Redução da escala de médicos, demora no atendimento de urgência e atrasos em exames e cirurgias eletivas. Essas são algumas das denúncias feitas por um profissional de saúde que atua em unidades de atendimento de Contagem, na Região Metropolitana de Belo Horizonte. Há ainda atrasos nos atendimentos de urgência, incluindo os pediátricos. “Anteriormente, a espera era de duas a quatro horas para atendimento geral. Hoje, as pessoas aguardam até oito horas. Já o atendimento pediátrico, que era de 30 minutos a uma hora, atualmente chega a até três horas de espera”, afirmou. 

A reportagem esteve no Complexo do Hospital Municipal de Contagem e na Upa Ressaca e se deparou com pacientes que corroboram a denúncia do servidor. No hospital, no dia 25 de agosto, a pequena Ana Luiza Saturnino, de 7 anos, se recuperava de uma cirurgia. Ela quebrou o braço no dia 18 e só foi operada no dia 22. “A cirurgia dela foi marcada para a sexta-feira (22/8). Só que a gente ficou de segunda até quinta sem saber quando o procedimento seria feito”, contou o pai dela, Daniel Saturnino, de 30 anos. Durante a cirurgia, a menina teve uma parada cardiorrespiratória e, até a tarde desta quarta-feira (3), estava internada na unidade de saúde sem se mexer ou falar. Agora, ela aguarda por uma tomografia e uma ressonância magnética que só devem ser feitas na sexta-feira (5/9). “Estou muito preocupado e não está certo isso que está acontecendo com a minha menina. Acho que ela vai ficar com sequelas”, disse.  
 
Na Upa Ressaca, a reportagem encontrou relatos de atrasos, escassez de médicos e demora nos exames. A cabeleireira Márcia de Oliveira, de 45 anos, por exemplo, esteve com a mãe, Tânia Ribeiro, de 70 anos, na unidade de saúde. A idosa estava internada com suspeita de trombose e enfrentou uma unidade superlotada e a demora de cinco dias para realizar o duplex scan. A paciente ficou internada durante o período. “Nós chegamos às 17h e ela só foi atendida às 21h — e isso porque era prioridade.” A cabeleireira relata ainda que, no dia 20 de agosto, a unidade tinha apenas um médico trabalhando. “No dia, a UPA estava muito cheia, com uma demora enorme. Havia apenas um médico atendendo. Às 19h houve a troca de plantão e ficou só uma médica até as 21h. Às 21h ainda tinha gente aguardando desde as 14h”, relatou. 

A escassez de médicos é confirmada pelo relato das denúncias recebidas pela reportagem. “Em geral, em Contagem, a saúde está um caos. A escala de clínicos da porta (pronto-socorro) foi reduzida de cinco para dois médicos, e os pediatras agora ficam sozinhos no período da noite, o que atrasa muito o atendimento. Na UPA Industrial também houve redução de pediatras. Foi um corte geral, até nas UBS e no Hospital Municipal. E não para por aí: exames eletivos e cirurgias estão parados”, disse outro profissional. 

Também na Upa Ressaca, a microempreendedora Ana Paula Costa, de 36 anos, estava deixando a unidade na companhia do pai, Geraldo Henrique de Almeida, 67, quando a reportagem chegou ao local. Almeida procurou a UPA por causa de fortes dores no joelho e princípios de desmaio. No entanto, a ida foi em vão, já que não havia nenhum ortopedista no pronto-socorro. “A menina falou que era mais fácil a gente ir embora e me deu o endereço de outra UPA, porque aqui eles iam passar só um remédio para dor. E a gente precisa fazer um raio-x. Lá dentro está muito cheio, a recepção lotada”, disse. 

Hospital: demora em exames e nas cirurgias 

O que diz a Prefeitura de Contagem? 
Em nota, a Prefeitura de Contagem informou que todas as UPAs do município estão com escalas médicas completas e contam ainda com consultórios de telemedicina para apoio imediato às unidades com maior demanda. A administração destacou que o tempo médio de espera nos atendimentos pediátricos varia entre 44 minutos e duas horas, dentro do limite do Protocolo de Manchester (sistema de classificação de risco). 

A prefeitura esclareceu que as obras das UPAs Ressaca e Vargem das Flores seguem em andamento e em fase de finalização da cobertura. Negou a paralisação de exames e cirurgias eletivas, afirmando que os procedimentos seguem conforme ordem de chegada e prioridade. Também negou redução no quadro de pediatras nas UBSs e explicou que, na UPA Industrial, há ajustes na escala entre os dias de maior e menor demanda, sem impacto no tempo de espera. 

Em relação aos casos específicos citados por familiares de pacientes, o Executivo municipal afirmou que todos foram atendidos conforme protocolo, com exames solicitados e realizados nos prazos previstos e intercorrências devidamente tratadas e comunicadas às famílias.

A reportagem também demandou um novo posicionamento sobre o caso da pequena Ana Luiza, mas até a publicação não houve retorno.

Leia a nota na íntegra ao fim da reportagem.  

Veja na íntegra os questionamentos e posicionamentos:  
 
“Redução da escala de médicos, principalmente clínicos de porta, de 5 para 2 profissionais; Apenas um pediatra atendendo no período noturno/madrugada. 
 
Todas as UPAs do município estão com escalas médicas completas. Além do atendimento presencial, as unidades contam com consultórios de telemedicina, que atendem somente casos de menor gravidade, permitindo o apoio imediato às UPAs com maior demanda. 
 
