Estradas perigosas

Mais de 10% das mortes e dos acidentes em rodovias no Brasil acontecem em MG

Levantamento da Confederação Nacional do Transporte (CNT) revela que foram 712 óbitos e 8.814 acidentes em rodovias que passam no Estado

Por Rayllan Oliveira
Publicado em 14 de dezembro de 2023 | 14:44
 
 
 
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Minas Gerais é o Estado com mais acidentes e mortes em rodovias no Brasil. De acordo com o levantamento da Confederação Nacional do Transporte (CNT), foram 712 óbitos entre novembro de 2022 e outubro de 2023, o que representa 12% dos 5.520 óbitos em todo o país. O estado é também o que teve o maior número de acidentes neste período, com 8.814. A quantidade corresponde a 13,2% dos 66.508 registrados em território nacional.

"É um estado que possui uma malha rodoviária muito grande, e isso ajuda a justificar esses números. Além disso, a tipografia de Minas faz com que essas rodovias fiquem mais perigosas, com muitas subidas e descidas, além das curvas que também oferecem riscos", aponta o especialista em trânsito e professor do Cefet-MG, Agmar Bento.

Para ele, somada a grande quantidade de veículos e as características demográficas do Estado, a falta de investimentos também colabora para o maior número de acidentes e mortes. "Não temos uma malha ferroviária densa. Por isso,  quase todo o deslocamento, seja de mercadorias ou pessoas, está concentrado em rodovias. E elas são, em maioria, de pista simples, o que favorece a ocorrência de acidentes, principalmente durante a ultrapassagem", acrescenta.

O estudo da Confederação Nacional do Transporte (CNT) apresentou que Minas Gerais possui uma média de 8 mortes a cada 100 acidentes. A principal causa dos óbitos, conforme a pesquisa, é a velocidade incompatível com a via. O levantamento mostrou  que 103 pessoas morreram por dirigir acima da velocidade permitida na rodovia, o que representa 14,5% dos óbitos em rodovias no Estado.

"Nossas rodovias são mais sinuosas, o que exige que os condutores reduzam a velocidade nesses trechos. Porém, o que acontece é o contrário, há o excesso de velocidade e, consequentemente, o maior número de acidentes", relata o tenente Luiz Fernando Ferreira, do Batalhão de Polícia Militar Rodoviário.

Conforme o militar, a falta de radares nas rodovias também colabora com os números, uma vez que favorece o comportamento imprudente dos motoristas, potencializando os riscos de acidentes. "Infelizmente, o que temos de radar não é o suficiente. Houve uma melhora nos últimos meses, com mais equipamentos sendo instalados, mas ainda muito distante da quantidade necessária", aponta.

A BR-116 e a BR-381 foram as rodovias com mais mortes, com 159 em cada uma. Juntas, elas representam 22,3% dos óbitos ocorridos no Estado. "São mortes que, na grande maioria dos casos, poderiam ser evitadas. O que a gente percebe é o motorista com vontade de chegar logo ao destino fazendo ultrapassagens em locais indevidos e provocando essas batidas. Quando essa colisão é frontal, o risco de uma fatalidade é ainda maior", relata o tenente Luiz Fernando Ferreira.

Acidentes e condições inadequadas

A BR-381 foi a rodovia que mais registrou acidentes no período analisado pela pesquisa. Foram 2.628, o que corresponde a 29,8% dos 8.814 em todo o Estado. A colisão, ou batida entre dois veículos, é o acidente mais recorrente em Minas. Conforme o levantamento, foram 4.625, números que representam 52,5%. O segundo mais comum é a saída de pista, com 1.814 (20,6%).

Para o tenente Luiz Fernando Ferreira, esses acidentes tendem a ser mais frequentes durante o período chuvoso, quando as rodovias estão mais escorregadias. "A pista molhada com excesso de velocidade é uma combinação muito perigosa. Muitas vezes, o motorista perde o controle e o carro sai da pista. Por isso a gente alerta sobre a importância do cinto de segurança. É ele que vai ajudar a segurar o motorista ou os passageiros caso isso aconteça", explica.

O levantamento da Confederação Nacional do Transporte (CNT) apontou que os acidentes nas rodovias do Estado deixaram 11.457 pessoas feridas. A maior parte deles foi provocada pela falta de reação dos motoristas. Segundo estudo, foram 1.315 provocados por esse motivo, o que corresponde a 14,9% das causas dos acidentes.

"Isso ocorre por causa de uma distração do condutor, seja pelo uso do celular ou até mesmo pelo longo período dirigindo, o que provoca cansaço. O tempo de reação do ser humano é, em média, de dois segundos. Quando tem algum desses fatores, esse intervalo pode ser maior, tornando insuficiente para evitar um acidente", explica o professor Agmar Bento.

Além da falta de reação, um outro agravante para os motoristas é a condição inadequada das rodovias. O estudo constatou 403 pontos críticos no período analisado. De acordo com a pesquisa, 80,5% das rodovias possuem deficiência na geometria da via. Além disso, 78,7% da extensão dessas rodovias apresentam algum tipo de problema, sendo 70,6% relacionados à pavimentação e 75,3% com a sinalização.

