Em vez das tradicionais festas em clubes, praias, sítios e casas de eventos, o Réveillon será celebrado em casa por 65% dos brasileiros neste ano, de acordo com uma pesquisa realizada pela Hibou, empresa especializada em pesquisa e monitoramento de mercado e consumo, em parceria com o Score Group. A pandemia mudou os planos de fim de ano da maioria da população, que, apesar da saudade acumulada dos encontros com familiares e amigos, deve optar por comemorações mais reservadas, como forma de prevenção do coronavírus.
É o caso da empreendedora Renata Reis, 36, que sempre passou a data em festas com a família. Mas, desta vez, ela vai celebrar a chegada de 2021 com um jantar em casa, apenas com o marido, a filha e alguns poucos familiares próximos. "Gosto de ficar em casa, mas é muito ruim não poder receber ou abraçar. As demonstrações de afeto em uma época tão legal serão mínimas", diz.
A confeiteira artesanal Luna Fragoso, 31, faz questão de passar a virada do ano em casa, por causa da pandemia. Ela e o companheiro vão preparar uma ceia e, para evitar aglomerações, farão as compras com antecedência. "Acho importante manter o distanciamento social até que a população esteja vacinada, não acho justo sair de casa por pura diversão enquanto existe uma pandemia", conta.
A psicóloga Karina Mendicino, 36, também vai passar o Réveillon em casa por dois motivos: além da prevenção do coronavírus, ela está grávida, com o parto previsto para janeiro. Mas, nem por isso, vai deixar de celebrar, na companhia do marido e da cachorrinha. "Vamos comprar alguma coisa gostosa de comer e beber. É uma data que faço muita questão de comemorar, sou dessas pessoas que compram roupa nova e escolhem o que vestir de acordo com o que querem atrair. Mesmo em casa, essas coisas eu não vou deixar de fazer", afirma.
Segundo a pesquisa, 12% dos brasileiros não pretendem comemorar a chegada de 2021. Apenas 5% vão viajar para a praia e 4% vão passar a virada do ano com amigos. Para a maioria dos entrevistados, o Natal também será diferente: 79% das pessoas vão comemorar a data na própria casa, e apenas 10% vão para a residência de um familiar.
"As pessoas já passavam o Natal em família, mas elas iam todas para um lugar em comum, a casa dos avós ou uma cidade do interior. O que a gente percebe agora é que elas vão passar muito nas próprias casas, para se aglomerar menos", avalia a sócia da Hibou e responsável pela pesquisa, Lígia Mello.
A professora particular Ana Figueiredo, 42, costumava passar a noite do dia 24 de dezembro com a família do pai, e o almoço do dia 25 com a família da mãe. Ela, que tem bronquite e é tabagista, e os pais, com mais de 70 anos de idade, pertencem ao grupo de risco para a Covid-19 e mudaram os planos: na véspera do Natal, a ideia é fazer uma ceia simples, em casa. No dia 25, parte da família vai se reunir em grupos menores e com um série de cuidados.
"Estamos pensando em comidas que possam ser feitas em porções individuais. Na hora de se servir, vai ser uma pessoa de cada vez, de máscara, passando álcool em gel nas mãos, e cada núcleo familiar vai ficar separado numa mesa diferente", conta.
Em relação ao ano que está por chegar, as expectativas variam. Enquanto metade (50%) das pessoas está esperançosa, 41% dos entrevistados se dizem preocupados. Nos últimos cinco anos, a pesquisa apontava que a grande maioria da população, até 90% dos brasileiros, sentia esperança de um ano melhor. "As pessoas estão com essa preocupação: será que o ano que vem vai ser melhor ou pior do que este? Será que vou poder viajar, encontrar com os amigos no bar? O brasileiro está com um ponto de interrogação na cabeça", conclui Lígia Mello.
Belo Horizonte tem agenda cheia de festas de Réveillon
Para quem não ficar em casa na chegada de 2021, a agenda de Belo Horizonte, região metropolitana e cidades do interior de Minas Gerais já está cheia de festas de Réveillon, todas com alta procura. Os organizadores garantem que as comemorações, com shows e atrações de DJs e comida e bebida liberadas, vão seguir todos os protocolos contra o coronavírus, mas, segundo especialistas da saúde, eventos de final de ano ainda não são recomendados, uma vez que apresentam risco de contágio da Covid-19.
A naSala está promovendo três festas de Réveillon neste ano. A única que já está com convites disponíveis é a de Escarpas do Lago, em Capitólio, no Sul de Minas — no primeiro de dia de vendas, 85% deles foram vendidos. Os ingressos já estão no terceiro lote, com preços que variam de R$ 630 a R$ 820.
"Antes do lançamento, fomos à cidade e nos reunimos com a prefeitura para entender quais seriam as necessidades de adaptação. Estamos trabalhando com capacidade de público de 50% em relação aos anos anteriores. Vai haver uso de máscaras e aferição de temperatura na entrada, e o buffet será servido em porções individuais. Tudo foi mudado", afirma o gerente de marketing da naSala, Marcelo Malagoli.
