TRANSPORTE COLETIVO

Nova greve do metrô: especialista diz que BH vive ‘estagnação’

Para o professor Guilherme Leiva, transporte público da capital vive ‘instabilidade’ pela falta evolução do serviço. Segundo ele, paralisação de trabalhadores é válida

Por Gabriel Ronan
Publicado em 20 de março de 2022 | 17:20
 
 
 
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A partir desta segunda-feira (21/3), Belo Horizonte encara mais uma greve dos metroviários, capítulo que se repete ano após ano. Para o professor Guilherme Leiva, do Departamento de Engenharia de Transportes do Cefet-MG, o atual cenário do transporte público da cidade é de “estagnação”, o que traz uma permanente sensação de insegurança da população. 

“Estamos vivenciando uma situação muito específica, que traz para população uma insegurança. Para os usuários, além do aumento do preço do combustível, há uma redução da frota do número de veículos circulando e agora do metrô. Isso cria uma certa instabilidade em relação a utilizar o transporte coletivo. É uma percepção inevitável, que já vinha acontecendo com os riscos da pandemia”, afirma Leiva.

As viagens do metrô de Belo Horizonte acontecerão das 10h às 17h, em Belo Horizonte, a partir desta segunda-feira. Dessa maneira, o Sindicato dos Empregados em Transportes Metroviários e Conexos de Minas Gerais (Sindimetro-MG) optou por não seguir a decisão judicial que determina o funcionamento nos horários de pico: de 5h30 às 10h e das 16h30 às 20h.

Para Guilherme Leiva, do Cefet, o problema do transporte público de Belo Horizonte começa por um erro até mesmo no debate sobre o tema. Na avaliação dele, as discussões giram em torno do usuário e da empresa prestadora do serviço, sem considerar o trabalhador do setor.

“Quanto às paralisações (dos metroviários), a gente sempre pensa no órgão gestor e no usuário. É um momento de reflexão total. Incorporar nesse debate a questão do trabalhador, a saúde do trabalhador, porque ele também está sofrendo diretamente os efeitos econômicos (inflação em alta, perda do poder de compra da população, endividamento das famílias etc.). É uma coisa cíclica”, afirma o especialista do Cefet. 

De acordo com Robson Zeferino, diretor-jurídico do Sindimetro-MG, a categoria pretende lutar até o fim para evitar a demissão de 1,6 mil servidores após a privatização da Companhia Brasileira de Trens Urbanos (CBTU). “Não temos mais nada a perder já que daqui a 12 meses todo mundo estará demitido. Vamos esticar a corda ao máximo”.

Neste cenário, Zeferino pede compreensão da população. “Particularmente, eu lamento, pois vamos circular em um horário que não atende toda a população. Os usuários serão afetados, ainda mais que os ônibus já não estão circulando de forma plena”, comenta.

A não circulação dos trens nos horários definidos pela Justiça vai acarretar multa de R$ 30 mil por dia. “Pode parecer egoísmo, mas temos que defender o nosso emprego. Se não pensarmos em nós, como fica?”, pergunta.

CBTU se posiciona

Em nota, a CBTU informou que obteve decisão do Tribunal Regional do Trabalho que determinou o cumprimento de liminar deferida pelo desembargador Fernando Luiz Gonçalves Neto, em 30 de dezembro de 2021. Essa liminar ainda está em vigor e define o funcionamento da operação metroviária durante a greve, em escala mínima, das 5h30 às 10h e das 16h30 às 20h.

"A decisão ainda prevê 100% dos trens operando nos intervalos mencionados, o que garante a operação integral no horário de pico, bem como assegura os serviços de manutenção e segurança para atendimento da população, este último sem qualquer interrupção", informa a CBTU. "A liminar também determina a aplicação de multa diária de R$30.000,00 (trinta mil reais), em caso de descumprimento", completa.

Problema se estende aos ônibus

Nesta semana, O TEMPO mostrou que as concessionárias do transporte público por ônibus de Belo Horizonte venderam 417 veículos para diminuir prejuízos. Com menos coletivos nas ruas, quem sai prejudicada é a população. A redução do serviço aconteceu entre abril e dezembro de 2020, após a queda do faturamento por conta da pandemia. 

Antes da Covid-19, tínhamos 1,2 milhão de passageiros diariamente, e o número caiu para 900 mil. Tivemos que reduzir a frota quando se viu que a pandemia não seria resolvida rapidamente”, justificou Raul Leite, presidente do Sindicato das Empresas de Transporte de Passageiros de Belo Horizonte (SetraBH).

Para o professor Guilherme Leiva, do Departamento de Engenharia de Transportes do Cefet-MG, a população vê um “ciclo de estagnação” no transporte público da cidade sem a expansão do metrô nem melhorias nos ônibus. 

“Eu não tenho um serviço adequado, aqueles que trabalham diretamente não estão em condições adequadas e tudo isso vai refletir num serviço de má qualidade. E olha que o serviço que a gente presta é um dos melhores do País, mas a imagem foi muito desgastada, até das próprias empresas”, explica. 

Para Guilherme Leiva, o aspecto político que envolve a BHTrans também atrapalha a percepção que a população tem do transporte público. Esse desgaste vem desde as manifestações de 2013 e se estende na capital mineira diante das denúncias do ex-chefe de gabinete da Prefeitura de BH, Alberto Lage, contra Alexandre Kalil (PSD).

“Desde aquele período, a gente está num processo de estagnação e de desgaste da imagem do transporte coletivo. Isso culmina no surgimento do transporte por aplicativo”, diz o especialista. 

Diante desses problemas, a prefeitura já anunciou a extinção da BHTrans para criar a Superintendência de Mobilidade do Município (Sumob). O professor do Cefet vê essa mudança com preocupação. 

“A BHTrans, apesar de tudo que a gente está vivendo hoje, ela sempre foi uma empresa que foi referência no Brasil. A estrutura, hoje em dia, é de dar inveja a muitos órgãos de transporte pelo Brasil afora. A minha preocupação é sempre muito técnica. Essa capacidade técnica histórica que a BHTrans precisa ser mantida”, avalia Guilherme Leiva.

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