"Isso expõe um abandono do poder público. Se você sabe quais os pontos críticos, você precisa solucionar esse problema. Para o motorista, resta, então, o cuidado. É ter mais atenção ao passar por esses trechos", conclui o professor. 

A reportagem de O TEMPO questionou o Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (DNIT), responsável pelas rodovias federais, e a Secretaria de Estado de Infraestrutura e Mobilidade de Minas Gerais (Seinfra), responsável pelas rodovias estaduais, sobre as condições apresentadas pelo estudo. Os órgãos também foram demandados sobre os investimentos realizados neste período para melhorar as condições dos trechos citados no levantamento.

O Dnit informou que tem feito esforços para devolver à malha mineira às condições adequadas de trafegabilidade. "O ICM de 2022 confirma que no comparativo entre os anos de 2022 e de 2023 já houve melhora. A faixa “Bom” passou de 42% para 44%; “Regular” de 26% para 32%; e “Péssimo” caiu de 22% ante 10%", disse em nota. O órgão também informou que o projeto de melhorias terá continuidade em 2024. (A nota pode ser lida na íntegra ao final da matéria).

Em nota, a Seinfra, por meio do Departamento de Estradas de Rodagem do Estado de Minas Gerais (DER-MG), informou que o Estado "recebe o fluxo de cargas de todas as outras regiões do país, tem particularidades regionais de relevo - rios, serras e vales - que influenciam no traçado e na geometria das rodovias". O poscionamento pode ser lido na íntegra abaixo.

Nota do Dnit

"O DNIT informa que monitora mensalmente a condição da malha rodoviária sob sua jurisdição e trabalha para garantir o melhor nível de serviço dentro da disponibilidade orçamentária. Esse monitoramento é realizado por uma metodologia própria de avaliação das condições da manutenção do pavimento e da conservação das rodovias federais em todo o país. O Índice de Condição da Manutenção (ICM) tem o objetivo de manter uma radiografia atualizada das condições da malha federal sob jurisdição da autarquia, que considera a situação da pista, sinalização, funcionamento dos dispositivos de drenagem, entre outros itens. O ICM é dividido em quatro faixas classificadas como: bom, regular, ruim e péssimo. O monitoramento do ICM busca ainda utilizar as informações apuradas na tomada de decisões sobre investimentos.

A partir de um planejamento integrado, de valorização da gestão técnica e ampliação dos investimentos do Governo Federal ao longo deste ano foi possível assegurar a manutenção da malha rodoviária e dar celeridade ao andamento de obras estruturantes em todo o país.

Importante considerar antes, que os dados da CNT mencionados no questionamento não separam a malha sob administração privada (concedidas), sob a responsabilidade do governo estadual da malha administrada pelo DNIT. Contudo, com relação às rodovias de Minas Gerais cuidadas pelo DNIT, a autarquia destaca que 90% da malha rodoviária no estado, a segunda maior sob a responsabilidade do DNIT,  está coberta por contratos de manutenção.

Vale destacar que este ano os técnicos do Departamento direcionaram esforços no planejamento e organização, para devolver à malha mineira às condições adequadas de trafegabilidade. O ICM de 2022 confirma que no comparativo entre os anos de 2022 e de 2023 já houve melhora. A faixa “Bom” passou de 42% para 44%; “Regular” de 26% para 32%; e “Péssimo” caiu de 22% ante 10%.

O DNIT planeja para 2024 dar continuidade a ações consideradas estruturantes para o desenvolvimento da infraestrutura de transportes em Minas Gerais e garantir os serviços e manutenção e conservação necessários para elevar a qualidade das rodovias no estado."

Nota do DER-MG

"A pesquisa elaborada pela Confederação Nacional do Transporte (CNT) busca mapear as principais rotas do transporte de carga pesada utilizando um critério único para avaliação das estradas em todo o país. Minas Gerais, como um estado central que recebe o fluxo de cargas de todas as outras regiões do país, tem particularidades regionais de relevo - rios, serras e vales - que influenciam no traçado e na geometria das rodovias.  

O Governo de Minas, por meio do DER-MG, monitora de forma constante as condições de tráfego e conservação das rodovias estaduais e vem trabalhando para recuperar os trechos em pior estado de conservação por meio do Provias, o maior pacote de obras rodoviárias da última década.  

Desde abril de 2022, mais de 1.200 quilômetros de estradas já foram recuperados e cerca de 50 obras concluídas. Apenas em 2023, foram investidos R$ 1,5 bilhão nas estradas mineiras. O valor é cinco vezes maior do que a média da última década.  

Cabe destacar, que antes do período chuvoso são realizadas ações preventivas de manutenção e conservação rotineira que incluem tapa-buracos, limpeza e roçada de faixas de domínio, limpeza do sistema de drenagem e conferência da sinalização horizontal e vertical."

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