No condomínio onde um porteiro foi vítima de injúria racial na véspera de Natal, no bairro Santa Maria, em Contagem, o sentimento entre os moradores em relação à vizinha que cometeu o crime é de revolta.

O conjunto habitacional tem 304 apartamentos e, segundo o síndico, Paulo Marcos Carneiro Gendiroba, de 45 anos, o porteiro Gilson Vitalino, de 43 anos, não merecia ter passado por isso. Na noite do dia 24, uma moradora o chamou de 'macaco', 'safado' e 'fedorento', fato presenciado por testemunhas.

“Quando eu cheguei na portaria, a situação dele, chorando, foi como se fosse com um membro da família. Logo em seguida, eu fiz o meu papel. Ele não queria chamar a atenção, fazer a ocorrência. Eu conversei com ele, os moradores chegaram e viram a situação dele e todo mundo levantou a bandeira em favor dele. Foi muito triste ver uma pessoa no estado que eu vi. A minha vizinha bateu na minha porta, me chamando para ir à portaria, para ver o que tinham feito com o Gilson. Isso não é brincadeira. Quando eu cheguei e vi a situação dele, não teve como virar as costas para isso”, disse o síndico.

Ainda de acordo com o síndico, o que entristeceu ainda mais as pessoas foi o fato de tudo acontecer numa noite de Natal.
“Ele (Gilson) estava muito feliz. Ele é muito querido aqui e ganhou muitos presentes. Estava doido para chegar em casa, encontrar a família. E faltavam 15 minutos para ele largar o plantão dele, para ir para casa. Eu não queria estar na pele dele para sentir o que ele sentiu”, lamentou o síndico.

O síndico conta que telefonou na manhã seguinte para o porteiro e também entrou em contato com a empresa responsável por ele, pedindo que desse folga ao porteiro nesta quinta-feira, plantão dele, mas Gilson insistiu que vai trabalhar normalmente.

O departamento jurídico da empresa também vai acompanhar o caso, segundo o síndico, lembrando que a vítima trabalha no condomínio há pouco mais de um ano. 

“Ele chegou meio acanhado, não conversava. Hoje, não. Ele conversa com todo mundo, é muito dedicado, daqueles que você chega com sacola e ele abre o portão. O que me assustou foi o tamanho de um homem daquele se derramando em lágrimas. Mexeu com a gente, mesmo. O psicológico da gente foi lá embaixo”, diz Paulo Marcos.

O eletrotécnico Jhuno de Paula Silva, de 29 anos, também mora no prédio e disse ter ficado chocado com a reação da vizinha. O morador explicou o motivo que gerou a discussão entre a vizinha e o porteiro.

“Na sexta-feira, teve um raio que queimou o nosso sistema de comunicação. E, com isso, dificultou um pouco o acesso das pessoas ao condomínio. E foi acertado que o Gilson e os demais porteiros pudessem recepcionar as pessoas e pedir que ligassem para cada morador, pedindo que liberasse a entrada. Com isso, Gilson foi falar com ela e aconteceu o que aconteceu. O Gilson não merecia passar por isso, não”, contou o morador.

A moradora suspeita de injúria racial não retornou para casa depois que pagou fiança e deixou a delegacia. A reportagem esteve no condomínio e telefonou diversas vezes para o número do celular dela, mas não conseguiu falar com a mesma.