Se os 42 anos de Viviane Soares dos Santos foram vividos com uma deficiência visual que a impedia de ver o mundo, os 36 anos da irmã dela, Liliane Soares dos Santos, foram, sem dúvida alguma, usados para fazê-la enxergar a vida. É assim que familiares e amigos descrevem a relação das duas irmãs, que morreram nessa segunda-feira (14) após o carro de aplicativo de transporte em que estavam avançar a placa de parada obriogatória e colidir com um ônibus no Anel Rodoviário, em Belo Horizonte.
As duas são veladas nesta terça-feira (15) com muita comoção no pequeno distrito de São José do Almeida, em Jaboticatubas, na região metropolitana da capital.
A união de Vivi e Lili, como eram conhecidas, foi reivindicada pela mãe durante o velório. Ela pediu que os dois caixões fossem posicionados lado a lado, apenas com um espaço para que ela mesma ficasse no meio.
Com as duas mãos estendidas, ela passou a maior parte do tempo acariciando “as suas meninas”, como disse em determinado momento. Viviane morreu no local do acidente, enquanto Liliane chegou a ser socorrida, mas não resistiu aos ferimentos.
Segundo o tio das vítimas, o aposentado Ediones Soares, 67, o pai das mulheres e irmão dele ficou internado por dois dias no hospital São Lucas, no bairro Santa Efigênia, na região Leste de BH, para fazer alguns exames.
Após o pai receber alta nesta segunda-feira (14), as filhas se deslocavam para a casa de Liliane, no bairro Jaraguá, na Pampulha, para pegarem o carro e buscá-lo no hospital, quando o acidente aconteceu. A mãe das vítimas chegou a suspeitar da demora das filhas, e ao ligar para uma delas foi atendida por um policial que a informou da tragédia.
“É um momento desastroso. Difícil ter um adjetivo para qualificar esse sofrimento. Duas jovens que tinham tudo pela frente. O cara não pisou nem no freio. Ele passou direto. Foi imprudência total. Não precisa ser perito para ver. Não tem nem o que discutir”, afirmou indignado.
Viviane, a mais velha de três irmãs, ficou cega aos 2 anos após ser diagnosticada com uma meningite. Ela era conhecida pela garra com que lidava com a doença, após passar por mais de 12 cirurgias quando criança.
Com uma expectativa de vida que, segundo os médicos, não passaria dos 10 anos, ela era referencial de milagre no pequeno distrito onde morava com os pais. “É uma menina que veio ao mundo para sofrer só. Mas sempre sorrindo, sempre alegre. Passou por tudo isso. A gente é que sofria mais”, afirmou o tio.
Liliane, por sua vez, a mais nova das irmãs, também era querida em toda a comunidade. Por muito tempo, ela foi gerente de um banco em São José do Almeida, mas atualmente tocava a própria empresa na capital, onde vendia placas personalizadas para estabelecimentos. Ela vivia com o marido, com quem, segundo familiares, estava há mais de 10 anos.
A irmã do meio da família estava em Caldas Novas a passeio quando recebeu a notícia. Ela chegou para o velório no fim da manhã. De acordo com familiares e amigos, a ligação entre Vivi e Lili chamava a atenção de todos.
“Viviane sempre lutou muito pela vida. A Liliane foi a pessoa que apresentou a vida para a irmã dela. Levou ela para viajar. Ela foi os olhos da irmã, e elas vieram a morrer juntas. Deus sabe o que faz. É uma notícia que pegou todo mundo de surpresa. É algo que infelizmente marcou a nossa família. É uma perda de duas pessoas maravilhosas”, disse uma prima delas, a consultora de vendas Janaína Santos, 39.
Para o professor Lucas de Souza, 33, que conhecia as vítimas desde criança, fato é sentido por toda a cidade. “A nossa comunidade está destroçada. Nós estamos todos de luto e pedindo a Deus para dar muita força para essa família, que está precisando de muito apoio e de muito amparo.
A Viviane passou por muitas provações. A comunidade toda abraçou ela. Uma menina muito boa, de muita luz. As duas vão deixar muita saudade. A Lili também muito querida. É uma perda irreparável para nós”, afirmou.
O enterro está previsto para acontecer às 16h30 no Cemitério Municipal de São José do Almeida.