Serviço

Manifestação critica mudanças no hospital Alberto Cavalcanti, em BH

A partir desta segunda-feira (9), local passa a atender somente pacientes com câncer e não mais casos de urgência e emergência

Por Letícia Fontes
Publicado em 09 de setembro de 2019 | 10:51
 
 
 
normal

Funcionários e pacientes do Hospital Alberto Cavalcanti realizaram, na manhã, desta segunda-feira (9), uma manifestação na porta do hospital, no bairro Padre Eustáquio, na região Noroeste de Belo Horizonte, contra as mudanças no atendimento no local. O protesto começou por volta das 9h e reuniu servidores, usuários e moradores do entorno. Ao fim do ato, os manifestantes deram um abraço simbólico em volta da unidade.

A partir desta segunda-feira (9), o hospital passará a ter o atendimento focado apenas para os pacientes com câncer deixando de atender casos de urgência e emergência clínica. Os pacientes que eram assistidos antes pelo serviço de urgência da unidade serão encaminhados para outros centros de saúde. 

Segundo a Associação Sindical dos Trabalhadores em Hospitais (Asthemg), por dia, a unidade atende, aproximadamente, 300 pacientes de urgência e emergência. Os casos representam quase 89% dos atendimentos no hospital. Para o presidente da entidade, Carlos Martins, a mudança no atendimento do hospital vai fazer diferença para os pacientes, que são de 67 bairros de Belo Horizonte e de cidades vizinhas.

“Esta mudança vai desassistir uma população em torno de 300 mil pessoas. E vai sobrecarregar outras unidades. É muito grave isso. O que o governo está fazendo é desativar um serviço para a comunidade sem antes ter criado uma alternativa. Desativam um serviço para priorizar os atendimentos oncológicos, mas não estão fazendo investimento para isso também", afirmou. 

Fundado na década de 80, o hospital se tornou o primeiro hospital público de Minas Gerais a prestar assistência em oncologia clínica, paralelamente à realização de cirurgias e à oferta do serviço de quimioterapia. A unidade tinha pronto atendimento para pequenas urgências dia e noite em clínica médica, pequenas cirurgias, pediatria, ambulatório e internação, além de especialidades como urologia, ginecologia, proctologia e angiologia.

"Todo mundo sabe que as UPAs já vivem sobrecarregadas. Com a mudança, não só os pacientes daqui vão ser prejudicadas, mas a população inteira de Belo Horizonte. Vão encaminhar os pacientes para outras unidades, mas também não reestruturam esses locais para receberem mais pessoas”, destacou Carlos Martins. 
Quem foi pega de surpresa com a mudança foi a dona de casa Maria Aparecida Guedes, de 67 anos. Aguardando um encaminhamento para realizar um exame no intestino, Maria Aparecida está à procura de outro centro de atendimento. "Vim aqui hoje e meu médico já não está mais aqui. Já fui em outros lugares, mas está tudo lotado. Eu e a minha família sempre viemos aqui. Ano passado, tive dois infartos e a minha sorte foi esse hospital. Se não fosse aqui que é perto de casa, eu tinha morrido". 

A aposentada Mônica Lorenzo, de 60 anos, vai ao hospital há mais de 20 anos. No ano passado, seu marido morreu após ficar internado mais de dois meses na unidade. "Eu sou cliente vip, sempre fui muito bem atendida. É um hospital que não atende só o Padre Eustáquio, mas diversas regiões. A saúde já está um caos, suspender esses atendimentos é falta de consciência, é egoismo", contou.   

Outro lado. Procurada, a Fundação Hospitalar do Estado de Minas Gerais (Fhemig), mantenedora do Alberto Cavalcanti, informou que atualmente são atendidas, em média, 165 pacientes por dia na unidade. Destes, 70 pacientes são da Oncologia. 

Por meio de nota, a fundação ressaltou que a iniciativa é fundamental para que os pacientes de câncer possa reduzir o tempo de espera nos atendimentos. A Fhemig se comprometeu a aumentar 300% os leitos de internação. 

Confira a nota completa:

"A iniciativa é fundamental para os pacientes de uma doença onde reduzir o tempo de espera significa aumentar consideravelmente suas chances de cura A partir do dia 9 de setembro, com a reestruturação do Hospital Alberto Cavalcanti – que passará a se dedicar exclusivamente à assistência oncológica, a unidade irá oferecer um aumento de 300% nos leitos de internação para pacientes com câncer, suprimindo, assim, a demanda dessa assistência não só no município de Belo Horizonte, já que o hospital é referência estadual nesse atendimento.

O Hospital Alberto Cavalcanti (HAC) existe desde 1936, quando foi inaugurado como sanatório para tratamento da tuberculose. Ao longo dos anos, foi conquistando expertise e se tornou referência no atendimento ao câncer, sendo credenciado como Unacon (Unidade de Alta Complexidade em Oncologia) pelo Ministério da Saúde. A unidade oferece assistência integral ao paciente: tratamento, cirurgias e apoio de uma equipe multidisciplinar cujo trabalho é amplamente reconhecido.

O hospital atendia como Pronto Atendimento na região Noroeste do município até a data acordada entre a Fundação Hospitalar do Estado de Minas Gerais (Fhemig) e a Secretaria Municipal de Saúde de Belo Horizonte para redefinição do perfil assistencial da unidade. O Pronto Atendimento não deixará de existir no HAC, mas será redirecionado para atender apenas aos retornos dos pacientes com câncer que precisarem de atendimento imediato.

A decisão irá beneficiar pacientes que hoje ainda esperam para iniciar seu tratamento, mesmo após a Lei Federal 12.732/ 2012, que estipulou o prazo de 60 dias para a realização do primeiro procedimento. Em Minas Gerais, segundo os dados da Secretaria de Estado de Saúde, desde janeiro 1.057 pessoas diagnosticadas esperaram mais de dois meses para passar pelo tratamento, seja quimioterapia, radioterapia ou cirurgia. A agilidade do tratamento aumenta consideravelmente a possibilidade de cura.

Segundo um estudo divulgado recentemente pelo Tribunal de Contas da União (TCU), 55% dos brasileiros atendidos pela rede pública começou o tratamento nos estágios mais graves do câncer, quando a probabilidade de cura já começa a ser menor.

Com os leitos do HAC sendo regulados somente para a assistência oncológica, estima-se uma significativa redução do tempo de espera do paciente, aumentando suas chances na luta contra o câncer. O Alberto Cavalcanti oferece as especialidades de Cirurgia Oncológica, Cirurgia de Cabeça e

Pescoço, Cirurgia Plástica, Otorrinolaringologia, Cirurgia Geral, Urologia, Ginecologia Cirúrgica, Oncologia, Mastologia, Cirurgia Torácica, Dermatologia, Proctologia e Angiologia, aliadas à equipe multidisciplinar: Psicologia, Nutrição, Fisioterapia, Fonoaudiologia, Enfermagem e Serviço Social."

Notícias exclusivas e ilimitadas

O TEMPO reforça o compromisso com o jornalismo profissional e de qualidade.

Nossa redação produz diariamente informação responsável e que você pode confiar. Fique bem informado!