Um toque de esperença

Mulheres curadas ainda na luta ao lado daquelas que têm câncer

Formada por três verdadeiras lutadoras, associação dá força para quem tem a doença e passa pelo difícil tratamento

Por Raquel Penaforte e Thalita Marinho
Publicado em 27 de outubro de 2018 | 03:00
 
 
 
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Se tem algo que o câncer de mama faz é mudar a vida das pessoas. Durante o mês de outubro, a série de reportagens “Um Toque de Esperança” ouviu histórias de mulheres que já passaram pela doença, outras que ainda estão lutando pela vida e também aquelas que acabaram de receber a notícia e se preparam para o que está por vir durante o tratamento.

Essas mulheres, de diferentes idades, hábitos e profissões, mostraram que a doença traz muito mais do que cicatrizes. Ela traz empatia. Muitas dessas pessoas transformaram a dor e o sofrimento em uma corrente de ações para ajudar quem precisa.

A associação Una – formada pelas amigas Raquel Rossi, 36, Emanuelle Duarte, 39, e Priscila Campos, 35, que já lutaram contra a doença – é um exemplo de como o câncer acarreta mudanças. Com o lema “Um novo amanhecer”, a Una oferece, por meio dessas mulheres, apoio àquelas que ainda não superaram a doença.

Desde a fundação do projeto, em junho de 2017, elas já têm 109 pacientes cadastradas, que já receberam ou recebem visitas domiciliares. “Temos outras 47 pacientes que recebem atendimento via telefone, mas que não têm o acompanhamento presencial porque moram em cidades da região metropolitana, o que dificulta nosso trabalho”, conta Raquel.

Ainda segundo a idealizadora do projeto, uma das maiores dificuldades encontradas pelo grupo de apoio é conseguir ajuda para oferecer às pacientes mais que suporte psicológico. “Sempre tentamos tirar a ideia de que o diagnóstico é uma sentença de morte. Mas encontramos outras dificuldades: muitas vezes, a paciente deixa de trabalhar para fazer o tratamento, e também há casos em que os maridos abandonam essas mulheres durante o tratamento, e elas precisam, mesmo doentes, se transformar no arrimo da família. Então, às vezes, é preciso ajudar de forma financeira, com alimentos, gás de cozinha ou mesmo pagando alguma conta”, explica.

Desapegar para ajudar. A queda do cabelo é um sinal visível dos efeitos colaterais do câncer e está diretamente ligada à autoestima da mulher. Foi por causa de uma promessa em 2015 que a advogada Bárbara de Faria, 32, que mesmo sem nunca ter tido a doença, decidiu cortar o cabelo e doar os fios para uma instituição que fabrica perucas para mulheres que passam pela doença. A aparência era uma preocupação dela, e amigos e familiares se surpreenderam quando ela deu a notícia de que cortaria o cabelo.

Hoje, quase três anos depois da primeira vez, a advogada conta que repetiu a atitude recentemente. “Tenho noção do quanto isso foi importante para outra pessoa. E o cabelo cresce, como o meu cresceu, mais forte e mais bonito. Faria essa doação outras vezes, com certeza”, conta Bárbara.

Segundo a proprietária da loja Soluções Capilares, Fernanda Tompa, um dos principais motivos para a mulher em tratamento oncológico se sentir tão fragilizada com a perda dos fios é a desconstrução da imagem, afetada pelos efeitos colaterais da doença. “A nossa autoimagem começa a ser formada ainda na infância e está profundamente ligada aos aspectos físicos, como também ao lado emocional e mental”, explica a empresária. “No caso das mulheres, então, que desde os tempos remotos da história da humanidade já eram cobradas por sua aparência física e já sofriam críticas quando não estavam dentro dos padrões, esse apego à aparência é bem mais acentuado. É uma condição que chega a ser opressora. Por isso a perda do cabelo dói. Mexe com a feminilidade”, acredita a empresária.

Doação. Uma alternativa ao cabelo raspado é o uso de turbantes, lenços, perucas e próteses. Em Belo Horizonte, o Lar Teresa de Jesus e os hospitais Mário Penna e da Baleia recebem cabelos e os transformam em perucas para mulheres em tratamento. 

Tecnologia no combate ao câncer de mama

Criado pela farmacêutica Renata Alcântara, o aplicativo Rosa, disponível gratuitamente nos sistemas iOS e Android, ajuda na prevenção e no controle do câncer, com lembretes sobre os horários de medicamentos e de exames. 

O aplicativo também armazena dados de consultas, ajuda a localizar locais que realizam exames e dá dicas de hábitos saudáveis.

“Outro diferencial do app Rosa é o fato de ele ter um software que conversa com a paciente e é capaz de conhecê-la à medida que o aplicativo é utilizado, criando, assim, uma personalização do cuidado da saúde”, explica Renata.

Tatuagens ajudam devolver a autoestima

Reconstruir a mama retirada por causa do câncer é um dos processos que podem ajudar a devolver a autoestima às pacientes. Durante o Outubro Rosa, o shopping Cidade, em BH, desenvolveu, em parceria com o estúdio Pietá Tattoo e o Hospital da Baleia, um projeto para tatuar, gratuitamente, mulheres que perderam os seios.

A primeira a ser contemplada com a ação foi a depiladora Marlene dos Santos, 50. Após três anos de tratamento, ela pôde reconstruir o mamilo, e isso devolveu a ela a autoestima e a vontade de viver. “Quando me olhei no espelho, não conseguia acreditar no que estava vendo. Foi muito importante poder me sentir como uma mulher outra vez”, afirma.

A ideia de oferecer a arte para mulheres em tratamento surgiu do tatuador Marcelo Ramos, de 47 anos. “O propósito era de resgatar a autoestima dessas mulheres que passaram por esse tratamento. Tem dado certo, e eu quero continuar fazendo isso mais vezes”, conta. 

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