Região Leste

Menor de BH apreendido por ameaça de massacre na Bahia integrava grupos nazistas

Adolescente de 15 anos não estudava ou trabalhava e só ficava na internet, onde participava de grupos sobre supremacia branca e nazismo

Por José Vítor Camilo
Publicado em 28 de novembro de 2023 | 15:59
 
 
 
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Nazismo e supremacia branca eram temas recorrentes nas pesquisas e nos grupos que contavam com a participação do adolescente de 15 anos que foi apreendido nesta terça-feira (28 de novembro), na região Leste de Belo Horizonte, sob suspeita de participação em ameaças de massacre enviadas este mês à Universidade Estadual de Santa Cruz (UESC), na Bahia. A informação foi divulgada pela Polícia Civil de Minas Gerais em coletiva de imprensa promovida após a apreensão do menor.

As investigações da Polícia Civil da Bahia começaram após ameaças chegarem em diversos endereços virtuais da universidade, no último dia 16 de novembro. As mensagens anunciando o massacre continuaram chegando e, em uma delas, foram anexadas imagens de pornogafia infantil.

A partir destas ameaças cibernéticas, o setor de inteligência iniciou os levantamentos que levaram até o adolescente mineiro, que seria o remetente das ameaças. Com o mandado de busca e apreensão expedido pela Justiça, nesta terça os policiais mineiros foram até a casa, onde foram encontrados um celular e um computador.

De acordo com o delegado Ângelo Ramalho, da Polícia Civil de Minas, as ameaças eram muito fortes. "Fizemos as buscas com o auxílio do nosso laboratório de crimes cibernéticos. Foi possível constatar que esses dispositivos eram utilizados para divulgar esse tipo de conteúdo, de massacre, outros a outros temas de ódio, também, e ainda, um vasto conteúdo de pornografia infantil", detalhou o policial.

O encontro de conteúdos de pedofilia motivaram a apreensão em flagrante do adolescente, que poderá pegar até 3 anos de internação pelos crimes.

"No quarto dele, tinham uns escritos na parede que fazem alusão a símbolos, que a gente vai investigar ainda. Mas esse adolescente é uma pessoa que busca, que faz parte de grupos na internet, relacionados ao nazismo, à supremacia branca. Enfim, é uma pessoa que busca a violência", pontuou o delegado mineiro.

Segundo a delegada Katiana Amorim, responsável pela investigação da polícia baiana, as ameaças recebidas pelos funcionários da universidade não tinham conteúdos nazistas ou supremacistas. "As investigações estão em sigilo, mas ainda não finalizamos, essa é só uma primeira parte da operação", garantiu a policial.

Menor buscava "fama" em grupo de supremacistas

Durante o depoimento o adolescente apreendido em BH negou que cumpriria as promessas de ataque à universidade baiana, alegando sequer conhecer alguém no estado. "Todavia, ele faz parte de um grupo que ele acredita que um dos membros tenha interesse em fomentar as ameaças contra esse grupo acadêmico lá na Bahia", lembrou o delegado Ângelo Ramalho.

Entre as plataformas usadas pelo adolescente para se comunicar com os demais suspeitos estão as redes sociais Discord e Twitter, ou "X". Ainda conforme o policial, o menor não teria ganhado nada financeiramente para fazer as ameaças, mas acreditou que poderia se "beneficiar" da fama destes integrantes do grupo.

"São pessoas, infelizmente, famosas no meio. E ele tendo essa proximidade com elas, poderia ser uma forma de benefício para ele. O menor chegou a confessar que um dos autores passou o texto da ameaça e os endereços de e-mail dos destinatários", completou o delegado.

Ainda conforme a delegada responsável pela investigação na Bahia, apesar de os levantamentos ainda estarem em andamento, já existem diversas outras investigações que apontaram para o uso do "X" e do Discord, além de outras plataformas da Deep Web, para cometimento deste tipo de crime.

"Não estou dizendo que é o caso dessas ameaças, mas sim que existe esse problema e que é preciso políticas públicas no sentido de prevenir esse tipo de coisa, de orientar os pais que têm adolescentes em casa a observarem. Esses meninos estão sempre dando sinais. Costumo dizer que o nosso trabalho, da polícia, acontece quando alguém falhou", alertou Katiana Amorim.

Garoto abandonou escola

Durante o cumprimento do mandado de busca e apreensão na casa onde o adolescente de 15 anos vivia com o pai, na região Leste de Belo Horizonte, a Polícia Civil descobriu que o garoto teria abandonado a escola e teria, segundo o delegado Ângelo Ramalho, uma "fobia social".

"Ele não estuda, não trabalha. Fica literalmente todo seu tempo no quarto, de frente para o computador. O alerta que a gente faz o tempo inteiro é que não significa que o seu filho ficar no quarto, em uma sexta-feira à noite, ele esteja seguro. É importante que os pais supervisionem, pois o seu filho pode estar sendo vítima de um crime ou até autor", alertou o policial. 

Questionado sobre se o pai do garoto suspeitava do envolvimento do garoto nos crimes, o delegado disse que o pai disse suspeitar que ele pudesse tivesse algum problema relacionado à internet, mas não acreditou quando soube que se tratava de uma situação tão grave. "Não acreditou, pois, na cabeça dele, o filho não se envolveria em algo tão grave, como massacres e pornografia infantil", finalizou Ramalho.

As investigações continuam com a Polícia Civil da Bahia, que conta com o auxílio do Ministério da Justiça e, também, da Polícia Civil de Minas, que participará analisando os materiais apreendidos com o adolescente no Laboratório de Crimes Cibernéticos, na capital mineira.

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