Sem demonstrar tristeza e dando versões bastante contraditórias, a mãe e o padrasto de uma criança de um ano e cinco meses foram presos suspeitos de espancar o menino até a morte. O casal mora na Vila Fazendinha, na região Leste de Belo Horizonte, e a morte ocorreu na noite desta quarta-feira (24).
A Polícia Militar foi acionada por médicos da Unidade de Pronto Atendimento (UPA) Leste, onde a criança deu entrada com vários hematomas pelo corpo. A médica percebeu que ela estava machucada no queixo, crânio, tórax e tinha uma fratura na perna esquerda. Os médicos tentaram fazer o socorro, mas a vítima não resistiu.
A mãe do garoto, de 19 anos, contou que foi ao centro de Belo Horizonte com seu filho pela manhã e que, em uma rua próxima a praça Sete, os dois foram atacados por um cachorro. Ela ainda disse aos policiais que tentou correr, mas caiu com a criança, porém achou que ela não tinha se ferido e foi para a casa do companheiro.
O padrasto do bebê disse que a mulher contou a mesma versão de ter sido atacada pelo cão, no entanto, ele disse que ela contou ter sido perto da residência do casal, na Vila Fazendinha. A queda teria ocorrido pela manhã e somente a noite eles resolveram levar a criança ao médico.
Por causa das contradições, e como nenhum dos dois demonstraram tristeza, a polícia resolveu prender os suspeitos já que, segundo os médicos, há indícios que o menino tenha sido agredido.
O corpo da vítima foi levado para o Insituto Médico-Legal (IML), na reião Oeste de Belo Horizonte para passar por exames. O caso foi encaminhado para a Delegacia de Plantão da Polícia Civil (Deplan 1), no bairro Floresta, região Leste da cidade.
Criança já tinha sido levada para UPA lesionada em dezembro do ano passado
A médica que atendeu a criança, contou que ela já tinha recebido atendimento médico na UPA Leste em outubro do ano passado, também com lesões pelo corpo. Na época foi registrado um boletim de ocorrência, no dia 9 de outubro de 2020, em que o médico suspeita de maus-tratos já que, por meio de um raio-x, foi possível ver que o menino tinha sofrido uma lesão no ombro esquerdo, que se quebrou. Na data, a mãe disse que o filho tinha caído no dia 6 de outubro, mas só viu que o membro estava inchado no dia 8.
A mulher disse também que residia em Ravena, em Sabará, na região metropolitana de Belo Horizonte, e que teve que deslocar até a capital e por isso demorou no socorro. O médico viu que havia outras duas fraturas calcificadas no filho, uma na clavícula e outra na costela. As fraturas eram mais antigas e aparentavam não ter ocorrido na mesma data que a do ombro.
Na época, ela negou que o casal tivessem cometido qualquer agressão contra a criança. Consta no boletim de ocorrência da Polícia Militar que os policiais foram orientados, pela Polícia Civil, a procurar a avó da criança para saber se havia registro de agressão. Ainda segundo a PM, Como a mulher disse não saber de nada e o caso ainda era uma suspeita, os policiais a orientaram a procurar a delegacia, mas ela não quis.
A criança estava há muitas horas sem alimentar e como não há leite na UPA, os militares liberaram as duas para irem para casa. Foi registrado o boletim de ocorrência e o Conselho Tutelar de Belo Horizonte acionado.
Suspeito tem histórico criminal
O padrasto, suspeito do crime, tem histórico criminal com diversas passagens policiais por tráfico de drogas, roubo, receptação e porte ilegal de arma de fogo.
O que diz a Polícia Civil
A Polícia Civil de Minas Gerais informou que o casal foi preso em flagrante por homicídio. Sobre o registro anterior de maus-tratos, em outubro do ano passado, um inquérito foi instaurado na época e a investigação está em andamento na Delegacia Especializada de Proteção à Criança e ao Adolescente (Dopcad).
"Esclarece ainda que na data do ocorrido, os fatos narrados por telefone à Polícia Civil apontaram a inexistência de crime e consequentemente a condução em flagrante da mãe da criança. Importante salientar que a decisão de conduzir à delegacia deve ser sempre do policial que está no local atendendo a ocorrência", informou a PC.
O que diz o Conselho Tutelar
De acordo com a assessoria de imprensa da prefeitura, o Conselho Tutelarfoi foi acionado em outubro para atender o caso. Uma familiar do menino fez a denúncia espontânea e o caso foi encaminhado à Vara Especial da Criança e Adolescente (VECA).
"Desde então, a criança estava sob a responsabilidade da avó, inclusive com termo de responsabilidade assinado por ela. O Conselho Tutelar Leste foi informado do óbito hoje, às 10h. Antes disso, nem o Conselho Tutelar Leste, nem Centro-Sul receberam a denúncia. Um membro do Conselho Tutelar Leste está indo à UPA para apurar o ocorrido", informou.