Acusação

Liga de blocos denuncia ação intimidatória da PM a cantor do Havayanas Usadas

Dois militares teriam ido à casa do vocalista para determinar que ele se abstivesse de 'gestos e ações com potencial de incitar os participantes', segundo relato feito à PM

Por Pedro Augusto Figueiredo
Publicado em 23 de fevereiro de 2020 | 11:20
 
 
 
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Dois policiais militares foram até a residência do cantor dos blocos Havayanas Usadas e Raga Mofe sem razão aparente e tentaram intimidá-lo, segundo relato do próprio Heleno Augusto. Já a PM afirma que a visita foi de cunho preventivo e ocorreu em tom amistoso, com o objetivo de aumentar a sensação de segurança no Carnaval.

Os policiais teriam determinado que o cantor divulgasse mensagens da PM durante os blocos e que ele se abstivesse de “adotar qualquer gesto, palavras ou ações que tenham o potencial de incitar nos participantes atos que atentem contra a tranquilidade e segurança pública”, conforme boletim de ocorrência registrado por ele e divulgado por coletivo de blocos do Carnaval de BH.

A abordagem ocorreu na quinta-feira, 20, em meio à polêmica entre a Polícia Militar e a organização dos blocos sobre a liberação dos caminhões de som e trios elétricos.

Ainda de acordo com o boletim de ocorrência, os policiais afirmam que o cantor foi “notificado, conforme acordado anteriormente, que o início do bloco Raga Mofe será às 11h da manhã e o término, impreterivelmente, às 15h”. 

Os policiais determinaram também que, ao término do bloco, Heleno desligue o equipamento de som e dirija-se, juntamente com seu trio elétrico, “de maneira mais ágil possível para área diversa do local de realização do evento”.

Procurada, a Polícia Militar de Minas Gerais disse que "foram realizadas visitas comunitárias com representantes de blocos nas áreas de alguns Batalhões com cunho preventivo", não intimidatório ou repressivo, com o objetivo de ampliar a sensação de segurança no Carnaval e solicitar o apoio dos blocos para a divulgação de dicas preventivas durante suas apresentações.

Além disso, segundo a PM, também foram repassadas orientações para que se evitassem estímulos à violência e ocorrências de crimes durante o Carnaval.

Em nota, a Liga Blocada, que reúne os blocos Havayanas Usadas, Sagrada Profana, Unidos do Samba Queixinho, Então, Brilha!, Chama o Síndico e Me Beija Que Eu Sou Pagodeiro, disse que teme o que pode acontece nos desfiles dos blocos “porque não abrirei mão dos nossos direitos assegurados no artigo 5º da Constituição Federal de liberdade de expressão e de reunião em locais abertos ao público independentemente de autorização”.

“Se alguém tinha dúvidas do que estava por trás das exigências descabidas da PMMG em relação aos carros de som na última semana, inviabilizando ou dificultando a realização de cortejos de vários blocos, não tem mais”, diz a nota.

A reportagem não conseguiu contato com o cantor Heleno Augusto porque ele participa, na manhã deste domingo, do cortejo do bloco Raga Mofe.

De acordo com o cantor do bloco  Me Beija que Eu Sou Pagodeiro, Mateus Brant, os policiais, primeiro, ligaram para Heleno Augusto, solicitando que ele fosse ao batalhão.

“Ele se recusou porque não tinha motivo para ir e os policiais foram até a casa dele.

O Heleno se sentiu constrangido a ter que ler as mensagens, ou mesmo não ficar lá depois. Não faz sentido nenhum”, disse.

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