Outubro Rosa

Menos de 30% das mulheres fazem mamografia em Minas

Burocracia para conseguir exame e falta de informação estão entre causas

Por Aline Diniz
Publicado em 02 de outubro de 2019 | 08:00
 
 
 
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A gerente administrativa Shirlene Oliveira Martins, 48, vinha se consultando com um cirurgião plástico para colocar silicone nos seios quando descobriu que estava com câncer de mama. “Já estava em um estágio mais avançado”, revelou. O tumor foi achado em 2007. Três anos depois, outro apareceu, e ela precisou retirar todo o seio esquerdo. “Poderia ter sido diferente”, disse Shirlene.

O diagnóstico precoce não só reduz a mortalidade como deixa o tratamento menos agressivo. No entanto, em Minas Gerais, menos de 30% das mulheres entre 50 e 69 anos fizeram mamografia no Sistema Único de Saúde (SUS) em 2017 (último ano analisado), conforme pesquisa divulgada pela Sociedade Brasileira de Mastologia (SBM) ontem, no primeiro dia do Outubro Rosa, mês de luta contra o câncer de mama. A cobertura esperada pelo Ministério da Saúde é de, no mínimo, 70%. 

No país, a taxa é ainda mais baixa: 24,1%, menor percentual de cobertura mamográfica dos últimos três anos. O coordenador da pesquisa, médico Ruffo de Freitas Junior, considera que o principal problema é a burocracia. “A mulher precisa ir ao posto, ser encaminhada, marcar o exame, voltar e, depois, levar para o médico”, destaca. Ele idealiza outra estratégia: na faixa entre 50 e 69 anos (público com maior incidência da doença), a paciente poderia receber o pedido do exame em casa com a data marcada para a realização do procedimento.

“Ela só precisaria fazer o exame e, se estivesse tudo bem, receberia outra carta em dois anos”, explica. Quando o diagnóstico é precoce e o tratamento é iniciado rapidamente, as chances de mutilação, quimioterapia e sequelas são muito menores.

Oncologista da Cetus Oncologia, Victor Hugo Rodrigues acredita que há falta de conscientização das mulheres e dificuldade de acesso à tecnologia. “Pense em uma mulher que mora no Vale do Jequitinhonha. Mesmo após descobrir o câncer, ela pode demorar para iniciar um tratamento”, ressalta. Até hoje, Shirlene sofre as consequências do diagnóstico tardio. Há dois anos, o câncer voltou, nos ossos da bacia. “Luto pelos meus filhos e tenho muita vontade de viver”, conclui a gerente administrativa.

Minientrevista

Shirlene Oliveira Martins, gerente administrativa 

 

“Se eu pudesse dar um conselho, falaria para as pessoas se cuidarem”

Como você descobriu que tinha câncer de mama?

Eu tinha 36 anos quando fui a uma consulta com um cirurgião para fazer uma plástica, em 2007. Eu nunca havia feito mamografia antes. Ele apalpou, percebeu um caroço e pediu os exames.

Você acha que, se tivesse descoberto a doença antes, teria sido diferente?

Acredito que eu teria me curado mais rapidamente. Quando descobriram, meu câncer já estava mais “enraizado”. Em 2010, tive uma recidiva na mesma mama (na esquerda) e precisei retirar todo o seio.

Atualmente, você está totalmente curada?

Não. Há dois anos, eu recebi um diagnóstico de que o câncer havia voltado, na bacia. Precisei voltar a fazer quimioterapia.

Como você lida com o diagnóstico e com esse cotidiano?

Não é que a gente se acostuma, mas, com o tempo, você acaba aceitando o tratamento. Se eu pudesse dar um conselho, falaria para as pessoas cuidarem da saúde, irem ao médico. Hoje as pessoas estão nessa onda fitness, mas não significa nada. Há vários pacientes que não bebem, não fumam e aparecem com a doença. 

O que te ajudou a passar por esses momentos difíceis?

Minha família e meus amigos. Eu estou viva pelos meus filhos, um de 20 anos e outro de 22. Nunca deixei de viver e de sair e aproveitar minha vida. 

 

 

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