Manter o distanciamento social para evitar a propagação do coronavírus é quase impossível para os usuários da linha 505H, que liga Morro Alto, em Vespasiano, na região metropolitana de Belo Horizonte, à região hospitalar da capital. Filas enormes e coletivos abarrotados, especialmente no período da tarde, são comuns de se ver.
A auxiliar de serviços gerais Rosângela Silva, 42 anos, que utiliza o transporte de segunda a sábado, as vezes prefere esperar por um carro mais vazio, do que se arriscar em um lotado.
"Acho que precisa aumentar a quantidade de ônibus. Eu, por exemplo, fico esperando cerca de uma hora pelo ônibus, que quando chega, está muito cheio. Eu até deixo passar e pego o próximo", afirmou.
Para o funcionário de uma empresa de fraldas, Alan Pereira, de 27 anos, a situação tem ficado pior com a volta do comércio.
"Eles reduziram a quantidade de ônibus, mas o número de pessoas precisando usar a linha aumentou. E é só o 505 que leva a gente até o Centro, mas a volta está complicado. A gente até questiona com os motoristas, mas ele não têm culpa, a culpa é da empresa que não coloca os ônibus para rodar", comentou.
A reportagem de O Tempo flagrou um fiscal do Departamento de Edificações e Estradas de Rodagem de Minas Gerais (DEER- MG) aplicando uma multa por descumprimento de horário e superlotação à empresa Saritur, que é a responsável pelos veículos da linha.
Desde o início da pandemia, a equipe de Fiscalização do DER-MG realizou 696 operações nos ônibus metropolitanos, com 23.350 veículos monitorados e foram aplicados 6.960 autos de infrações por descumprimento de horários e excesso de passageiros nos veículos.
Por meio de nota , o Sindicato das Empresas de Transporte de Passageiros Metropolitano (Sintram) informou que desde o início da pandemia, o setor acumula prejuízo de mais de R$ 100 milhões, o que impede a plena retomada da operação.
O Sintram disse também que avalia reforçar o quadro de horários da linha 505H, principalmente na parte da tarde, no retorno do centro para o terminal -horário mais crítico apontado pelo usuários.
Ação na justiça
"De prevenção contra essa doença maldita não está tendo nada. As pessoas andando amontoadas dentro dos ônibus, e correndo risco de contaminação muito grande. As empresas estão ganhando dinheiro, a frota reduzida, mas a população andando amontoada", afirmou o advogado Edinaldo de Souza.
Ele está recolhendo assinaturas da população para ajuizar uma ação no Ministério Público exigindo melhorias no transporte e aumento na quantidade de ônibus.
Problemas também em Justinópolis
O problema de superlotação, longas filas e atrasos nos horários dos ônibus também tem sido recorrente na estação Justinópolis, em Ribeirão das Neves. Mas quem depende da condução diariamente garante que o problema é antigo.
"Desde a criação do Move, a gente já passa por vários problemas, especialmente, superlotação. De manhã então, é um Deus nos acuda", relatou a usuária Márcia Fernandes, de 45 anos.
Segundo a usuária, no terminal, algumas das linhas que ligam a cidade ao centro de Belo Horizonte, estão funcionando em horário restrito e não suportam a quantidade de passageiros.
"As linhas 520, 521, 523 e 524 no horário de pico, a partir de 5 horas da manhã, é uma confusão.Eles falam que não pode aglomerar, mas como é que faz, a gente precisa ir e vir", questionou.
Ela é uma das 18 mil pessoas que passam pelo terminal todos os dias. De 01 de janeiro a 10 de setembro deste ano, o Departamento de Edificações e Estradas de Rodagem de Minas Gerais (DER-MG) recebeu 573 reclamações de usuários que utilizam a linhas do Move metropolitano na estação Justinópolis, porém no mesmo período do ano passado, foram 473.
A balconista Ingrid Pereira do Socorro, 20 anos, conhece de perto a realidade dos ônibus lotados. Além de trabalhar em uma lanchonete dentro da estação, que permite que veja o movimento do dia a dia, ela mesma precisa do transporte para ir e voltar do trabalho.
"Pego 6220, que vem do ponto final do bairro Santinho. Pego às 5h e mesmo pegando no segundo ponto depois do final, ele vem cheio. Isso porque o que rodava às 4:20, não funciona mais, então acumula o de 4:40. Tem dia que não tem lugar de sentar", relatou.