Do pobre ao rico, do jovem ao idoso, e com origem nas mais distintas regiões de Minas. Galoucura e Máfia Azul representam atleticanos e cruzeirenses dos mais variados tipos, e a dimensão dessas organizadas e a capilaridade delas por Minas Gerais é algo que nem os antigos presidentes conseguem explicar. 

Esse perfil heterogêneo das organizadas foi detalhado por uma pesquisa do Grupo de Estudos sobre Futebol e Torcidas (Gefut) da Escola de Educação Física, Fisioterapia e Terapia Ocupacional da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), coordenada pelo professor Silvio Ricardo da Silva. Segundo ele, a visão estigmatizada de que os grupos apoiam a violência prejudica a visão real do problema.

“Essas brigas são um reflexo do que é a nossa própria sociedade, e, se não acontecesse com esses grupos, seria de outra forma. São pessoas que acabam se envolvendo nesses conflitos numa lógica maluca de masculinidade tóxica, na qual acham que a violência é solução. Porém, não é a totalidade das torcidas organizadas, e sim uma minoria”, ressaltou.

Defensor de punições mais severas para membros das torcidas que se envolvem em brigas, Silva acredita que falta diálogo entre poder público e organizadas para resolver a situação. “Há quanto tempo vigoram medidas como torcida única e banimento dos estádio? Isso não diminui em nada a violência, só a transporta para longe do estádio. É preciso que as partes se sentem e que a solução venha por meio do diálogo”, defende. Quem já viveu o dia a dia das principais torcidas organizadas de Atlético e Cruzeiro acredita que a visão sobre os grupos é equivocada e que tudo o que já foi feito para combater a violência, na realidade, tem ajudado a mascará-la. O controle da diretoria é limitado, segundo César Augusto Cunha Dias, 38, conhecido como “César Gordin”, que tem 25 anos dedicados à Galoucura – foi presidente de 2011 a 2016 e atualmente é secretário municipal de Esportes em Santa Luzia, na região metropolitana. 

“Em cada região onde a torcida tem sede, existe um diretor, que é o comandante da região. Hoje, e mesmo na minha época, o presidente não consegue saber o que outros diretores estão tentando fazer. São coisas que não têm nada a ver com futebol e que às vezes não têm nem nada a ver com a torcida. Tem briga que é colocada como culpa nossa que às vezes não envolve nem membro efetivo da torcida”, justifica.

Cruzeirenses com a palavra

Do lado azul da discussão, o entendimento é igual. Jean Marc Gougeuil, 58, conhecido como “Francês”, que participou da criação da Máfia Azul e presidiu a torcida de 2002 e 2006, afirma que uma minoria se esconde entre as organizadas para promover confusões. “Em uma organizada, 99% dos torcedores são tranquilos, mas 1% é de baderneiros. E não adianta falar de cadastro de torcida organizada, de punição e banimento do estádio, porque essas pessoas não ligam. Nesse último jogo mesmo, a Máfia Azul estava banida. Ainda assim, foi todo mundo à paisana naquela confusão, e deu no que deu”, analisou.

César Gordin e Francês concordam que a violência, que é generalizada no Brasil, tem se espalhado para dentro das torcidas. Para eles, a solução passa pelo diálogo com as autoridades e o exemplo das diretorias. “Se o torcedor olhar para cima e ver que as lideranças agem com violência, eles vão querer repetir isso”, diz Gordin. “Um bom presidente de torcida não pode se envolver em confusões”, analisa.

Quem são os dirigentes

Atualmente, a Galoucura é presidia por Josimar Júnior, que chegou a ser preso após briga generalizada no jogo entre Brasil e Paraguai, em fevereiro deste ano. A presidência da Máfia Azul tem sido exercida por Bruno Wallace Reis, que não quis dar entrevista e indicou como fonte o advogado da organizada, Sávio Mares. O defensor afirmou que a Máfia Azul não compactua com a violência.

Brigas são reflexo do que é a nossa sociedade

Do pobre ao rico, do jovem ao idoso, e com origem nas mais distintas regiões de Minas. Galoucura e Máfia Azul representam atleticanos e cruzeirenses dos mais variados tipos, e a dimensão dessas organizadas e a capilaridade delas por Minas Gerais é algo que nem os antigos presidentes conseguem explicar. 

Esse perfil heterogêneo das organizadas foi detalhado por uma pesquisa do Grupo de Estudos sobre Futebol e Torcidas (Gefut) da Escola de Educação Física, Fisioterapia e Terapia Ocupacional da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), coordenada pelo professor Silvio Ricardo da Silva. Segundo ele, a visão estigmatizada de que os grupos apoiam a violência prejudica a visão real do problema.

“Essas brigas são um reflexo do que é a nossa própria sociedade, e, se não acontecesse com esses grupos, seria de outra forma. São pessoas que acabam se envolvendo nesses conflitos numa lógica maluca de masculinidade tóxica, na qual acham que a violência é solução. Porém, não é a totalidade das torcidas organizadas, e sim uma minoria”, ressaltou.

Falta diálogo, diz especialista

Defensor de punições mais severas para membros das torcidas que se envolvem em brigas, Silva acredita que falta diálogo entre poder público e organizadas para resolver a situação. “Há quanto tempo vigoram medidas como torcida única e banimento dos estádio? Isso não diminui em nada a violência, só a transporta para longe do estádio. É preciso que as partes se sentem e que a solução venha por meio do diálogo”, defende.

“O poder público já sabe quem cria os problemas de sempre. Esses são os caras que precisam ser banidos. A torcida é patrimônio do futebol, estádio sem torcida é um ponto morto”, observou Silva.