“Ele rezava 'Ave Maria', enquanto me dava socos e batia minha cabeça no chão!” o relato forte de agressão é da mineira Caroline Paiva de Souza, de 26 anos. A jovem, que vive na Itália, foi agredida e teve o pescoço cortado com um pedaço de uma garrafa pelo ex-noivo,de 30 anos,  no começo de junho na cidade de Palermo. Ela ficou em coma e passou mais de um mês no centro de terapia intensiva (CTI) de um hospital Italiano.

O caso de Caroline é acompanhado pelo Itamaraty e pelo consulado brasileiro na Itália. O agressor foi preso em flagrante e aguarda o julgamento marcado para outubro. 

Em entrevista ao jornal O TEMPO mineira, que é de Alfenas no sul de Minas, contou que se mudou para o país europeu há dois anos para estudar psicologia e trabalhar como DJ. Segundo ela, conheceu o agressor que é italiano e no começo deste ano ficaram noivos. Os dois passaram a morar juntos em Perugia, cidade do centro da Itália, e planejavam se casar em dezembro. 

Ela, que ainda se recupera dos ferimentos causados pela agressão, contou que o ex-namorado até então não havia demonstrado nenhum indício de agressividade e sempre a tratou bem. No entanto, após uma viagem dos dois para a casa dos pais dele, na cidade Massala, no sul, o comportamento violento começou a aparecer. “Tudo começou nessa viagem. Descobri que o pai dele agredia a mãe e eram separados. Durante essa viagem ele e o pai brigaram de socos, ele tentou suicídio e eu já comecei a ficar assustada”, relatou. 

Quando chegaram de táxi em palermo (maior cidade da região e de onde voltariam para a casa), como contou Caroline, o ex-noivo começou dizer que estava nervoso e que precisava rezar. Segundo a mineira, ela pediu para que o táxi esperasse que ela o levaria em um Igreja que havia por perto, mas já voltavam para irem para o porto onde pegariam o barco de volta para Perugia.  

“Chegamos e a igreja estava fechada devido a Covid-19. Aí ele começou a ficar nervoso, rezar o pai nosso, ave maria, me arrastou para um estacionamento e começou a me enforcar. Tentou quebrar meu pescoço umas duas vezes. Eu consegui sair e perguntei porque ele estava fazendo aquilo. Ai ele me deu um soco na cara que me derrubou, mandou eu calar boca, subiu em cima de mim e começou a dar socos no meu rosto, bater minha cabeça no chão e enquanto fazia isso ele rezava. Foi até eu desmaiar”, relembra a mineira. 

Ela conta que foi colocada por ele debaixo de um trailer pois ele acreditou que ela estivesse morta. Imagens de câmeras de segurança do estacionamento mostraram ele cortando o pescoço dela com uma garrafa quebrada. 

“Ele imaginou que tivesse me matado e me arrastou para o trailer. Eu lembro de acordar totalmente sem força e sangrando muito. Consegui colocar a mão no pescoço e tampar o sangramento e me arrastar para conseguir ajuda”, contou. 

A mineira se arrastou até um canteiro de flores onde foi socorrida por um policial. “Só lembro de falar que foi meu namorado que tinha feito aquilo comigo e que tinha um táxi esperando por nós na rotatória. Depois desmaiei e fiquei em coma”, relata.

O homem voltou ao local onde o táxi os aguardavam e informou que Caroline havia o deixado e fugido, no entanto, ao ver a camiseta suja de sangue, o taxista desconfiou e acionou a polícia que já o procurava e o prendeu. 

30 dias no CTI

A mineira foi levada ao hospital e permaneceu no CTI por 30 dias. Ela conta que passou por uma cirurgia, transfusões de sangue e precisou ser reanimada três vezes devido a paradas cardíacas. Hoje, ela recebe a proteção da  polícia italiana e foi levada para uma casa de apoio à mulheres vítimas de violência doméstica. Ainda precisa ir ao hospital para realizar uma série de exames e continuar com o tratamento.  

Mesmo fragilizada fisicamente psicologicamente, a mineira desabafa e pede para que mulheres vítimas de violência tenham a coragem de denunciar. “No meu caso, precisou só de uma vez para eu quase morrer. Mas quantos mulheres passam por violência todos os dias. Quero dizer para todas elas terem coragem, darem um basta nisso. Nós mulheres precisamos lutar pelos nossos direitos. Somos mulheres, somos fortes, somos mães, somos amigas. Não merecemos violência alguma”, desabafa. 

Apoio

O Ministério das Relações Exteriores disse, por nota, que acompanha com atenção o caso da brasileira, por meio do Consulado-Geral do Brasil em Roma. O órgão disse que presta apoio consular legal e materialmente possível. A pasta, no entanto, informou que não pode fornecer nenhuma outra informação devido ao  direito à privacidade.

Na internet, amigos brasileiros de Caroline realizam uma vaquinha online para ajudar a mãe da mineira viajar para Itália e acompanhar a recuperação da filha.