O presidente Jair Bolsonaro (sem partido) anunciou que academias, barbearias e salões de beleza foram incluídos na lista de atividades “essenciais”, que podem permanecer em funcionamento durante a pandemia de coronavírus. Mas, por entendimento do Supremo Tribunal Federal (STF), a decisão de permitir a abertura desses estabelecimentos permanece a cargo de cada Estado e município. Em Minas Gerais, tanto o governador Romeu Zema (Novo) quanto o secretário da Saúde, Carlos Eduardo Amaral, reiteraram a autonomia municipal. Por enquanto, portanto, o decreto de Belo Horizonte permanece inalterado, e essas atividades continuam suspensas, segundo a prefeitura.

Assim que o decreto presidencial foi noticiado pela imprensa, funcionários do salão de beleza gerenciado por Geraldo Magela o procuraram para saber se abririam as portas já nesta terça-feira (12). “Seria interessante abrir, mas sei que depende do prefeito Kalil”, diz Geraldo. A mulher dele também é dona de salão, e, hoje em dia, a renda da família vem dos serviços de consultorias comerciais prestados por Geraldo.

Ele costumava receber cerca de 40 clientes por dia no Meu Salão, no bairro Santo Agostinho, e agora o lucro do estabelecimento foi a zero. Ainda assim, Geraldo destaca que manter as portas fechadas é a melhor alternativa por ora. “Não acho que seja um serviço essencial. Existe a questão da higiene e da saúde, mas eu faria a mesma fisionomia do ministro da Saúde quando ele ouviu essa história”, brinca. De qualquer forma, Geraldo afirma estar ansioso para retomar as atividades e pensar que a reabertura vai ajudar na recuperação econômica do país. 

Ele faz referência ao ministro Nelson Teich, que só soube da decisão de Bolsonaro durante uma coletiva de imprensa na segunda (11). O argumento do presidente é que são atividades relacionadas à higiene e à saúde, o que a dona de salão Jaqueline Ferreira também defende.

“A gente fala o tempo todo da questão da higiene, e cortar o cabelo e manter a barba higienizada faz parte disso. É muito mais fácil organizar a clientela em um salão de beleza do que em um supermercado, porque as pessoas agendam os horários”, diz Jaqueline. Ela tem um salão de dois andares no centro de Belo Horizonte e diz que está pronta para abrir as portas caso seja permitido, dividindo clientes e equipe nos dois andares.  

A reportagem percorreu ruas da região Centro-Sul, da região Oeste e da região da Pampulha na manhã desta terça-feira e não localizou academias nem salões de beleza em funcionamento. Ela ouviu relatos, porém, de salões que têm permanecido em funcionamento por demanda, recebendo clientes a portas fechadas após agendamento de horários. A prática está proibida em Belo Horizonte e pode render interdição do comércio ou perda do alvará de funcionamento, além de multa de até R$ 17.614,57, em caso de descumprimento da interdição, segundo a prefeitura. 

Academias tentam se readequar e funcionar online em meio à pandemia 

Até os exercícios físicos realizados nas academias estão se adaptando aos meios digitais durante a pandemia de coronavírus. Com a impossibilidade de manter as portas abertas, a rede BH Fitness é uma das que reinventaram as atividades.

Ela promove lives diárias no Instagram com instrutores da academia, proposta que também é utilizada por outras grandes redes da cidade. Além disso, iniciou um serviço de aluguel de aparelhos para que os clientes possam se exercitar em casa. 

“Já alugamos mais de cem bikes de spinning e quase cem kits com anilha, estepe e colchonete. Com os aparelhos, damos direito a três aulas online com um professor, aí a pessoa se exercita acompanhando a aula na TV”, detalha Fabiana Almeida, proprietária da rede, que reúne 8.000 alunos em quatro unidades.

O personal trainer Leo Gontijo é um dos responsáveis pelas lives e tem tomado gosto pela modalidade. “Acho que vou até sentir falta quando acabar. O lado negativo é não ter contato, mas consigo transmitir essa conexão nas aulas digitais. As pessoas estão precisando de uma atenção agora”, diz. 

“Após a crise, quando o funcionamento voltar ao normal, acredito que vamos mudar completamente. O aluguel vai permanecer por um tempo, porque temos um público de mais de 60 anos que vai ter receio de voltar”, completa.

A Associação Brasileira de Academias (Acad) elaborou uma cartilha com orientações para o retorno às atividades das academias, quando for possível, incluindo uso obrigatório de máscara para funcionários, distância de 1,5 m entre os alunos e fechamento por meia hora de cada ambiente para limpeza, de duas a três vezes durante do funcionamento.