotéis para atender os turistas na época da Copa do Mundo. 

Desse total, 35 foram beneficiados com os incentivos da Lei 9.952/2010, de Operação Urbana dos Hotéis Copa do Mundo Fifa Brasil 2014. Ainda segundo a entidade, 23 hotéis foram fechados na capital mineira desde a realização do evento futebolístico. Um deles foi o tradicional Othon Palace, que parou de funcionar em 2018 e foi arrematado por R$ 32,4 milhões no ano passado.

Mesmo com fechamentos, os dados da entidade que trazem um panorama da Grande BH mostram que, atualmente, há 132 hotéis operando na região, contra 105 antes da Copa do Mundo. Porém, o resultado disso não é muito animador: está "sobrando cobertor".

Queda de demanda em hoteis após a Copa 

“De certa forma, haveria um beneficiamento e haveria uma demanda que supriria a ocupação desses hotéis na cidade como um todo no período da Copa. Durante o período da Copa, aqueles hotéis que cumpriram o que a legislação preconizava tiveram uma ocupação suficiente e que realmente foi de acordo. Mas, a partir do momento que o evento acabou, houve exatamente o contrário: um excesso de oferta e uma queda na demanda, gerando um grande problema advindo dessa grande oferta que foi dada para um evento específico que dura um mês”, explica Guilherme Sanson, presidente da ABIH-MG.

Embora não seja possível falar exatamente sobre valores de diárias, já que os preços podem variar bastante de um hotel para outro, Sanson salienta que os preços baixaram bastante após a Copa do Mundo. Afinal, passou a haver uma oferta maior de leitos, com uma demanda que não a acompanhou.

“A diária caiu, em vez de subir, mesmo com as implicações das inflações dos períodos. A demanda sobe, mas não sobe na mesma proporção. Então, há um sucateamento, de certa forma, de todos esses empreendimentos”, diz ele.

Eventos

Se tem uma coisa da qual muitos brasileiros se orgulham no futebol é o fato de que o país é o único no mundo a ter conquistado o título de pentacampeão. Com a Copa do Mundo no Brasil, as expectativas na época eram de que o país também fosse visto como “único” em outros aspectos. 

Conforme destaca Mariana Belinotte, responsável pela pesquisa “A Copa do Mundo de 2014 e a Cidade: Impacto dos Megaeventos na Política Urbana”, as cidades se dedicaram para se divulgar internacionalmente.

Na época, muito se falou da expectativa de os municípios receberem um número maior de turistas. Também havia perspectivas de que as cidades fossem procuradas para grandes e importantes eventos internacionais.

Mais estrutura

Presidente do BH Convention & Visitors Bureau, Erica Drumond salienta que, em partes, isso aconteceu. Conforme ela destaca, o estádio Mineirão, que foi reformado para a Copa do Mundo e cujos investimentos ultrapassam os R$ 600 milhões em uma parceria público privada, passou a receber eventos e shows muito importantes. Isso, diz ela, movimenta a cidade e a hotelaria, com a presença de turistas. Porém, a projeção internacional não foi intensa como, talvez, se pensou naquela época.

“O Brasil já tinha uma imagem de que recebia bem as pessoas. Porém, sempre muito focado em futebol, Carnaval, sol e mar. O marketing poderia ter sido diferente”, diz ela.

Conforme Erica, Belo Horizonte e Minas Gerais como um todo têm muito a mostrar, como a água doce, a cultura e a gastronomia. Ela acredita que, depois da Copa do Mundo,  poderia ter havido um trabalho melhor para vender a imagem para o exterior. “Tem que continuar promovendo”, conclui.

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