Piedade dos Gerais. MG. Marilda Cleonice de Santana, 38, conta que tinha 12 anos quando viu, pela primeira vez, Nossa Senhora se materializar. A então adolescente – que estava com a irmã Juliana, 8, e a prima Iris, 10 – não entendeu nada e achou que se tratava de um fantasma. Entretanto, a aparição ocorre até hoje, aos sábados e domingos, e atrai romeiros de todas as partes do Brasil e do mundo a Piedade dos Gerais, na região Central do Estado, a 104 km de Belo Horizonte.


Marilda continua firme na missão de divulgar as mensagens da mãe de Jesus. A mulher criou uma comunidade, denominada Vale da Imaculada Conceição, com quase 300 pessoas vivendo a fé em Maria e trabalhando voluntariamente.
 

No vale, vive-se a essência franciscana da simplicidade e do desapego, e os principais valores são fraternidade e humildade. Não há dinheiro, e tudo é compartilhado. Cada morador se reveza na lida diária de cozinhar, lavar, jardinar, construir e manter o local.
 

Não há ambulantes nem vendedores, e todos que chegam ao vale recebem almoço preparado carinhosamente por voluntários, como a ex-moradora de rua Dinalva Rodrigues dos Santos; o escritor Ômar Souki; e admiradores do trabalho, como Nairdes Nascimento da Silva, 80, que há 19 anos, veio de São Paulo, com a família.
 

“O vale é simples, se sustenta da providência. Temos a Casa das Crianças, onde vivem 30 crianças e jovens encaminhados pelo Conselho Tutelar da comarca de Bonfim (na região). Eles crescem e fazem faculdade fora, mas, nos fins de semana, estão aqui, porque é onde construíram laços afetivos”, afirma Marilda. Ela conta que o vale também conta com a Casa Sagrada Família, que acolhe idosos, moradores de rua e pessoas com necessidades especiais.
 

A vidente tem consagrado sua vida às mensagens de Maria e ao vale. Questionada sobre a razão de ter sido escolhida para as visões, ela responde que ainda não teve essa resposta. “Procuro não ficar pensando se sou merecedora, mas viver intensamente o amor a Nossa Senhora, para valorizar a graça”, diz.
 

Preconceito. A vidente se diz discriminada pela Igreja. “Tenho amigos padres que vêm ao vale. Mas a paróquia não celebra missa aqui e não acredita nas aparições”, justifica.


Simples, Marilda não foge às perguntas. Ela diz que Nossa Senhora não deu a ela nada pronto. “Tive dúvidas, sofri, e as pessoas me cobravam uma vida religiosa. Fiz experiências em conventos, mas sabia que a minha vocação é ser mãe, evangelizar e estar perto das pessoas necessitadas. Sou feliz com minha missão e minha vida pessoal”, garante.
 

Proprietária de uma loja de artigos religiosos e também de uma papelaria, Marilda cursou administração de empresas e, em seguida, se especializou em ciências humanas. Ela é casada com o motorista de carreta Marciney e tem uma filha, Maria Clara, 3.