A casa também está preparando festas de virada de ano em um restaurante no Belvedere, na região Centro-Sul de Belo Horizonte, em forma de jantar, e em Nova Lima, na região metropolitana, com formato parecido com o de Capitólio. "Vamos nos adaptar às exigências do momento. Se temos possibilidade de fazer de forma segura, vamos seguir por esse caminho", diz Malagoli, ressaltando que, caso os eventos não possam ocorrer em decorrência da pandemia, os valores dos ingressos serão devolvidos.
O Réveillon Celebration, em Sete Lagoas, na região Central de Minas, será realizado no Jardim Real Recepções, mesmo espaço do ano passado, mas com público 50% menor: o número de convidados passou de 1.000 para 500. Segundo o produtor e organizador da festa, Renato Álvares, para evitar aglomerações, o evento terá duas entradas com distanciamento nas filas, além de aferição de temperatura e disponibilização de álcool em gel todos os ambientes. Haverá também distanciamento entre as mesas, dentre outras medidas.
"Todos os protocolos sanitários serão seguidos e, com a contribuição de todos, faremos do nosso Réveillon uma festa inesquecível. Estamos preparados para receber todos com muita segurança e responsabilidade", afirma Álvares. Segundo ele, as vendas estão aceleradas, já no segundo lote. O valor será ressarcido caso o evento não possa ocorrer.
O Planeta Gol, bar que funciona no bairro Santa Tereza, na região Leste da capital, também está preparando uma festa para a virada de ano. O espaço tem capacidade para receber 1.000 pessoas, mas, na noite do Réveillon, serão disponibilizadas cem mesas, com distanciamento e, no máximo, quatro pessoas cada. Também haverá aferição de temperatura e disponibilização de álcool em gel. "É possível comemorar virada com segurança, da mesma forma como estamos funcionando nos outros dias", pontua o gestor do local, Eduardo Costa Ferreira. Segundo ele, o dinheiro será automaticamente ressarcido aos compradores em caso de cancelamento do evento.
Grandes festas não são recomendadas, diz infectologista
Apesar da queda do número de casos e mortes registradas em Belo Horizonte e em Minas Gerais ao longo das últimas semanas, os cuidados preventivos contra o coronavírus devem ser mantidos para evitar um crescimento da curva de infecções, que, ao que tudo indica, deve acontecer. Em Belo Horizonte, a taxa de transmissão da Covid-19 vem aumentando nos últimos dias, chegando a 1,06 no dia 12 de novembro, o que coloca o indicador em nível de alerta.
"Os números dão conta de que, depois de algumas semanas de queda contínua, há uma estabilização na queda e um discreto aumento. Há uma tendência ainda não cristalizada de que esses números podem aumentar nas próximas semanas. Então, mais do que nunca, é importante manter as medidas não farmacológicas de controle da pandemia, como evitar aglomeração, usar máscara, lavar as mãos e manter uma certa distância social. A pandemia não acabou, então, infelizmente, não é o momento ainda de fazer grandes festas de final de ano, é um grande risco", afirma o infectologista e membro do comitê de enfrentamento da pandemia da Prefeitura de Belo Horizonte, Unaí Tupinambás.
"Cada vez mais, na literatura médica, a gente observa que os "hotspots", os pontos quentes de transmissão, são lugares fechados, restaurantes, festas, bares e igrejas", completa.
O médico cita também o aumento da ocupação de leitos por pacientes de coronavírus na rede suplementar de saúde de São Paulo, observado nos últimos dias. "São Paulo somos nós amanhã, a segunda onda ou a recrudescência da primeira está batendo à nossa porta. Infelizmente, o cenário que se avizinha não é dos melhores. Não sei se vai ser em dezembro, janeiro ou no nosso outono, mas tudo indica que teremos recrudescência da primeira onda ou uma segunda onda. Temos que reforçar com a população, sabendo que ela está cansada, que não é hora de relaxar", reforça Tupinambás, destacando que a solução e a esperança em vista no momento é a vacina.
O que diz o poder público
A Prefeitura de Sete Lagoas informou que respeita as normas do Minas Consciente e está na onda verde do programa do governo estadual, o que permite a realização de eventos. De acordo com a Secretaria de Estado de Desenvolvimento Econômico, o limite de pessoas em eventos e reuniões deve ser definido pela metragem do espaço. Em eventos abertos, deve haver distanciamento de 4 metros quadrados por pessoa. Em locais fechados, a distância obrigatória é de 10 metros quadrados entre os presentes.
A Prefeitura de Belo Horizonte afirmou que casas de festas e eventos continuam com alvarás suspensos. Apenas atividades em casas de show e espetáculos foram autorizadas, com público exclusivamente sentado e limitações de capacidade e sem espaço para dança. Segundo o município, ações fiscais para a verificação de estabelecimentos que estão descumprindo a legislação são realizadas diariamente.
A Prefeitura de Nova Lima declarou que, atualmente, está em vigor um decreto que estabelece diversas regras para o funcionamento de casas de show, boates, salões de festas e casas de eventos, como limite máximo de público, aferição da temperatura dos frequentadores e separação física entre os músicos e o público. Eventos com mais de 500 pessoas devem exigir testagem para o coronavírus de todos os convidados e equipe.