Triângulo Mineiro

Mãe e padrasto são indiciados por tortura e morte de menina de 4 anos

Criança era trancada para fora de casa, ficava sem se alimentar, era obrigada a ficar de frente para uma parede e espancada frequentemente

Por Natália Oliveira
Publicado em 20 de abril de 2020 | 16:50
 
 
 
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A mãe e o padastro de uma menina de 4 anos foram apontados pela Polícia Civil como responsáveis pela morte da criança que faleceu após ser espancada e ter complicações em órgãos lesionados. O casal foi indiciado por tortura seguida de morte e está no presídio.

O crime ocorreu no último dia 7 de abril quando a criança deu entrada no Hospital das Clínicas de Uberaba, no Triângulo Mineiro. A menina estava bastante lesionada e morreu com vários danos aos órgãos internos causados pelos espancamentos.

"Segundo informações da equipe médica do Hospital Escola, corroboradas pelos exames realizados pelo Instituo Médico-Legal (IML), a vítima teve três rompimentos no baço, líquido intestinal, além de ar e sangue na cavidade abdominal, ruptura do baço, sangramento de mais de dois litros, juntamente com líquido intestinal, ruptura da parede anterior do estômago (o que indica trauma sofrido na parte frontal do corpo), ruptura do cólon transverso, hematomas de flanco esquerdo (o que indica trauma na parte posterior do corpo), a presença de fezes na cavidade abdominal há mais de 12 horas. As feridas eram crônicas, ou seja, haviam feridas cicatrizadas (mais antigas) em cima de feridas mais recentes", explicou a Polícia Civil por texto.

As investigações concluíram que a criança era frequentemente ameaçada e humilhada pelo casal que dizia que ia "dar um fim nela", que ela era "burra" e "custosa". A criança também era torturada com castigos como ficar em pé em frente a uma parede por horas, não receber alimentação e ser trancada do lado de fora da casa.

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"Em outras declarações colhidas na Delegacia de Polícia Civil em Sacramento, a mãe da vítima atribui a morte da filha ao companheiro dela, a quem, segundo ela, tanto confiou. Ela justificou, contudo, que se incluiu como autora também dessas agressões, de modo a proteger o companheiro. Ao ser preso, o padrasto alega que empurrou a criança, a qual teria batido a barriga na quina da cama, e que, em dado momento, após ela insistir para que brincasse com ela, ele se irritou e desferiu um soco na cama que acabou por acertar a costela da vítima", informou a Polícia Civil.

O inquérito foi encaminhado a Justiça. 

Entende o caso

A criança foi levada ao Hospital das Clínicas da Universidade Federal do Triângulo Mineiro (HC-UFTM), onde foi constatada a morte e a Polícia Militar foi acionada. A mãe, de 22 anos, disse aos policiais militares que trabalhou até 16h e que a filha ficou em casa com o companheiro dela e padrasto da vítima, de 23 anos.

A mãe disse ainda que ao chegar em casa encontrou a filha dormindo e com manchas no abdômen. Depois disso, a criança tomou um copo de água reclamou de dores. A menina então ficou roxa e desfaleceu. A suspeita pediu socorro a um vizinho e levou a filha para o hospital junto com o companheiro.

A Polícia Civil procurou a suspeita que deu versões contraditórias sobre sua rotina no dia da morte da vítima. Primeiro ela falou que a criança estava na casa dos pais do companheiro dela, mas depois admitiu que ela tinha passado o dia só com o padrasto, na casa do casal.

Depois a suspeita afirmou que mentiu por que queria proteger o companheiro, já que, na versão dela, "a culpa cai sempre naquele que não é da família". O padrasto da criança foi localizado pela Polícia Militar e disse que passou o dia com a enteada nesta terça-feira e que mais ninguém esteve com os dois. Ele também deu versões contraditórias sobre sua relação com a criança e negou que a tenha agredido.

Testemunhas relatam agressões

Durante as investigações, as polícias Militar e Civil descobriram que na escola onde a menina estudava havia relatos de violação dos direitos da criança praticados pela mãe e padrasto dela. Vizinhos da vítima também disseram que a escutavam chorando frequentemente, mas sem certeza se eram cometidas violências, nunca acionaram à Polícia Militar.

O homem que socorreu a criança contou que ela teve convulsões durante o trajeto. Uma tia da vítima disse que ouviu de seus familiares que a sobrinha era agredida e castigada frequentemente pelo padrasto e que o homem já tinha afogado a criança durante um banho.

Drogas e munição na casa do casal

Trabalhos de perícia são realizados e na casa do casal foram encontrados pés de maconha e munição. Foram recolhidos celulares dos suspeitos. Não se sabe se a mulher também torturava a criança, mas ela era ao menos omissa no caso. O homicídio segue em investigação. Os suspeitos foram encaminhados ao sistema prisional. Por exames e trabalhos preliminares a Polícia Civil constatou que a menina era frequentemente violentada.

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