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Minas já registra 76% de todas as mortes esperadas para o ano

O primeiro semestre ainda não terminou, mas Minas Gerais já registrou 98.306 mortes, sendo 34% delas por Covid, de acordo com a Associação Nacional dos Registradores de Pessoas Naturais (Arpen Brasil)

Por Cinthya Oliveira
Publicado em 26 de junho de 2021 | 03:00
 
 
 
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O primeiro semestre ainda não terminou, mas Minas Gerais já registrou 98.306 mortes, número que corresponde a 76% de todos os óbitos contabilizados no ano de 2019 no Estado, quando não havia a pandemia, de acordo com levantamento da Associação Nacional dos Registradores de Pessoas Naturais (Arpen Brasil). Isso mostra que 2021 deve entrar para a história dos mineiros como o que contou o maior número de vidas perdidas, por causa do coronavírus. 

A Covid é disparada a principal causa de morte relatada em atestados de óbitos no Estado neste ano. Foram 33.821 mortes dessa natureza – dez vezes mais do que todos os registros referentes a infartos. De janeiro a junho deste ano, o coronavírus correspondeu a 34,4% de todas as mortes entre moradores de Minas. 

O cenário mineiro se repete em todo o país. O Brasil registrou, até o momento, 60% das mortes contabilizadas em 2019. De acordo com Andreia Gagliardi, diretora da Arpen Brasil, se o número de vidas perdidas para a Covid se mantiver em um patamar elevado, haverá um aumento significativo no número de óbitos em relação a 2020. 

“Comparando-se a série histórica desde 2011, a cada ano há um aumento no número total de mortes. Isso acontece em decorrência lógica do aumento da população brasileira. A média desse aumento, desde 2009 até 2019, é de 1,9%. Em 2020, já sob influência da pandemia, esse número chegou a 1.451.251, um aumento de 8,6% sobre 2019, muito acima da média histórica registrada”, explica Andreia Gagliardi. “Não há dúvida alguma de que 2021, já tendo atingido a marca de 914 mil mortes, vai superar o número de 2020. Resta saber, contudo, qual será essa taxa de aumento”. 

A chegada do inverno é um complicador. Os números mensais de mortes desde 2011 indicam que há uma tendência de mais registros de mortes em junho, julho e agosto. Andreia ainda destaca o grande número de mortes violentas registradas em 2021. “Em 2019, essas mortes totalizaram 88.541, e em 2020, 83.441. Já em 2021, já somamos 66.490”, aponta.

TRAGÉDIA ANUNCIADA, SEGUNDO INFECTOLOGISTA

Para o infectologista e professor da UFMG Unaí Tupinambás, o aumento de mortes é uma tragédia anunciada e reflexo da má gestão governamental ante a pandemia. “Nossa saída seria a vacina, mas a vacinação teria de ser muito mais rápida, com aplicação de 1 milhão de doses por dia. E temos capacidade para isso”.

Para tentar reverter o quadro, o professor recomenda reforço na prevenção. “A população tem que entender que deve manter distanciamento, mascaramento facial, evitar aglomeração. Não é hora de fazer festas, temos que esperar que 80% da população esteja vacinada para poder começar a flexibilizar”, diz.

IMPACTO NAS FAMÍLIAS E NA ECONOMIA

Para Mario Rodarte, professor da Faculdade de Ciências Econômicas da UFMG, o aumento de mortes tem efeitos nas esferas micro e macro da economia. “Muitas das pessoas que morreram eram arrimos de família. Isso aconteceu até mesmo com idosos, porque em alguns lares a aposentadoria é a principal fonte de renda”, explica.

Na macroeconomia, as mortes também provocam impacto porque a riqueza de um país se dá especialmente por meio do trabalho e do consumo. “A pandemia interfere na ausência de pessoas que morreram, que ficaram sequeladas e pelas vítimas da desestruturação familiar. A morte pode interferir nos estudos de mais jovens que perderam familiares e, no médio e no longo prazo, não serão trabalhadores tão produtivos por causa do estudo interrompido no passado”. Para conter os danos, o ideal seria investir em ações de bem-estar social, segundo Rodarte.

 

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