Jogo de empurra

Obra para evitar alagamentos na avenida Tereza Cristina está parada

Construção de bacias de detenção no córrego Ferrugem, projetada há 11 anos, não tem previsão de ser concluída

Por Clarisse Souza
Publicado em 03 de dezembro de 2019 | 03:00
 
 
 
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A enchente que inundou a avenida Tereza Cristina, arrastou carros e até levou motoristas, na noite de anteontem, em Belo Horizonte, poderia ter sido evitada se o governo já tivesse concluído a obra, projetada há 11 anos, para a construção de bacias de detenção no leito do córrego Ferrugem – que nasce em Contagem, na região metropolitana, e deságua no ribeirão Arrudas, na Tereza Cristina. Responsável pela execução do empreendimento, o Estado alega não ter dinheiro e diz depender da União para dar continuidade às intervenções, que estão paradas e sem previsão de conclusão.

Durante o temporal do último domingo, “o nível do córrego Ferrugem subiu dois metros em menos de cinco minutos”, afirmou o subsecretário de Proteção e Defesa Civil de BH, coronel Waldir Figueiredo Vieira. Em pouco tempo, o volume de água impactou o ribeirão Arrudas, que transbordou e alagou a avenida Tereza Cristina. O protocolo de fechamento total da via foi acionado, mas, ainda assim, três veículos foram arrastados, e os motoristas precisaram ser resgatados.

Responsabilidade

A Secretaria Municipal de Obras e Infraestrutura informou que já concluiu quatro intervenções no curso do ribeirão Arrudas, mas alegou que, “para reduzir o risco de inundações na avenida Tereza Cristina, também é necessária a conclusão das intervenções no córrego Ferrugem, iniciadas pelo governo do Estado”.

Já a Secretaria de Estado de Infraestrutura e Mobilidade (Seinfra), por outro lado, argumenta que não tem recurso em caixa. A obra integra o PAC Ferrugem, projeto de 2008 que abrange mudanças no sistema viário, desapropriações e reassentamento de famílias em Contagem. “Os recursos federais não são suficientes para a execução da segunda etapa do empreendimento, que inclui a implantação de bacias de detenção de cheias”, informou o órgão.

Segundo a pasta, o investimento é de R$ 126,3 milhões, sendo R$ 61,8 milhões do Estado. No entanto, até o fechamento desta edição, a secretaria não havia esclarecido qual montante já foi repassado pelo Ministério do Desenvolvimento Regional.

Procurado na tarde de ontem, o Ministério de Desenvolvimento Regional informou que precisa de mais tempo para levantar os dados sobre a obra no córrego Ferrugem.

População cobra solução

A falta de uma solução definitiva para as enchentes revolta quem está cansado de testemunhar os alagamentos na avenida Tereza Cristina a cada temporal que atinge a região metropolitana. Segundo a Defesa Civil, em pouco mais de um mês, a via foi fechada quatro vezes por causa da ameaça de inundação.

Vizinha do ribeirão Arrudas, no bairro Vista Alegre, na região Oeste de BH, a pastora Marisa Nascimento, 69, cobra a conclusão de obras que ponham fim às enchentes. “A gente paga impostos, mas acontece uma coisa dessas. Estamos vivendo de promessas”, reclamou a moradora.

Voluntário no resgate de um homem que foi arrastado pela enxurrada anteontem, o empresário Mário Lúcio Silva, 55, acredita que o Arrudas só vai deixar de transbordar quando houver obras no córrego Ferrugem. “Isso não vai acabar nunca”, lamentou. (Com Mariana Nogueira)

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