Outro lado

‘O que a PM diz não é a verdade’, diz familiar de jovem morto em vila de BH

Família de Pedro Henrique Costa, morto pelos militares na última sexta-feira, nega que ele estaria armado e rebate versão do boletim: ‘era só um adolescente’

Por Pedro Nascimento
Publicado em 20 de agosto de 2022 | 15:15
 
 
 
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Na porta da casa onde vivia Pedro Henrique Costa, familiares desolados se consolavam após a partida precoce do jovem, que morreu aos 15 anos vítima de disparos que partiram da arma de dois policiais militares que realizavam uma abordagem na Vila Embaúbas, na região Oeste de Belo Horizonte. Em unanimidade, todos rebateram a versão apresentada no boletim de ocorrência e desmentiram que o garoto poderia estar armado, segundo afirma a PM.

Enquanto a mãe do jovem estava no Instituto Médico Legal (IML) para liberar o corpo, a residência onde ele vivia com a família estava rodeada por parentes, vizinhos e amigos. Uma dessas pessoas era a professora Juliana Silva, de 42 anos, que se apresentou como ‘mãe de criação’ de Pedro.

“Aqui no bairro todos os jovens brincam na rua, ficam até tarde jogando bola no campinho, perto de onde ele foi morto, e ontem foi mais um dia desses. O Pedro não estava metido em coisa errada e não andava armado. Era só um adolescente como o filho de qualquer pessoa”, afirma.

Ao contrário do que alega a Polícia Militar, os parentes dizem que Pedro estava com um celular em mãos quando foi atingido pelos policiais. “Até a versão deles trás violência contra o Pedro. O que a PM diz não é a verdade”, desabafa Juliana, que descreve o jovem como um garoto esperto e amável. “Gostava de futebol, gostava do Galo, gostava de brincar na rua, esse era o Pedro”, finaliza.

Pedido de Justiça

Além de Juliana, outros parentes e vizinhos de Pedro que estavam na porta da casa onde vivia o jovem pedem que o caso seja apurado e que os militares envolvidos respondam pelo ato. “Só queremos Justiça. Para a Polícia Militar é muito fácil falar que agir em legítima defesa e atirou contra um jovem negro numa favela. Mas eu quero ver eles provarem isso, já que essa não é a verdade”, diz uma mulher que preferiu não se identificar.

A versão dos familiares de como o jovem morreu será apresentada após o enterro, que deve acontecer neste domingo (21).

O que diz a PM

Reafirmando o que foi registrado no boletim de ocorrência, a Polícia Militar de Minas Gerais informou, em nota, que o jovem estava armado e desobedeceu um comando de ordem. O caso está sendo apurado pela Polícia Civil. Confira abaixo a nota da corporação na integra:

"A Polícia Militar, por intermédio do 5⁰ Batalhão, esclarece que os militares foram empenhados pelo Centro de Operações do 190, para averiguar denúncia de tráfico de drogas, tendo o denunciante esclarecido que no local havia aproximadamente 5 individuos, dois deles armados. 

De imediato, os militares conhecendo o local de difícil acesso por possuir uma extensa escadaria e haver realmente informação de tráfico contumaz, planejaram a abordagem, dividindo a equipe para cercar todas a rotas de fuga. 

No deslocamento,  os militares foram surpreendidos pelo individuo armado, que apontou o revólver para atirar, tendo os  policiais verbalizado e determinado que largasse a arma e se rendesse, contudo, o indivíduo não acatou e os militares, diante da iminente agressão letal, se defenderam com arma de fogo, tendo os disparos atingido o suspeito, que foi socorrido de imediato. 

Foi arrecadada a arma de fogo usada pelo suspeito com 6 Munições, sendo que no hospital, durante atendimento, o enfermeiro J.M.C.J encontrou no bolso da bermuda que vestia o socorrido, mais cinco munições intactas. 

As providências de polícia Judiciária foram adotadas, estando as armas da corporação utilizadas na ocorrência acauteladas para perícia técnica"

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