Minas Gerais teve a menor taxa de violência do país no primeiro semestre deste ano, conforme dados do Ministério da Justiça e Segurança Pública. É a primeira vez que isso ocorre desde 2015, quando os dados começaram a ser compilados. O levantamento analisa nove crimes violentos: latrocínio, homicídio consumado, estupro consumado, roubo de carga, roubo a veículo, roubo a instituições financeiras, lesão corporal seguida de morte, homicídio tentado e furto de veículo.
Os dados da pasta mostram que a taxa mineira ficou em 87,42 crimes a cada 100 mil habitantes, enquanto a média do país foi de 145,04 crimes a cada 100 mil habitantes. Em 2016, o índice foi de 474,03, e o Estado ocupava a sétima posição no ranking nacional. Já em 2019, quando Minas Gerais alcançou o terceiro lugar, a taxa alcançou 260,96.
Os números fazem parte do Sistema Nacional de Informações de Segurança Pública (Sinesp), que é alimentado por informações enviadas pelos 26 Estados brasileiros e pelo Distrito Federal. O balanço é uma das contrapartidas para a liberação de recursos pelo Ministério da Justiça e Segurança Pública.
Especialista
A queda nos indicadores foi iniciada a partir de 2017, após mudanças na atuação operacional principalmente da Polícia Militar (PM), segundo o coordenador do Centro de Estudos de Segurança Pública da PUC-Minas, Luís Flávio Sapori. “A corporação implantou uma metodologia pautada por controle de resultados, cobranças das unidades de ponta, além da manutenção e procedimentos intensivos de solução de problemas nas diversas regiões do Estado. Do ponto de vista ostensivo, isso tem provocado resultados muito expressivos”, analisou.
Questionado sobre a subnotificação de alguns desses crimes, principalmente estupro, o especialista lembrou que esse é um fenômeno constante ao longo do tempo e que não houve grandes alterações do panorama no Estado. "Não há indícios de que a subnotificação de roubos, furtos e outros crimes violentos, e mesmo no caso de homicídios, vem acontecendo em Minas Gerais”, afirmou.
Integração
O governo mineiro informou que um dos principais fatores que levaram à queda dos indicadores é a integração das forças de segurança. Conforme a pasta, entre janeiro e junho deste ano, foram mais de 15 operações realizadas com diferentes focos, como “combate a crime organizado, tráfico de drogas, criminalidade violenta nas áreas de fronteiras com outros Estados, violência doméstica e familiar contra a mulher e uso irregular de produtos controlados”.
Secretário de Estado de Justiça e Segurança Pública, Rogério Greco garantiu que a atuação conjunta terá “continuidade e frequência”.
Tipificação de dados
Enquanto o sistema do Ministério da Justiça analisa nove crimes violentos, em Minas, os relatórios mensais da Secretaria de Estado de Justiça e Segurança Pública trazem dados de 13 tipos criminais: estupro consumado, estupro de vulnerável consumado, estupro de vulnerável tentado, estupro tentado, extorsão consumado, extorsão tentada, extorsão mediante sequestro consumado, homicídio tentado, roubo consumado, roubo tentado, sequestro e cárcere privado consumado, sequestro e cárcere privado tentado e homicídio consumado.
Cenário já foi melhor
No entanto, segundo Luís Flávio Sapori, o cenário já foi melhor em Minas Gerais. “Não vejo uma integração das forças de segurança como foi há dez anos, quando (o Estado) era referência em termos de eficácia operacional. Foi o auge da parceria entre as polícias Civil e Militar. Atualmente, vejo que a integração aumentou muito especialmente entre a PM e o Ministério Público, principalmente no interior, o que é bastante otimista no combate ao crime organizado”, acrescentou.
Apenas neste mês, Minas Gerais teve ao menos dois casos graves na área de segurança pública: o primeiro foi em Varginha, no Sul, quando uma operação provocou a morte de 26 membros de uma quadrilha fortemente armada que planejava assaltar os bancos da cidade, na modalidade conhecida como ‘novo cangaço’. Esse tipo de crime costuma utilizar reféns e cercar toda uma região para viabilizar o roubo. A polícia ainda encontrou armas que conseguiriam destruir um avião.
Outro caso
Já em Ribeirão das Neves, na região metropolitana de Belo Horizonte, detentos do Presídio Inspetor José Martinho Drumond realizaram um motim e incendiaram colchões para manifestar insatisfação com a superlotação da unidade. As chamas se alastraram, e pelo menos 20 pessoas ficaram gravemente feridas.