Atrasos nos atendimentos pediátricos: anteriormente de 30 minutos a 1 hora. E no atendimento geral: de 2 a 4 horas, atualmente a espera seria de 7 a 8 horas.  
 
O tempo médio de espera nas UPAs com atendimento pediátrico (unidades Vargem das Flores, Ressaca e Industrial) varia entre 44 minutos e duas horas, de acordo com a prioridade clínica de cada caso, permanecendo abaixo do limite estabelecido pelo protocolo de classificação de risco (Protocolo de Manchester - 2 horas). 
 
Situação das obras das UPAs Ressaca e Vargem das Flores: elas estão paradas? 
 
As UPAs Ressaca e Vargem das Flores seguem em obras dentro do projeto de requalificação, voltado à modernização das estruturas e melhoria do atendimento. Neste momento, as duas unidades estão em etapas de finalização da cobertura. 
 
Estagnação de exames eletivos e cirurgias 
 
Não há estagnação em exames e procedimentos eletivos. As UPAs realizam os exames de pacientes internados e em caráter de urgência.  
O fluxo de agendamento para os exames e cirurgias eletivas respeita a ordem cronológica da inserção da solicitação, a classificação de prioridade e a oferta disponível da rede prestadora. A rede de saúde tem ofertado exames e cirurgias eletivas e parte da demanda de Contagem depende da Programação Pactuada e Integrada (PPI), realizada em Belo Horizonte, e encontra-se sujeita à disponibilidade da rede pactuada.  
A Secretaria de Saúde está sempre buscando formas para ampliar a oferta própria de serviços, com novos credenciamentos de prestadores e otimização da fila de espera. 
 
Redução no número de ambulâncias destinadas ao transporte interno de pacientes. 
 
Sobre as ambulâncias, ressaltamos que, neste mês, a frota foi ampliada e passou a contar com sete veículos, sendo um deles de suporte avançado. As ambulâncias são destinadas ao atendimento interno entre as unidades de Contagem e ao transporte para exames externos. 
 
Redução de pediatras nas unidades de saúde: UPA Industrial, UBS e no Hospital Municipal. 
 
Não houve redução no quadro de pediatras nas UBSs.  
A UPA Industrial, nas segundas e terças-feiras, quando a demanda é maior, mantém a escala com três pediatras atendendo. Já de quarta a domingo houve a redução de um profissional no plantão diurno, sem impacto no tempo de espera, já que o movimento é menor nesses dias. 
No Centro Materno Infantil, a cobertura é garantida por três pediatras exclusivos para o Pronto-Socorro Pediátrico, em funcionamento 24 horas por dia. Além disso, existem outros pediatras  atuando no setor de internação. O número de profissionais desse setor depende da especialidade e da quantidade de leitos da unidade. 
 
Quanto aos casos específicos: 
 
Um paciente de 67 anos procurou atendimento na UPA Ressaca nesta segunda-feira (25/8), com fortes dores nas pernas, mas, segundo familiares, foi orientado a buscar outra unidade, já que não havia ortopedista disponível no local. 
 
O paciente foi atendido na UPA Ressaca, onde passou por consulta médica, recebeu medicação e foi orientado a procurar pelo atendimento de urgência especializado em ortopedia, que acontece na UPA Industrial. 
 
Uma paciente de 70 anos está internada na UPA Ressaca com suspeita de trombose desde quarta-feira (20/8). Até a manhã desta segunda-feira (25/8), ela ainda não havia realizado o exame específico para confirmar o diagnóstico. A filha informou que o tratamento já foi iniciado, mas sem a confirmação da suspeita. 
 
Informamos que o exame da paciente em questão foi solicitado imediatamente após a sua entrada na unidade, na madrugada de sexta-feira (22/08), sendo agendado para o próximo dia útil, segunda-feira. Assim, o exame já foi concluído e a paciente já retornou à unidade. 
 
Uma criança de 7 anos deu entrada no Complexo do Hospital Municipal na segunda-feira (18/8) com o braço quebrado. A cirurgia só foi realizada na sexta-feira (22/8). Durante o procedimento, a paciente apresentou complicações, incluindo uma parada cardíaca de 4 minutos, precisando ser entubada. Atualmente, encontra-se no CTI. A família relata que não recebeu explicações sobre o ocorrido, considerando que a menina já havia passado pela mesma cirurgia em fevereiro deste ano. Também alegam que não foram realizados exames prévios, como o risco cirúrgico. Informaram também que foram comunicados que uma das complicações seria pela menina estar gripada, mas durante a semana a família questionou a menina estar tossindo e foi dito que é devido ao local "ser frio". 
 
A paciente em questão deu entrada na unidade, foi submetida ao procedimento cirúrgico indicado e, durante a cirurgia, apresentou uma intercorrência, prontamente identificada e revertida pela equipe médica. Após a estabilização, a paciente foi encaminhada ao Centro de Terapia Intensiva (CTI), onde permanece sob acompanhamento e recebendo todos os cuidados especializados necessários. 
 
Antes da cirurgia, foi realizada a avaliação de risco anestésico pré-operatório, conforme protocolo, não sendo identificadas contraindicações para o procedimento. 
 
Todas as informações médicas pertinentes, assim como eventuais intercorrências, são comunicadas diretamente à família pela equipe responsável, de forma clara, contínua e com absoluto respeito à privacidade da paciente”.