A enchente que inundou a avenida Tereza Cristina, arrastou carros e até levou motoristas, na noite de anteontem, em Belo Horizonte, poderia ter sido evitada se o governo já tivesse concluído a obra, projetada há 11 anos, para a construção de bacias de detenção no leito do córrego Ferrugem – que nasce em Contagem, na região metropolitana, e deságua no ribeirão Arrudas, na Tereza Cristina. Responsável pela execução do empreendimento, o Estado alega não ter dinheiro e diz depender da União para dar continuidade às intervenções, que estão paradas e sem previsão de conclusão.
Durante o temporal do último domingo, “o nível do córrego Ferrugem subiu dois metros em menos de cinco minutos”, afirmou o subsecretário de Proteção e Defesa Civil de BH, coronel Waldir Figueiredo Vieira. Em pouco tempo, o volume de água impactou o ribeirão Arrudas, que transbordou e alagou a avenida Tereza Cristina. O protocolo de fechamento total da via foi acionado, mas, ainda assim, três veículos foram arrastados, e os motoristas precisaram ser resgatados.
Responsabilidade
A Secretaria Municipal de Obras e Infraestrutura informou que já concluiu quatro intervenções no curso do ribeirão Arrudas, mas alegou que, “para reduzir o risco de inundações na avenida Tereza Cristina, também é necessária a conclusão das intervenções no córrego Ferrugem, iniciadas pelo governo do Estado”.
Já a Secretaria de Estado de Infraestrutura e Mobilidade (Seinfra), por outro lado, argumenta que não tem recurso em caixa. A obra integra o PAC Ferrugem, projeto de 2008 que abrange mudanças no sistema viário, desapropriações e reassentamento de famílias em Contagem. “Os recursos federais não são suficientes para a execução da segunda etapa do empreendimento, que inclui a implantação de bacias de detenção de cheias”, informou o órgão.
Segundo a pasta, o investimento é de R$ 126,3 milhões, sendo R$ 61,8 milhões do Estado. No entanto, até o fechamento desta edição, a secretaria não havia esclarecido qual montante já foi repassado pelo Ministério do Desenvolvimento Regional.
Procurado na tarde de ontem, o Ministério de Desenvolvimento Regional informou que precisa de mais tempo para levantar os dados sobre a obra no córrego Ferrugem.
População cobra solução
A falta de uma solução definitiva para as enchentes revolta quem está cansado de testemunhar os alagamentos na avenida Tereza Cristina a cada temporal que atinge a região metropolitana. Segundo a Defesa Civil, em pouco mais de um mês, a via foi fechada quatro vezes por causa da ameaça de inundação.
Vizinha do ribeirão Arrudas, no bairro Vista Alegre, na região Oeste de BH, a pastora Marisa Nascimento, 69, cobra a conclusão de obras que ponham fim às enchentes. “A gente paga impostos, mas acontece uma coisa dessas. Estamos vivendo de promessas”, reclamou a moradora.
Voluntário no resgate de um homem que foi arrastado pela enxurrada anteontem, o empresário Mário Lúcio Silva, 55, acredita que o Arrudas só vai deixar de transbordar quando houver obras no córrego Ferrugem. “Isso não vai acabar nunca”, lamentou. (Com Mariana Nogueira)